Artigo

O que de fato importa?

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

A indiferença é a maneira mais polida de desprezar alguém. (Mário Quintana)

Terminada a folia momesca, no calendário dos cristãos católicos é hora de circunspecção e reflexão. Inicia-se o período da quaresma e com ele, a campanha da fraternidade que, neste ano, tem como tema "Fraternidade e Vida: dom e compromisso".

Sobre a escolha do tema, dom Joel Portella Amado, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), fez referência à proteção da vida - considerado o maior dom - com o incentivo ao cuidado consigo mesmo e com o próximo, seja um familiar, um amigo, um vizinho, um conhecido e, até mesmo, sejam os desconhecidos à nossa volta.

Independente de credo, trata-se de um temática atualíssima. Vivemos na era da individualidade e da indiferença. O psicólogo americano John Gottman, especialista em relacionamentos, criou a tese dos “Quatro cavaleiros do apocalipse”, que define os quatro fatores responsáveis pelo desgaste entre as relações: defensividade, indiferença, crítica destrutiva e desprezo. Mas qual são os antídotos para esses males? Recorro a Tomás de Aquino, filósofo e teólogo católico que se dispôs a estudar os ensinamentos de Aristóteles e, através destes, discorrer acerca de justiça e considerar a perspectiva de Deus a partir da razão (leitura que recomendo, a despeito de qualquer fé que alguém venha professar).

Em sua Suma Teológica, Tomás de Aquino nos leva a pensar acerca da finalidade das coisas que nos rodeiam e da esperança que nos move para a realização do propósito que colocamos como objetivo a ser alcançado. Respeitar o espaço no qual fomos inseridos - com todos os seus componentes - e abrir espaço para o ânimo em direção a novas conquistas são maneiras de combater o desprezo e a indiferença que cunham esta era.

Quer queiramos ou não, estamos todos interligados. A revista Galileu publicou, em 2014, uma reportagem com o interessante título “7 fatos que provam que você e o cosmos estão intimamente conectados”, e enumera as razões em que a ciência se apoia para demonstrar essa afirmação, a partir também das constatações de Carl Sagan que cunhou a célebre frase “somos todos poeiras das estrelas”.

Somos todos habitantes de um mesmo lugar. E importar-se com nossa morada e com aqueles que nela também habitam é, em última perspectiva, proporcionar um espaço de maior qualidade para o alcance de nossas realizações.

As guerras, as instabilidades econômicas, as intempéries políticas, as disputas por poder e até as recentes epidemias podem ser debeladas, se enfrentadas por pessoas altruístas e generosas. Neste exato momento, cientistas mundo afora se debruçam em pesquisas com o fito de combater o coronavírus. Homens e mulheres de bem intencionam projetos para minorar os males daqueles que sofrem necessidades. Jovens dedicam seu tempo a tornar a vida de comunidades carentes um pouco mais fácil.

Respeito, tolerância e compaixão são sentimentos que, tornados em prática diária, resultam num lugar melhor para nós mesmos e para os outros.

Natalino Salgado Filho

Médico, doutor em Nefrologia, reitor da UFMA, membro da ANM, da AML, da AMM, Sobrames e do IHGMA

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