Violência

Grande Ilha tem registro de 52 assassinatos em dois meses do ano

Os números compreendem os meses de janeiro e fevereiro. Nesse período, ocorreu apenas um latrocínio, que teve como vítima um italiano

Nelson Melo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
José William e Bruna Lícia foarm mortos por policial militar
José William e Bruna Lícia foarm mortos por policial militar (ASSASSINATOS ILHA )

A violência no Maranhão continua tirando a vida de muitas pessoas. Na região metropolitana de São Luís, a situação não é diferente do interior. Em 2020, já foram registrados 52 Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI), termo criado pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp). Desse total, 48 se referem aos homicídios dolosos, que ocorrem quando existe a intenção de matar ou o sujeito assume o risco de fazê-lo. As armas de fogo continuam predominando como instrumento para esses assassinatos.

Em janeiro, foram registrados 30 assassinatos na região metropolitana de São Luís, segundo o portal da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão (SSP/MA), a partir de dados obtidos junto ao Instituto Médico Legal (IML), Centro Integrado de Operações de Segurança (Ciops) e Superintendência Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP). Dentre os casos, 28 são os dolosos e 2 são concernentes a confrontos com as forças policiais.

Duplo homicídio

A situação que ganhou destaque até na imprensa nacional ocorreu na Vila Vicente Fialho, no dia 25. Naquele local, o policial militar Carlos Eduardo Nunes Pereira matou José Willian Dos Santos Silva, de 24 anos, e Bruna Licia Fonseca Pereira, 23, no Condomínio Pacífico 1. Nos laudos dos peritos criminais, ficou comprovado que houve uma luta corporal entre o PM e as vítimas antes do assassinato.
Só que, segundo a polícia, a agressão partiu do autor e não do casal. A
delegada titular do Departamento de Feminicídio, da SHPP, Viviane Fontenele, disse que o
crime pode ser caracterizado como um assassinato no contexto de violência de gênero.

Bruna, que já estava separada do policial, e José William foram mortos com disparos de arma de fogo, que saíram da pistola .40 de Carlos Eduardo. As vítimas foram flagradas em ato sexual. Segundo os peritos criminais, a cena do crime foi alterada. O militar foi indiciado por homicídio com qualificadora de feminicídio, fato introduzido no Artigo 121 do Código Penal Brasileiro (CPB) em 2015, a partir da Lei 13.104, por circunstâncias específicas, isto é, por razões de gênero, discriminação por ser mulher ou menosprezo à sua condição.

Outras mortes

Em janeiro, outras mortes também repercutiram na Grande Ilha. No dia 27, mataram um idoso de 69 anos, identificado como Américo Mendes Sampaio. O crime aconteceu no bairro Alemanha, perto das 22h. Ele foi encontrado sem vida na Avenida dos Franceses, com perfurações típicas de arma branca nas costas e pescoço. Os autores do assassinato continuam sendo procurados pela polícia.

Também no dia 27 de janeiro, quase no mesmo horário, foi morto Marcos Mateus de A. Melo, 20, no Jardim São Cristóvão, após uma operação da Polícia Militar quando esta perseguia criminosos. De acordo com relatos de familiares do rapaz, ele chegou a suspender os braços e pedir para não ser baleado pela guarnição. Amigos da vítima afirmaram que o jovem também disse aos militares que não era bandido, mas, mesmo assim, foi alvejado na porta da residência onde vivia.

Durante o velório da vítima, parentes e amigos fizeram um protesto com cartazes pedindo a punição ao militar que atirou mortalmente em Marcos Matheus. Segundo o delegado Lúcio Rogério Reis, titular da SHPP, o rapaz não tinha passagem pela polícia. Foi informado que não havia indícios de que ele tinha ligação com a operação policial, que começou no bairro do Anil e terminou com a morte do jovem.

Outro caso ocorreu no dia 30, logo nas primeiras horas, na Santa Efigênia. Uma mulher identificada como Francisca Doralice da Silva, de 48 anos, foi assassinada por “outros meios”. De acordo com a SHPP, a vítima, que era empregada doméstica, foi morta asfixiada com fio de uma chapinha. O assassinato foi relatado por Daniela da Silva Rolim, que foi até a Delegacia Especial da Cidade Operária (Decop) e confessou que havia assassinado Francisca com o objeto.

A vítima trabalhava como empregada doméstica na casa da avó da autora. A equipe da polícia encontrou o corpo da vítima deitado no chão. Ao lado do cadáver, foi encontrada uma faca.

