Temporal

Chuvas intensas e maré alta causam destruição e desabrigam famílias

Na região do São Francisco e Vila Palmeira, famílias perderam móveis e eletrodomésticos; na Avenida Litorânea, o calçadão cedeu quando chovia; prédio desabou na Península da Ponta d'Areia e asfalto rompeu na BR-222

Nelson Melo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h20

[e-s001]As chuvas intensas que atingiram a Região Metropolitana de São Luís, durante a segunda-feira, 9, causaram diversos estragos. Na Portelinha, que fica no bairro São Francisco, ao lado da Ilhinha, em São Luís, famílias ficaram desabrigadas. Essa situação também foi registrada na Vila Palmeira. No entanto, a maré alta também contribuiu para esses problemas, uma vez que esses locais ficam em trechos com presença de palafitas. O calçadão da Avenida Litorânea desabou em um ponto.

Como acompanhou O Estado, a Portelinha se transformou em um “rio” na noite de segunda-feira, quando a maré avançou sobre as casas erguidas na Travessa Rio Anil, às margens da Avenida Ferreira Gullar. Os moradores disseram que a situação atingiu seu pico por volta das 18h30. A partir daquele instante, ficou impossível caminhar ou sair de casa, devido à presença da água lamacenta, que alcançou a altura da cintura das pessoas.

Segundo Cláudio Castro, que reside no local há mais de 10 anos, desde a fundação da Portelinha, foi a primeira vez que a maré invadiu com ímpeto as casas da região. Todos os 16 becos localizados na área sofreram destruição parcial, não apenas por causa da mudança do nível da água do mar, mas também, pela forte chuva. “Eu perdi praticamente tudo. Minhas duas televisões, o freezer, enfim, não consegui salvar nada. É um prejuízo muito grande”, declarou o morador.

Ele contou que perdeu, também, uma bomba que havia comprado recentemente no valor de R$ 300,00. Na casa, Cláudio Castro mora com a esposa, Maria Edileuza, duas filhas e uma neta de 3 anos. A vizinha, Edinaleia Ribeiro, igualmente, teve grande prejuízo. Ela conseguiu salvar apenas um freezer quando a maré e a chuva invadiram a casa. Por outro lado, o guarda-roupa, a cama e o fogão, por exemplo, ficaram totalmente danificados.
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“Eu moro aqui com meu marido, Sandro Fernando, que trabalha na construção civil. Só ele trabalha. Eu não sei o que fazer, sinceramente. Na hora do sufoco, fiquei desesperada. A água tomou conta de tudo aqui”, comentou. A moradora Simone Pinheiro Viana, casada com Roberval de Jesus Amorim Viana, perto de lá, teve de cortar metade da estante, pois a outra parte ficou danificada em virtude do problema que afetou a região da Portelinha.

“Eu coloquei o sofá em cima de tijolos, para ver se ainda prestava. Eu moro aqui há 12 anos. Nunca tinha passado por isso. É triste”, desabafou. Os moradores que tiveram suas casas destruídas pelos fenômenos naturais estão abrigadas, provisoriamente, na Unidade de Ensino Básico (UEB) Criança Feliz, que fica às margens da Avenida Ferreira Gullar, no São Francisco.

Calçadão destruído
A forte chuva e a maré alta também causaram estragos na Avenida Litorânea, na capital maranhense, ao lado da base dos Guarda-Vidas, onde há uma estação de treino para calistenia. O calçadão cedeu e por pouco não levou junto dois quiosques, que estão à beira da estrutura que desabou. O episódio foi registrado por volta das 19h, do dia 9, de acordo com relatos de pessoas que trabalham naquele trecho.

A O Estado, Ivanilde Viana Lima, proprietária de um quiosque, disse que recebeu um telefonema sobre o desmoronamento do calçadão, e retornou ao local debaixo de chuva. “Eu voltei imediatamente, de tanta preocupação. Estava desesperada. Isso daqui é o meu ganha-pão. Quando cheguei, encontrei esses escombros aí. Vou tentar amenizar a situação colocando areia”, expressou.

Para ela, que tem sua tenda há mais de 20 anos no local, o que contribui para essa situação é a falta de manutenção do calçadão, que é responsabilidade dos órgãos públicos. Outro quiosque também está em área de risco de desabamento. O proprietário, Manoel dos Santos Gomes, disse que um dos pilares de madeira do estabelecimento se rompeu com a força da maré. “Eu estou aqui desde 2000. Foi a primeira vez que tive um prejuízo assim”, frisou.
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Outros estragos
A chuva forte resultou no desabamento de um prédio abandonado na Península da Ponta d’Areia, em São Luís. No momento do desmoronamento, o barulho deixou os moradores próximos assustados. O Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão (CBMMA) esteve nos escombros, para averiguar a gravidade da ocorrência. A área que contém os restos do imóvel foi isolada com fita zebrada, para que ninguém adentre, devido ao risco.

