Editorial

A solidariedade e a empatia

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

O pavor mundial em razão dos tristes fatos com o Covid-19 despertou em muitos a leitura para a obra “A Peste”, do escritor argelino Albert Camus, de 1947, que trata da solidariedade que a todos devemos, da liberdade de escolha e da responsabilidade sobre nossas escolhas.

Em sua obra, Camus conta a história de trabalhadores que descobrem a condição solidária de um por todos e todos por um em meio a uma peste que assola a cidade de Oranna Argelia. E mais: questiona diversos assuntos relacionados a natureza do destino e da condição humana. Os personagens do livro ajudam a mostrar os efeitos que o flagelo causa na sociedade.

No momento, poderíamos muito bem dizer que estamos no mesmo barco, vivendo uma situação de angústia, medo, insegurança diante da incerteza que esse terrível mal poderá causar ainda mais à humanidade. O mal pode nos levar à reflexão sobre a natureza do destino, da fragilidade da condição humana.

A cada hora, a cada instante, os veículos de comunicação em todo o mundo divulgam números espantosos desse flagelo que nos leva a permanente reflexão: a pandemia vai passar, vamos ter de lidar com as perdas, principalmente humanas, o que queremos para a nossa vida? Muitos são os questionamentos sobre a fragilidade do ser humano - derrubado por um vírus - e de continuarmos a viver em uma sociedade onde poucos têm tudo - e até o Covid-19 – e muitos têm tão pouco. O vírus não esconde cor, gênero e credo. Estamos impotente, pelo menos por enquanto, a um inimigo de vida microscópia.

Como diz o epidemiologista Roberto Medronho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, estamos vendo a ponta de um grande iceberg. Segundo estimativa do Centro para Modelagem Matemática de Doenças Infecciosas da London School of Tropical Medicine, do Reino Unido, que fez um cálculo da subnotificação da Covid-19 em vários países, o Brasil teria hoje mais de 15 mil casos do novo coronavírus – cerca de onze vezes mais do que os 1.891 registrados oficialmente. O levantamento mostra que no Brasil apenas 11% do total de casos foram diagnosticados. Isso acontece, segundo especialistas, porque a grande maioria (cerca de 80%) dos casos da infecção pelo novo coronavírus é assintomática ou apresenta sintomas muito leves e acaba não sendo diagnosticada.

Atualmente, no Brasil, apenas os casos mais graves, que chegam aos hospitais e são testados, estão recebendo o diagnóstico oficial. Dentre os casos que apresentam sintomas, apenas uma parte procura o sistema de saúde. Desses que vão ao hospital, apenas parte é diagnosticada como Covid-19 e outra parte pode receber um diagnóstico errado. E ainda tem casos que não são notificados oficialmente. O mesmo estudo mostra que na Itália, que enfrenta uma das piores epidemias, o percentual de casos diagnosticados corresponderia a apenas 4,6% do total real. Número parecido com o da Espanha, 5 3%. França e Bélgica têm percentuais similares ao do Brasil, respectivamente 9,2% e 12%.

Portanto, o momento é de atenção e prevenção contra o coronavírus. Ficar em casa e ter acesso a tanta informação tem deixado as pessoas ansiosas e pensando apenas no pior, mas vale lembrar que também há muita coisa boa acontecendo no meio da incerteza.

O que se tem visto pela imprensa é que moradores de condomínios têm se disponibilizado a ajudar vizinhos idosos ou de outros grupos de risco indo ao supermercado ou à farmácia, por exemplo. Alguns improvisam show, revelando o seu talento até então desconhecido pelos vizinhos. Bilhetinhos em elevadores ou no hall de prédios têm os nomes e contatos daqueles que estão dispostos a ajudar. Ainda bem que a solidariedade e a empatia estão aparecendo em tempos difíceis.


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