Pandemia

Economista avalia crise causada pelo novo coronavírus e petróleo

Segundo José Cursino Moreira, como hoje os mercados são integrados e os recursos das tecnologias de informação possibilitam mobilidade instantânea de recursos e comunicação em tempo real, o clima de pânico se instalou

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20
José Cursino diz que o mundo não vai acabar, mas que a crise ainda provocará muitos problemas
José Cursino diz que o mundo não vai acabar, mas que a crise ainda provocará muitos problemas (economista)

A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) está causando pânico em todo o mundo, alterando a vida de milhões de pessoas e impactando fortemente a economia, com quedas sucessivas e elevadas nas bolsas de valores, retração na produção. A Conferência da ONU para o Comércio e Desenvolvimento aponta que o mundo sofrerá um golpe de até US$ 2 trilhões, com um impacto de mais de US$ 220 bilhões aos países emergentes, se o surto de coronavírus não for parado.

Para piorar ainda mais esse cenário de instabilidade, Rússia e Arábia Saudita iniciam uma espécie de ‘guerra comercial’, gerando uma crise no setor de petróleo, que derrubou bolsas de valores em todo o mundo, o que lembra o tempo do chamado ‘choque do petróleo’, dos anos 70, mas com uma diferença fundamental em relação à atual situação: naquele período houve aumento de preço e hoje, fala-se em redução.

Ao se questionar o que houve então para os efeitos serem semelhantes nos dois casos, apesar de provocados por movimentos inteiramente opostos, o economista José Cursino Raposo Moreira observa que já havia um clima de instabilidade no ambiente econômico, decorrente da crise do novo coronavírus (Covid-19), que criou uma expectativa de queda na atividade econômica global. Então, tal pessimismo acabou potencializado pela crise no mercado do petróleo e também turbinou seus efeitos.

“Como hoje os mercados são altamente integrados e os recursos das tecnologias de informação possibilitam mobilidade instantânea de recursos e comunicação em tempo real, o clima de pânico se instalou imediatamente. Também, já de algum tempo, os juros globais se encontram em patamar próximo de zero, o que igualmente contribui para a instabilidade nos mercados. Tudo isso somado levou a uma reação defensiva e conservadora dos detentores da riqueza financeira, sob a forma de venda de ações e busca de refúgio nos títulos da dívida americana e no dólar”, explica o economista.

E como resultado dessa instabilidade, verificou-se quedas espetaculares nas Bolsas de Valores mundiais e desvalorização das moedas dos países diante da moeda americana. José Cursino assinala, no entanto, que embora as cifras de “perdas” de valores de cotações de ações de empresas alcancem a ordem do trilhão, a realidade das empresas, seus ativos tangíveis continuam os mesmos de antes.

“Então, o Mundo não se acabou, nem vai se acabar com mais esse solavanco global, embora ele provoque muitos problemas, sobretudo para os países em situações de desequilíbrios fiscais, monetários e cambiais, a exemplo do Brasil, que preenche os requisitos fiscais deste cenário. Também serve para tornar mais urgente a reconstrução da governança financeira global nestes novos tempos em que vivemos. Esta pode ser a grande oportunidade da ameaça atual”, analisa José Cursino.

Efeito contágio da incerteza na economia é um dos principais impactos causados pelo covid-19

Um dos principais impactos causados pela atual pandemia do novo coronavírus, que está presente em todos os continentes, fazendo milhões de vítimas e causando choques na economia, é uma espécie de "efeito contágio" da incerteza, afirma Rafael Leão, economista-chefe da Arazul Capital.

A pandemia tem colocado países inteiros em quarentena e restringido a circulação de pessoas e mercadorias. Assim, a tendência é de um desaquecimento das atividades no comércio, nos serviços, nos transportes. “O aumento da incerteza leva as empresas a postergarem decisões de investimentos, o que, por sua vez, tem impacto sobre o emprego e a renda”, avalia.

Ainda há uma série de perguntas sem respostas em torno da atual pandemia de covid-19, entre elas a possibilidade de que a piora nas condições financeiras provoque uma crise no crédito ou uma recessão em diversos países.

No Brasil, os impactos do coronavírus no mercado, orçamento público e tributos, entre outros, motivaram a criação, pelo Ministério da Economia, de um grupo de monitoramento, que anunciou como uma de suas primeiras medidas a antecipação para abril do pagamento de 50% do 13º salário do INSS.

Os empresários, por sua parte, tendem a manter os projetos na gaveta e os investidores, a procurar ativos considerados mais seguros em períodos de incerteza - muitos saem de mercados emergentes, como o Brasil, e migram para títulos da dívida pública americana e para o dólar.

O crédito, outra fonte de financiamento importante para as empresas, também é impactado pelo pânico no mercado financeiro.

Diante da indefinição e do aumento de risco, os juros futuros dispararam nos últimos dias.Por mais que a Selic esteja na mínima histórica, em 4,25%, os juros para a pessoa física e jurídica sofrem influência das taxas negociadas nos mercados futuros, explica a economista Solange Srour.

Além disso, os bancos têm uma tendência a serem mais cautelosos na concessão de crédito em momentos de incerteza como o atual - no qual, em um cenário mais pessimista, existe a possibilidade de que a redução no nível de atividade afete a capacidade de pagamento das empresas.

Nesse sentido, a situação é mais preocupante nos Estados Unidos, onde há um excesso de endividamento no setor privado, ressalta o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale.

Se diversas firmas têm optado pelo trabalho de casa - o home office -, há empresas que não têm como operar sem funcionários presenciais. Então, quando a doença obriga pessoas a ficar em casa, não é possível manter o nível de produção. É o que aconteceu com boa parte das fábricas chinesas, que ficaram praticamente paralisadas no primeiro momento do surto de coronavírus.

Ao mesmo tempo em que aponta para dificuldades produtivas e uma redução da demanda, o momento não inspira confiança para os investidores arriscarem seu dinheiro. A queda do consumo também leva a uma diminuição das receitas, e muitas empresas podem optar por reduzir atividades, ou até fechar as portas.

A falta de dinheiro entrando pode levar a cortes de funcionários para conseguir manter o negócio aberto. Com a crise instalada e visível, as pessoas podem se resguardar na hora de gastar dinheiro, optando por poupar em vez de comprar, se preparando para cenários pessimistas em que também perdem seus empregos. O efeito negativo pode ser amplificado conforme o consumo cai e as empresas reduzem suas atividades.

Outra preocupação com relação às empresas no cenário pandêmico é o nível de endividamento. A queda das receitas coloca em xeque a capacidade das firmas de pagar e contrair novas dívidas - mesmo em um cenário de juros baixos. Isso significa que as empresas têm um risco maior de quebrar ou ter sua saúde financeira seriamente afetada. Se elas não pagarem suas dívidas, o impacto pode chegar até os bancos, desencadeando efeitos negativos sobre o sistema financeiro.

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