História

Epidemias que assolaram a população de São Luís ao longo dos séculos

Em tempo de prevenção ao coronavírus, O Estado faz resgate histórico acerca de doenças que já passaram por São Luís nos séculos XVII, XVIII, XIX e XX

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

[e-s001]Desde o período da Idade Média, o mundo é marcado por histórico de doenças que dizimaram cidades e populações inteiras de cidades. No período colonial, a partir do século XVI, as primeiras províncias nacionais – devido ao processo de união entre as populações silvícolas e a comunidade europeia descobridora das terras tupiniquins – também registraram enfermidades que, pelo desconhecimento e ausência de proteção imunológica, foram responsáveis por várias mortandades.

Em São Luís, com sua descoberta pelos franceses (de acordo com a historiografia mais aceita), as diversas tribos distribuídas pelos lotes ludovicenses passaram a ser acometidos por pestes trazidas pelos descendentes da França e, principalmente, de Portugal.

Ao longo dos séculos XVIII, XIX e XX, outras doenças foram sendo registradas na capital maranhense que, com o impulsionamento da população local e, principalmente, com as péssimas condições de higiene das ruas, avenidas e nulidade das políticas de saneamento básico, também estão atreladas a variados e numerosos óbitos.

Em tempo de temor da sociedade mundial com o coronavírus, O Estado faz um breve resgate histórico de algumas destas doenças e de como suas gestões públicas lidaram com cada um dos problemas epidemiológicos, em sua época.

Desde a varíola, conhecida também como “bexiga”, e seu impacto a outras doenças como febre tifóide, disenteria, peste bubônica e, principalmente, gripe espanhola (esta última que assolou boa parte da humanidade) as enfermidades trouxeram impacto nos números populacionais e na infraestrutura da cidade, já que, sem espaço físico, foi necessária a administração pública criar espaços “improvisados” como cemitérios, já que os então existentes registraram superlotação.

A doença que causou a fuga dos sãos: gripe espanhola em SL
No início do século XX, a Europa se viu assolada por uma epidemia de gripe. Era a gripe espanhola, cujo maior foco de casos se deu no país europeu (daí o nome) e que causou danos para o território de São Luís. Conforme cita Maria de Lourdes Lauande Lacroix, em sua brilhante obra intitulada “História da Medicina em São Luís”, no capítulo “Epidemias e Endemias”, afirma que um navio vindo da cidade inglesa de Liverpool, com escalas em Recife (PE), Salvador (BA) e Rio de Janeiro (RJ) trouxe para o Brasil a enfermidade.

Bastaram algumas semanas para que a doença se espalhasse para outras regiões do país. No século XX, a conhecida “gripe incomum” abalou a capital maranhense, “atacando famílias inteiras”. Vários casos fatais da enfermidade foram registrados na cidade, o que causou a migração das famílias para vilas mais distantes do centro de São Luís e outros territórios do Maranhão.

“Os casos fatais desolaram a população e alertaram para a saúde pública”, segundo Lacroix. De acordo com a pesquisadora, a cidade foi abandonada pelas famílias, que fugiram para os sítios da Maioba, Anil, Jordoa, São José de Ribamar e outros. O maior foco dos casos era voltado para pessoas de classes sociais menos favorecidas.

O vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM), Euges Lima, frisa que a doença assolou a cidade. “A gripe espanhola, há um pouco mais de 100 anos, foi uma pandemia terrível, causando incrível mortandade no mundo inteiro com seu veloz contágio e a forma como se alastrava. Em São Luís não foi diferente, causando pânico na população e o sentimento de impotência da classe”, afirmou.

LEIA TAMBÉM:

Entendendo outras epidemias e o impacto do atual coronavírus


Lacroix, lembrou da fuga em massa para o campo. “Os sãos fugiam da morte, se alojando em palhoças da beira da estrada”. Ainda conforme cita a professora, o escritor maranhense Josué Montello retratou o momento. De acordo com Montello, “passavam carros funerários carregados de corpos, levados passo a passo pela parelha fatigada e agitando na sombra circundante a lanterna vermelha”.

Os hospitais, à época, também registravam grande número de enfermos. Um deles era a Santa Casa de Misericórdia, específica para o atendimento dos doentes. Várias alas permaneceram lotadas.

[e-s001]A doença de bexigas que mexeu com a cidade: a varíola
Outra das enfermidades mais graves e marcantes registradas na cidade, ao longo dos séculos, também foi provocada – de acordo com especialistas – com a chegada de populações oriundas de outros países. Em 1666, novamente navios portugueses trouxeram a varíola para a capital maranhense, “alastrando-se pelo litoral até Belém”. Nestes locais, mais de 50% dos índios foram acometidos pela varíola, ou doença “das bexigas”.

Essa propagação ocorreu até meados dos séculos de XVIII. Inclusive, de acordo com a professora Maria de Lourdes Lauande Lacroix, a solução foi “isolar aos chamados bexigosos” em uma área atrás do Cemitério do Gavião. Somente em 1820, foi criada a chamada Repartição da Vacina, dirigida pela Direção do Hospital Militar.

Os métodos, até então, usados para a investigação diagnóstica eram de “baixa eficiência” e, somadas às condições ruins sanitárias da cidade à época, ou seja, entre os anos de 1800 e 1900, possibilitaram a propagação da doença.
Na segunda metade do século XIX, São Luís estava acometida pela varíola. O fato causou vários relatos em jornais da época e, ao mesmo tempo, gerou uma mobilização para a construção e mobilização de novos leitos e construção de hospitais. Ainda assim, as cenas de corpos carregados e deixados ao chão, sendo enterrados como indigentes eram comuns. As várias crises causadas pela varíola provocaram, inclusive, vários suicídios.

A varíola se arrastou por todo o século XIX, ainda de acordo com a obra “História da Medicina em São Luís”, e causou várias devastações, conforme citado pelos jornais da época. Estas e outras epidemias levaram, anos mais tarde, à população ludovicense a tomar providências e a entender melhor o que está acontecendo nos tempos de hoje, época de medo diante do coronavírus.

SAIBA MAIS

Sobre a gripe espanhola

A gripe espanhola (1918) há um pouco mais de cem anos, foi uma pandemia de efeito tenebroso, causando incrível mortandade no mundo inteiro com seu veloz contágio e a forma como se alastrava. Em São Luís não foi diferente e a enfermidade causou pânico na população e o sentimento de impotência da classe médica. Muitas famílias abandonaram a cidade, fugindo da doença, indo para os sítios, como Maioba, Anil, Jordoa e São José de Ribamar. O maior número de mortes foi na população mais pobre, devido as condições de vida e saúde mais precárias.

Fonte: Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão (IHGM)

Curiosidade: o presidente acometido!

Houve uma série de incertezas para aceitar que todos aqueles casos seriam consequências diretas da gripe espanhola. Por isso, o problema foi capilarizado de forma sem igual. Não existiu acepção de pessoas, inclusive porque um presidente da república foi vitimado por ele.
É o caso de Francisco de Paula Rodrigues Alves, presidente da República eleito em 1º de março de 1918 para ocupar o cargo pela segunda vez. Sua condecoração estava marcada para ocorrer em novembro, mas foi postergada em razão da contaminação sofrida pelo vírus do tipo Influenza A, da subcategoria H1N1 – da Gripe Espanhola.
Alves, infelizmente não sobreviveu para continuar sua carreira política.

Fonte: aventurasnahistoria.uol.com.br

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.