Opinião

O Maranhão de Joãosinho Trinta

Benedito Buzar

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

Em 2008, Fábio Gomes, filho dos maranhenses Jesus e Ana Maria Gomes, escreveu e editou um belíssimo livro intitulado “O Brasil é um luxo”, em homenagem ao nosso conterrâneo, o talentoso carnavalesco Joãosinho Trinta.

No livro, em policromia, o autor narra de maneira brilhante a trajetória e a participação do maranhense no carnaval do Rio de Janeiro, ao longo de trinta anos, quando arrebatou títulos gloriosos para as Escolas de Samba Salgueiro, Beija-Flor, Viradouro e Salgueiro.

Relata Fábio Gomes, na introdução do livro, aliás, pouco conhecido em São Luís, que o carnaval carioca, nunca foi o mesmo depois que Joãosinho Trinta, como escultor da alegria, insurgiu-se contra a mesmice que impregnava o desfile das escolas de samba, que no seu modo de ver e sentir, tinha de sofrer transformações como arte e espetáculo.

Estribado na concepção filosófica de que “quem gosta de miséria é intelectual” o carnavalesco maranhense, por conta de sua genial criatividade, mudou o carnaval do Rio de Janeiro, que passou a ser mais majestoso, deslumbrante e fantástico, a ponto de se tornar no mais belo espetáculo do mundo.

Como estamos em plena folia momesca, vale a pena, com base no livro de Fábio Gomes, mostrar o que Joãosinho Trinta, como maranhense, fez pelo carnaval carioca, cujo primeiro título conquistou pelo Salgueiro, quando projetou na Marquês de Sapucaí um enredo da terra onde nasceu, a que deu o nome de “O Rei de França na Ilha da Assombração”.

Com a palavra Fábio Gomes: “Foi em 1974 que seu talento pôde desabrochar em plenitude. A partir do enredo, uma vertigem delirante focada em seu Maranhão natal.

“Para contar a invasão dos franceses e a experiência fugaz da França Equinocial na Ilha de São Luís, ele lançou mão da fantasia irreverente e desenfreada que se transformou na sua marca. Buscou nas estórias míticas que povoam o imaginário popular de sua terra – o touro coroado que é Dom Sebastião, a carruagem assombrada de Ana Jansen, a serpente que rodeia a Ilha – ouvidas na infância da ama negra Nhá Vita, o conteúdo do enredo.

“E contou essas estórias fantásticas através da imaginação do futuro Rei Luís XIII, ainda criança que interpretava os relatos dos navegadores lançados nessa aventura ultramarina pela sua mãe, a regente Maria de Médicis. Ou seja, fez do rei, ainda infante do inicio do século XVII, o narrador de mitos e lenas surgidas muito tempo depois.

Vinte e oito anos depois, ou seja, em 2002, Joãosinho Trinta, agora, carnavalesco da Escola de Samba Grande Rio, escolhe outro tema maranhense para enredo: Os papagaios amarelos nas terras encantadas do Maranhão.

O próprio carnavalesco descreve assim o enredo da sua nova Escola de Samba, não bem recebida pelo público e classificada pelos jurados em sétimo lugar: “Nas terras encantadas do Maranhão, lendas e estórias de assombrações. O Touro Negro Coroado, nas areias da Praia dos Lençóis, em noite de lua, surge um touro que se transforma no Rei português, Dom Sebastião, desaparecido na batalha de Alcácer-Quibir, na África. Essa praia é habitada por invasores, alourados e emplumados, falavam uma linguagem que os índios, os Tupinambás, não entendiam e que foram chamados de Papagaios Amarelos.

Carnavalescos famosos

Quando se fala em carnavalescos que marcaram a folia de São Luís, não se pode esquecer de gente que se divertia e animava as ruas e os clubes.

Nomes como Aldemir Silva, Inácio Braga, Jesus e Elir Gomes, Biné Duailibe, Vera Cruz Marques, Raul Guterres, Antônio Maria Carvalho, Antônio Carlos Saldanha foram figuras marcantes nesses eventos.

Os Reis Momos

No jornal O Globo, editado em São Luís, nos anos 1940, informava que a chegada do Rei Momo, para abrilhantar o carnaval, era apoteótica.

Uma grande multidão o esperava no aeroporto do Tirirical, onde descia de um paraquedas, e, em cortejo, chegava à Praça Urbano Santos, para receber as chaves da cidade, das mãos do prefeito.

Por falar em Rei Momo, Eurípedes Bezerra e Haroldo Rego, pontificaram em São Luís como representantes da majestade carnavalesca.

Baile do teatro

Nas décadas de 1950 e 1960, os clubes Jaguarema, Lítero e Cassino Maranhense, no domingo de carnaval, não realizavam festas para que os associados comparecessem ao monumental baile, promovido no Teatro Artur Azevedo, em benefício de obras sociais.

O baile exigia dos homens traje a rigor e das mulheres fantasias de luxo.

Bailes de Máscaras

Naqueles tempos, havia um diferencial entre o carnaval de São Luís e o resto do País: os inconfundíveis bailes de máscaras.

Espalhados pela cidade, exigiam das mulheres o uso de máscaras, com as quais tinham acesso livre aos bailes e os homens se obrigavam ao pagamento de um valor monetário.

Esses bailes saíram de cena em janeiro de 1966, na gestão do prefeito Epitácio Cafeteira. Dentre os mais conhecidos: Bigorrilho, Gruta do Satã, Berimbau, Rasga Sunga, Cantareira e Jacarepaguá.

Clubes e blocos

Além do Jaguarema, Lítero e Cassino Maranhense, na fase carnavalesca, marcavam presença na cidade os clubes populares, Lunáticos, Inferno Verde, Real, Capitólio, Imperial, Globo da Folia e Ideal.

Nas ruas, destaque para os blocos Vira-Latas, Oba-oba, Turma de Resistência, Os Inocentes, Turma do Quinto, Sentenciados, Grupo X, Fuzileiro da Fuzarca, Coringas, Pif-Paf, Batuqueiros da Vila, Legionários, Anjos do Inferno, Malandro não estrila, Turma das Baianas, Matutos da Vila e Turma da Mangueira.

Entrudo, fofão e corso

Também faziam parte do cenário carnavalesco, o entrudo, um tipo de brincadeira de rua, que consistia em jogar água, pó, farinha e tinta nas pessoas; o fofão, brincado em grupo ou sozinho, com máscara e macacão, feito de chitão, com guizos dourados nas extremidades das mãos e das pernas, que provocam barulho; o corso, uma forma de brincar o carnaval em caminhões enfeitados, com as moças debruçadas nos taipás, vestidas com roupas de chitas, que cantavam e tamborilavam pequenos pandeiros.

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