Os choques elétricos ocorrem em muitas circunstâncias. Na maioria dos casos, os efeitos são fatais, uma vez que provocam parada cardiorrespiratória nas vítimas das descargas. Isso significa que o coração para de bater devido à intensidade da corrente no corpo. No ano passado, segundo o Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica 2020, produzido pela Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade (Abracopel), 24 pessoas morreram nessas situações no Maranhão.

De acordo com o anuário da Abracopel, com as 24 mortes, o estado ocupou a quinta colocação no ranking das unidades federativas do Nordeste com relação aos óbitos por choques elétricos no ano passado. Em primeiro lugar ficou a Bahia, com 83 óbitos. Na sequência, aparecem Pernambuco, com 50; Ceará, com 44, e Piauí, com 34. Depois do estado maranhense, vêm Paraíba, que registrou 22 casos, Alagoas, com 18, Rio Grande do Norte, com 10, e Sergipe, com 2.

De acordo com a Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade, foram 287 mortes decorrentes de descargas elétricas na região Nordeste em 2019.

Incêndios por sobrecarga
Outro dado da Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade se refere aos incêndios por sobrecarga de energia elétrica e posterior curto-circuito. No Maranhão, ocorreram cinco casos, com registro de duas mortes.
Com relação à quantidade de situações, o estado perdeu, no que tange o Nordeste, para Alagoas, Piauí, Bahia, Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. Respectivamente, foram registradas nessas unidades federativas 40, 32, 28, 26, 15, 14 e 6 ocorrências.

Com relação ao número de mortes, o Maranhão ficou atrás de Alagoas, com 5, e Pernambuco, com 3, de acordo com o Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica 2020.

Casos no Maranhão
Dentre os 24 casos ocorridos no Maranhão que foram citados pelo Anuário Estatístico de Acidentes de Origem Elétrica 2020, um aconteceu em novembro do ano passado, na cidade de Santa Inês. Na ocasião, um homem identificado como José Rinaldo Silva Barros, de 38 anos, morreu ao receber uma descarga elétrica no momento em que fazia a manutenção da parte elétrica de uma loja localizada na região central do município.

Durante o resgate, bombeiros militares tiveram que cortar parte da cerca elétrica para alcançar o teto da loja. As equipes encontraram a vítima desacordada. Os profissionais ainda tentaram reanimar José por aproximadamente 20 minutos, mas o homem não apresentou nenhuma reação e sua morte foi confirmada. O tenente Halym disse, no momento do resgate do corpo, que Rinaldo sofreu uma parada cardiorrespiratória.

Os bombeiros militares verificaram que José Rinaldo não utilizava nenhum equipamento de proteção pessoal quando fazia a manutenção da eletricidade da loja. Em abril de 2019, ocorreu um caso em São Domingos do Azeitão, no sul do Maranhão. Um caminhoneiro, de nome Alexsandro da Silva, 43, natural de Bezerro (Paraíba), retornava em seu veículo boiadeiro que transportava gado da cidade de Imperatriz/MA, quando, por volta das 4h, parou no pátio de um posto de combustível, para descansar um pouco da viagem.

Antes de iniciar o descanso, ele, após estacionar o caminhão, subiu na carga, para saber se estava tudo bem com o gado. Nesse instante, sofreu uma descarga elétrica mortal, pois encostou em um fio de alta-tensão que estava em cima do veículo. Uma ambulância da Prefeitura de São Domingos do Azeitão ainda compareceu ao local, depois de acionada pelos frentistas, mas os profissionais nada puderam fazer para salvar a vítima.

Outra situação ocorreu na cidade de Aldeias Altas, que fica na Região dos Cocais, em setembro de 2019. Francisco dos Santos de Mendonça, 23, morreu ao levar um choque elétrico no dia 29, durante o turno matutino, na zona rural do município. O fato aconteceu por volta das 8h30, no Povoado Taboca Matão. O jovem e mais três pessoas decidiram consertar uma antena parabólica, momento em que todos encostaram em uma rede de alta-tensão e receberam a descarga.

As quatro pessoas caíram no chão. Dentre elas, apenas Francisco dos Santos não se levantou. Ele foi colocado em um carro particular e levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em Caxias, mas o rapaz deu entrada já sem vida.