Na Rua São José, conhecida como Divineia, na Vila Palmeira, a maré avançou sobre casas, deixando alguns moradores desabrigados, pois a água levou eletrodomésticos e móveis. No Conjunto Maiobão, em Paço do Lumiar, o prejuízo foi causado pela chuva, que arrastou carros e motocicletas. Moradores registraram o momento em que a água, que descia uma via em correnteza, levava os veículos, apesar dos esforços de algumas pessoas que os automóveis fossem empurrados.
Outros pontos ficaram alagados, como a MA-201 (Estrada de Ribamar), nas proximidades de um shopping center. Muitos condutores abandonaram seus veículos, pois a altura da água os assustou.

[e-s001]Situação em Imperatriz
A chuva causou prejuízos, ainda, na cidade de Imperatriz, no sudoeste do Maranhão. Pelo menos 25 famílias ficaram desabrigadas. De acordo com informações da Defesa Civil, a maioria das pessoas teve a casa alagada no bairro Parque Alvorada 1, que é cortado pelo Riacho Cacau. Esse curso d’água sempre transborda em época de temporal. Em virtude da situação, a energia elétrica foi cortada, pois havia o risco de descarga, ainda mais com as residências inundadas.

A água da chuva invadiu várias casas da região, não apenas do Parque Alvorada 1. Carros e motos foram arrastados.
Rompimento de rodovia

Na BR-222, mais precisamente, no km 473, entre as cidades de Santa Luzia e Buriticupu, o asfalto cedeu, nessa segunda-feira, devido a um bueiro na pista, nas proximidades do povoado Ferro Velho. Uma equipe da Polícia Rodoviária Federal (PRF), da Unidade Operacional (UOP) de Santa Inês, compareceu ao local. O trecho ficou parcialmente obstruído. Membros da comunidade improvisaram um reparo no local, por onde passaram motocicletas e veículos de passeio, exceto ônibus e caminhão.
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O trecho foi liberado somente no início da tarde dessa terça-feira, 10, por volta das 12h20, após ter sido cortado no início da noite anterior. A liberação nos dois sentidos da rodovia aconteceu após intervenção do Departamento Nacional de Infraestrutura (Dnit/MA), que enviou equipes ao local, além de máquinas e equipamentos.

Temporada de chuvas rigorosas começa no Maranhão

Com as chuvas que atingiram a Grande São Luís e parte do Maranhão na terça-feira, 9, já choveu 50% do esperado para todo o mês de março, cuja média esperada é de 428 milímetros (mm), conforme o Laboratório de Meteorologia da Universidade Estadual do Maranhão (Uema). Desde janeiro, o índice de chuvas está acima do normal, o que já era esperado.

Desde janeiro as chuvas estão acima do normal, porém, este fenômeno já era esperado para este ano. Em janeiro deste ano choveu 481,2 mm, em fevereiro, 342,8 mm, e em março, até agora, 334,4 mm. No cálculo pluvial, cada milímetro de chuva corresponde a um litro de água por metro quadrado.

O fenômeno das chuvas intensas é comum nesta época do ano. Isso acontece porque as correntes de ar que vem do mar se encontram e formam as “cumulus nimbus”, nuvens que causam tempestades. Porém, mesmo sendo um acontecimento considerado normal, como o volume de água está maior, foi acionado alerta para todo o Maranhão, que se manteve nesta terça-feira, 10.

De acordo com um dos pesquisadores do Laboratório de Meteorologia, Hallan David, neste mês também se intensifica a incidência de raios e as tempestades com ventos fortes, que também são causadas pela nebulosidade que ocorre devido ao encontro das correntes de ventos no litoral norte e sudeste do país. O Maranhão é um dos estados com grande incidência de raios.

Danos
Na segunda-feira, 9, chuvas fortes atingiram vários municípios maranhenses causando estragos e transtornos. Na capital, houve alagamento em avenidas e bairros. A chuva alagou lojas e comprometeu mercadorias no Mercado Central.

“Ontem encheu tudo, a água entrou em algumas lojas e em outras, ficou na porta. Para nós, é muito ruim, é difícil o acesso e os clientes não tem como chegar. Já chegou a entrar água na loja e eu perdi muita mercadoria” frisou a comerciante Neide Novas.

Apesar dos vários danos estruturais na capital, os municípios do sul do Maranhão são os mais atingidos, devido à quantidade de rios que enchem e invadem as casas de famílias ribeirinhas.

Chuvas intensas e maré alta causam destruição e desabrigam famílias

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