Editorial

Qual a origem do Rei Momo?

- Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

Passados quatro dias de folia, enfim, o Reinado de Momo está chegando a fim. De norte a sul, o país parou para reverenciar o rei da folia, desfilando em escolas de samba, blocos e demais grupos que fizeram a alegria de multidões. Mas enfim, o Carnaval vai deixar saudades em milhares de foliões, nos quatro cantos do país. Agora é preparar-se para o próximo ano, quando o reinado voltará a fazer a alegria de todos os que se jogam na folia.

Tudo indica que essa rechonchuda figura carnavalesca tenha sido inspirada em um personagem da Antiguidade clássica. Na mitologia grega, Momo era o deus do sarcasmo e do delírio. Usando um gorro com guizos e segurando em uma mão uma máscara e na outra uma boneca, ele vivia rindo e tirando sarro dos outros deuses.

Com esse jeitão escrachado, aprontou tantas que acabou expulso do Olimpo, a morada dos deuses. Ainda antes da era cristã, gregos e romanos incorporaram essa figura mitológica a algumas de suas comemorações, principalmente as que envolviam sexo e bebida. Na Grécia, registros históricos dão conta que os primeiros reis Momos de que se tem notícia desfilavam em festas de orgia por volta dos séculos V ou IV a.C. Geralmente, o escolhido era alguém gordinho e extrovertido - provavelmente vem daí a inspiração para a folia brasileira. Já nas bacanais romanas, os participantes selecionavam um Rei Momo entre os soldados mais belos do exército.

“Esse monarca era o governante de um período de liberdade total e desfrutava de todas as regalias durante a festa, como comidas, bebidas e mulheres”, diz o historiador Hiram Araújo, diretor cultural da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa). No Brasil, a tradição de eleger um Rei Momo durante o Carnaval apareceu primeiro no Rio de Janeiro, em 1933. Naquele ano, a coroa foi entregue ao jornalista Morais Cardoso, que ocupou o trono até morrer, em 1948.

A coisa mais parecida com o carnaval de hoje que se tem notícia as “saturnais”, festas homéricas que aconteciam na Roma antiga em exaltação a Saturno, deus da agricultura. A diferença é que essas festas aconteciam em dezembro. A semelhança é que elas duravam quase uma semana, as escolas fechavam, os escravos tiravam folga e os romanos dançavam pelas ruas - bloquinhos, basicamente. E sim: orgias e bebedeiras descomunais faziam parte do cardápio de diversões.

E tinha até carro alegórico. Eles levavam homens e mulheres nus e eram chamados de carrus navalis (“carro naval”), pois tinham formato de navio. Seria essa a origem da palavra “Carnaval”, então? Seria, ainda que não haja registro de que algum dia as saturnais em si tenham recebido o nome de carrus navalis. Talvez tenha sido.

O ponto é que a expressão acabaria “ressignificada” na Idade Média, conforme a Igreja Católica ia cristianizando tradições pagãs. É provável que o carrus navalis tenha virado, por aproximação fonética, carne vale (adeus à carne).

Porque “adeus à carne”? Porque migraram a festa com carros alegóricos e doideira generalizada migrou de dezembro para os últimos dias antes de uma quarentena religiosa – aquela observada antes da Páscoa: a “quaresma”.

A variação da data do Carnaval no calendário se deve justamente à ligação direta com a Páscoa - que, no Hemisfério Sul, sempre acontece no primeiro domingo após a primeira lua cheia do outono.

Determinada a data do feriado cristão, basta retroceder 46 dias no calendário (40 da Quaresma mais seis da Semana Santa) para chegar à Quarta-Feira de Cinzas. O dia anterior é a “terça feira gorda” - o Carnaval propriamente dito. No Brasil, a segunda-feira acabou emendada, ainda que até hoje a “segunda de Carnaval” não seja oficialmente um feriado. Nos últimos tempos, aliás, as comemorações ligadas ao Carnaval passaram a começar na segunda semana de janeiro, e a se estender quase até a Páscoa.

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