Mortes em 2020
Mal começou 2020 e já foram registradas mortes por choque elétrico no Maranhão. Um dos casos, que está sendo investigado pela Superintendência Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP), ocorreu na madrugada do dia 24 de fevereiro, na região central de São Luís. A vítima foi identificada como Maria de Fátima Boaes Pinheiro, de 56 anos. Ela não resistiu quando urinava e levou uma descarga elétrica. Devido ao óbito, um vigia, que não teve o nome revelado, foi preso em flagrante.

De acordo com informações do Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops), o vigia fez uma ligação elétrica ilegal em um prédio localizado na Rua Parque 15 de Novembro, fora do circuito de Carnaval da Beira-Mar. A edificação, da Junta Comercial, está passando por uma reforma, que é liderada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan/MA). O órgão contratou uma empresa privada para as obras.

Conforme o Ciops, o vigia trabalha para essa empresa. Ele eletrificou ilegalmente o portão do prédio e também o tapume da obra, que são de zinco, material condutor de corrente elétrica. No momento em que foi preso, o suspeito apresentava sinais de embriaguez alcoólica. Aos policiais, o abordado admitiu que fez a ligação ilegal. A vítima se abaixou para urinar em frente ao prédio reformado, quando, ao encostar no portão, foi atingida pelo choque elétrico, segundo o Ciops. Equipes do Corpo de Bombeiros Militar (CBMMA) e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), depois de acionados, seguiram ao local, mas nada puderam fazer, pois a mulher já estava morta.

O corpo, depois de periciado pelo Instituto de Criminalística de São Luís (Icrim/São Luís), foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML). Outra situação aconteceu também na capital maranhense, no dia 2 de janeiro, quando uma mulher foi encontrada morta em sua residência, localizada na Avenida Paraíso, bairro Santa Efigênia. Rozenilde de Jesus Pereira Ribeiro, 29, estava no quintal do imóvel, nas proximidades de uma máquina de lavar roupas. Segundo o Centro Integrado de Operações de Segurança, ela não resistiu após receber uma descarga elétrica depois de sofrer um ataque cardíaco.

Conforme o Ciops apurou com a guarnição do 6º Batalhão de Polícia Militar (BPM) que esteve no local da morte, a dona de casa teria sofrido o choque elétrico ao tentar se apoiar na máquina quando infartava. Devido à descarga, o braço direito dela ficou queimado. No momento do fato, não havia mais ninguém na casa. O neto da vítima, de 6 anos, apareceu pouco depois na residência e chamou os vizinhos ao ver o corpo da avó no quintal.

Mortes no interior
No dia 30 de março de 2016, três meninos com 6, 8 e 11 anos morreram vítimas de descarga elétrica, no município de Bacabal, distante 240 km de São Luís. Segundo informações da Polícia Civil, as crianças brincavam tentando atravessar um terreno para colher alpiste e alimentar passarinhos, quando foram eletrocutadas pela cerca elétrica, que também tinha arame farpado.

Duas crianças morreram no terreno, situado na Vila das Almas. A terceira morreu a caminho do Pronto Socorro Municipal. O garoto de 6 anos era filho de um casal acusado de tráfico de drogas na área. O pai, identificado como "Deri", se encontra preso na Unidade Prisional de Ressocialização, no povoado Piratininga. A mãe, Ildeane (Deane) Brito Sousa, 23 anos, foi detida durante a Semana Santa por uma guarnição da Polícia Militar.

Em agosto de 2018, ocorreu outra situação, na cidade de Araioses, em um criadouro de peixes. No local, morreram dois garotos de 13 anos, que foram eletrocutados na tarde daquele dia, por volta das 15h30. Francisco das Chagas Bandeira da Costa e Luís Felipe Alves de Sousa encostaram na cerca de arame farpado, que estava energizada, sendo que outro garoto sobreviveu ao choque.

Os três garotos, segundo apurado pela Delegacia de Polícia Civil de Araioses, saíram de suas casas, no bairro Nova Conceição, naquela cidade, para coletar castanhas em um cajueiro em outro local. Depois, retornaram para as residências, onde deixaram as castanhas. Porém, voltaram e passaram pelo viveiro de peixes, para apanhar talos de palmeiras, que seriam utilizados para a construção de gaiolas.

Quando entraram em um trecho para lavar os pés sujos de lama, ao lado de uma ponte, receberam a descarga elétrica, logo após tocarem na cerca para se equilibrarem. Luís Gabriel, que sobreviveu, disse que, ao encostarem na cerca, não pegaram o choque de imediato, sendo que o dono da propriedade teria ligado a energia após ver os adolescentes no local. O rapaz, inclusive, alegou que correu e pediu para que o proprietário, Antonio Benício, desligasse o material, mas os outros dois já estavam mortos.