Assassinatos em fevereiro

Em fevereiro, de acordo com o portal da SSP/MA, foram registrados 22 assassinatos. Destes, 20 foram homicídios dolosos, 1 foi latrocínio (roubo que resulta em morte) e mais 1 foi confronto com a polícia. Nesse período, apenas um adolescente morreu: Ryan Silva Teixeira , 17, no dia 26, por volta das 20h30, no São Cristóvão. No mês, duas mulheres foram vítimas, sendo uma no dia 7 e outra no dia 24. Respectivamente, foram identificadas como Jecimara Cristian Marques Pacheco, 26, e Maria de Fátima Boaz Pinheiro, 55.

Jecimara Cristian foi encontrada morta no banheiro de um hotel, no Tirirical, por volta das 9h30. Segundo a Superintendência de Homicídios e Proteção à Pessoa, a vítima, que foi encontrada estrangulada com um fio de televisão, teria se envolvido em uma briga com o seu companheiro, um homem de 24 anos. Durante a discussão, ela acabou sendo agredida por ele, que fugiu imediatamente do local.

Preocupados, os funcionários do hotel decidiram entrar no quarto onde Jessimara Cristian se encontrava, quando se depararam com ela já sem vida no chão do banheiro.

Morte de italiano

Uma morte que repercutiu teve como vítima o italiano Alfredo Catalan, 69. Ele foi assassinado com dois tiros dentro do sítio onde morava, na Estrada da Maioba, município de Paço do Lumiar, e morava há dois anos no Maranhão e há mais de 20 no Brasil. O corpo dele foi encontrado no dia 18, pouco depois da meia-noite, com tiros na perna esquerda e no peito esquerdo. Segundo a polícia, o assassinato aconteceu no dia anterior, quando vizinhos ouviram disparos de arma de fogo.

A Superintendência de Homicídios e Proteção à Pessoa compreendeu, com base nos elementos da investigação e análise forense, que o italiano foi baleado após invasão de assaltantes em sua residência.

Assassinato de sargento

No dia 26, o sargento Washington Ferreira Nogueira, 52, que era lotado no 8º Batalhão da Polícia Militar, foi executado com um tiro na nuca, em plena Quarta-feira de Cinzas, na região do Miritiua, em São José de Ribamar. O delegado Lúcio Rogério Reis disse que o militar foi vítima de uma tocaia e que, provavelmente, a sua rotina era de conhecimento do autor. O policial tinha o costume de ir a pé até o local de trabalho, no Araçagi, tendo como percurso a Avenida General Arthur Carvalho até a Avenida São Luís Rei de França.

Nesse trajeto, o acusado chegou a passar de bicicleta pela vítima e, ao retornar, acabou efetuando o tiro na nuca. O policial morreu ainda no local. “O militar foi baleado quando estava de costas. Ele não teve nenhuma forma de defesa. Em seguida, o suspeito fugiu de bicicleta”, explicou Lúcio Rogério. Em decorrência desse caso, um dos autores do crime, Fransoarle Freitas Silva, 35, o “Tibiri”, caiu morto no dia seguinte em confronto com equipes da Diretoria de Inteligência e Assuntos Estratégicos (DIAE).

O tombamento do suspeito aconteceu no Parque Florêncio, área do Araçagi, em uma região conhecida como “Invasão da Loira”. A pistola do sargento e as munições foram recuperadas pelo “serviço velado”. Ainda no dia 26, além da morte do sargento, ocorreram mais quatro assassinatos, em São José de Ribamar. As vítimas foram Francisco José Nascimento Oliveira, de 28 anos, no Alto do Turu II; João Vitor da Silva Facundes, de 18 anos, no Parque Araçagi; João Vitor do Anjos Freitas, de 24 anos, no Parque Vitória; e Márcio Luís Madeira dos Santos, de 21 anos, no Parque Jair.

Período de 2019

No mesmo período de 2019, como verificou o Jornal O Estado nos relatórios da SSP/MA, foram registrados 75 assassinatos na região metropolitana da capital maranhense. Isso significa que, em 2020, houve uma queda, uma vez que fechou com 52 casos. No ano passado, janeiro encerrou com 45 situações, sendo 39 de homicídios dolosos, 1 de lesão corporal seguida de morte, 2 de latrocínios, 1 morte em estabelecimento prisional e 2 decorrentes de confrontos com a polícia.

Em fevereiro, por sua vez, ocorreram 30 assassinatos. Desse total, 27 foram de homicídios dolosos, 1 foi de latrocínio e 2 foram de confronto com as forças policiais.

Números

Janeiro – 30

Fevereiro – 22

Nos dois meses

Homicídios dolosos – 48

Mortes de confrontos com a polícia – 3

Latrocínios – 1

Total de 2020 (janeiro e fevereiro) – 52

Total de 2019 (janeiro e fevereiro) 75

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