Antonio teria colocado a armadilha para coibir furtos de peixes e frutas de sua propriedade, segundo o delegado Raphael Reis, então de Araioses.

Instalações elétricas
De acordo com o engenheiro eletricista Fábio Amaral, dentre os maiores motivos para a causa de choques elétricos fatais está a má qualidade das instalações elétricas e a falta de conscientização da população sobre os riscos iminentes que a rede elétrica pode causar, ainda mais quando o cidadão realiza manutenção de forma amadora, fato comum nos bairros da região metropolitana de São Luís. Aquele morador “quebra-galho” sempre é convocado para resolver alguma situação de queda de energia nas casas.

“Mesmo em pleno século XXI, ainda vemos muitas instalações elétricas feitas de maneira amadora e com baixíssima qualidade. Aqui no Brasil. tem muito ‘eletricista de internet’, achando que pode dar um ‘jeitinho’ em tudo e não se dá conta do tamanho do perigo”, declarou Fábio Amaral. Segundo o engenheiro eletricista, a maioria dos acidentes ocorrem em residências, que abrangem casas, sítios, apartamentos e fazendas. Ele explicou que uma das maneiras mais simples para solucionar o problema é instalar um Dispositivo Residual (DR) nos quadros elétricos, o que vai interrompera corrente elétrica quando existe alguma anomalia no sistema.

Essas anomalias podem ser causadas por um curto-circuito, defeito interno ou quando uma criança coloca um brinquedo metálico na tomada. “Apesar do DR ser exigido por lei desde 2012, apenas 20% das residências no Brasil possuem esse dispositivo”, frisou o especialista. O engenheiro eletricista também recomenda que nenhum equipamento eletrônico deve ser manuseado com a pessoa descalça. O ideal é utilizar um calçado, para evitar que o corpo funcione como condutor durante uma descarga elétrica.

“Nunca encoste no chuveiro quando este estiver ligado, nem fale ao celular quando o mesmo estiver carregando. Tudo passa por uma boa conscientização. Não se pode brincar com eletricidade, e os números mostram o quanto isso pode ser fatal”, salientou Fábio Amaral. Ele advertiu que o morador deve ser manter os aparelhos elétricos longe de pias ou qualquer fonte de água, uma vez que isso pode gerar um curto-circuito. Ademais, em caso de tempestade, o ideal é se afastar de objetos eletrônicos, pois raios podem gerar picos de energia, o que possibilita que os aparelhos funcionem como condutores de descargas.

RANKING
Mortes por choques elétricos no Nordeste
Bahia – 83
Pernambuco – 50
Ceará – 44
Piauí – 34
Maranhão – 24
Paraíba – 22
Alagoas – 18
Rio Grande do Norte – 10
Sergipe – 2
Casos de incêndios por sobrecarga de energia
Alagoas – 40
Piauí – 32
Bahia – 28
Pernambuco – 26
Paraíba – 15
Ceará – 14
Rio Grande do Norte – 6
Maranhão – 5
Sergipe - 4

FIQUE ATENTO
Saber o que fazer em caso de choque elétrico é muito importante pois, além de ajudar a evitar consequências para a vítima, como queimaduras graves ou parada cardíaca, também ajuda a proteger a pessoa que faz o salvamento contra os perigos da energia elétrica.
Nestes casos, os primeiros socorros são:
1. Corte ou desligue a fonte de energia, mas não toque na vítima;
2. Afaste a pessoa da fonte elétrica que estava provocando o choque, usando materiais não condutores e secos como a madeira, o plástico, panos grossos ou borracha;
3. Chame uma ambulância, ligando para o 192;
4. Observe se a pessoa está consciente e respirando; Se estiver consciente: acalme a vítima até a chegada da equipe médica; Se estiver inconsciente, mas respirando: deite-a de lado, colocando-a em posição lateral de segurança;Se estiver inconsciente e não respirando: inicie a massagem cardíaca e a respiração boca-a-boca;
5. Continue fazendo o passo anterior até a chegada da ajuda médica. As chances de salvamento da vítima eletrocutada diminuem com do tempo e a partir do 4º minuto de ter recebido o choque elétrico as chances de sobrevivência são inferiores a 50%. Dessa forma, estes primeiros socorros devem ser iniciados o mais rapidamente possível, especialmente o primeiro passo, para evitar que a corrente elétrica faça muitos danos no organismo e resulte em complicações graves.

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