Alerta

Confira dicas de segurança no trânsito no Carnaval

Especialistas em saúde e segurança no trânsito orientam sobre comportamento adequado ao volante, a fim de evitar acidentes

Daniel Matos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
João Pedro Aragão e Phil Camarão dão dicas importantes sobre segurança no trânsito
João Pedro Aragão e Phil Camarão dão dicas importantes sobre segurança no trânsito (João Pedro Phil Camarão)

No Brasil, a cada mês, temos um ´´11 de setembro''''; a cada dois meses, uma guerra do Vietnã, e a cada três dias, uma queda de um Boeing. Essas estatísticas alarmantes nos obrigam a repensar o comportamento humano no trânsito, principalmente em uma época como o Carnaval.

Com mais de vinte anos de atuação no trânsito, nos mais diversos órgãos do Maranhão, o advogado João Pedro Aragão já contabiliza mais de 4 mil acidentes atendidos in loco, acumulando vasta experiência nessa, área sendo palestrante em diversas cidades do Brasil. É autor de várias obras que abordam a temática transito, além de atuar como perito e conciliador e professor de legislação e gestão de trânsito.

Entrevistados por O Estado, João Pedro Aragão e o médico Phil Camarão, membro titular da Câmara Temática de Educação e Saúde do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), da Câmara Temática da Medicina de Trafego do Conselho Federal de Medicina (CFM), presidente regional da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), médico especialista em medicina de trânsito e representante do Conselho Federal de Medicina (CFM), fornecem as principais dicas para quem vai pegar a estrada neste Carnaval.

O ESTADO - Qual balanço o senhor faz em relação ao número de infrações por excesso de velocidade registrado nas rodovias federais do nosso país?

JOÃO PEDRO - Comparando-se estatisticamente as infrações por excesso de velocidade ou velocidade incompatível registradas em 2018 em relação a 2019, podemos constatar que houve um aumento considerável de um ano para o outro. O percentual de aumento alcançou quase 40%. Foram 76 milhões de infrações nas rodovias federais de todo o país. Esse acréscimo teve como consequência o maior número de acidentes, sendo atribuído essa exorbitância justamente no período que coincide com a decisão do governo Bolsonaro de retirar os radares das rodovias, adotando o que podemos chamar de “teoria do salve-se quem puder”.

O ESTADO - Quais riscos correm os motoristas que insistem em dirigir mesmo não estando em boas condições físicas e psicológicas e muitas vezes com sono?

JOÃO PEDRO - Fazer uma auto-análise de suas reais condições de saúde antes de pegar a estrada, tendo em vista que não serão as leis mais severas que serão cruciais para a mudança do comportamento humano e sim, a consciência aliada ao bom senso, evitando, assim, acidentes fatais para si, ou pior ainda, para outras pessoas. Costumamos ver, por exemplo, as marcas de frenagens no asfalto das rodovias, que demonstram, muita das vezes, que o condutor estava desatento ou mesmo dormindo. Muitos chegam a sair da estrada, alegando que sofreram uma “fechada"por outro veículo, quando, na verdade, houve uma “fechada de olhos”.

O ESTADO - No Carnaval, como garantir uma viagem tranquila para o folião que vai pegar a estrada?

JOÃO PEDRO - Primeiramente, viagem 100% tranquila nesta época é um pouco difícil, uma vez que as estatísticas de acidentes a cada ano não são nada animadoras, totalmente desfavoráveis à vida. Mas é possível, sim, ter uma viagem tranquila e evitar uma tragédia. Para isso, uma boa noite de sono, ou caso a viagem seja à noite, ter um dia de descanso, nada de bebidas e, claro, jamais deixar de usar o cinto, tanto o motorista, quanto o passageiro. Lembrando que o maior índice de mortes na estrada quando há um acidente ocorre com os passageiros que, por algum motivo, não acham necessário usar o cinto.

O ESTADO - Quais seriam, então, as medidas preventivas ou cuidados que o folião deve ter para garantir uma viagem mais tranquila?

JOÃO PEDRO - Para não transformar uma grande viagem em um grande aborrecimento, ou pior, em uma tragédia, o folião deve fazer a revisão do motor, suspensão e pneus do veículo, além de todos os itens de segurança. Em caso de viagem longa, fazer a troca dos fluídos e correias, como também verificar os itens básicos, como faróis, setas, limpadores de para brisas, espelhos, retrovisores e, é claro, sem esquecer de portar os documentos obrigatório do condutor (a carteira nacional de habilitação) e do veículo, o certificado de licenciamento.

O ESTADO - Por que o senhor afirma hoje ser impossível fazer uma viagem tranquila e quais são essas estatísticas desfavoráveis à vida?

JOÃO PEDRO - Segundo a ONU, o Brasil é o quinto país com o maior índice de acidentes de trânsito no mundo. O trânsito brasileiro mata 2,5 % mais que nos EUA e 3,7% mais que a Europa. Temos uma morte a cada 18 minutos, estatística que no Carnaval é alterada para um óbito a cada 9 minutos, totalizando 65.000 pessoas que no ano perdem a vida na barbárie do trânsito brasileiro.

O ESTADO - De quem é a culpa por ocorrer tantos acidentes de trânsito no Brasil?

JOÃO PEDRO - As estatísticas comprovam que 90% dos acidentes ocorrem por falha humana, ou seja, erro do motorista; 4% por defeito no veículo e 6% pelas más condições das estradas. Portanto, se sendo o homem a principal causa de acidentes, é questão de comportamento humano, e sendo questão de comportamento humano, é questão de educação, é questão de prevenção e essa educação deve começar cedo, como preconizado no artigo 76 do nosso Código de Trânsito Brasileiro (CTB).

O ESTADO - Qual o percentual de aumento de acidentes registrados nas estradas no período de Carnaval?

JOÃO PEDRO - O termômetro da insensatez são as estáticas de mortes nas estradas no Maranhão nesse período, que registraram aumento de 30% de acidentes e de 40% da demanda de bolsas de sague nos hemocentros em razão dos acidentes que ocorrem com lesões com rupturas de artérias de grosso calibre, que causam hemorragias que levam a óbito. Em condições adversas de tempo, como na estação chuvosa, o aumento da taxa de acidentes chega a 40%. Essas estatísticas deveriam servir de inibidores para quem tem amor à vida.

O ESTADO - Qual deve ser a velocidade máxima nas estradas nesse período carnavalesco? E como dirigir com segurança?

JOÃO PEDRO - Nas estradas, além dos buracos, que normalmente aparecem no período chuvoso, o folião deve atentar para outros fatores no decorrer da viagem, como falta de sinalização, falta de acostamento e vegetação invadindo a pista, onde é necessário dirigir a uma velocidade de 60 km/h, reduzindo ainda mais em caso de chuvas, mantendo uma distância de segurança e atenção em relação ao veículo que vai à sua frente, evitando fazer ultrapassagem, sendo o ideal parar no acostamento ou no posto de combustíveis mais próximo em caso de chuvas torrenciais.

O ESTADO - Quais os riscos de dirigir na chuva?

JOÃO PEDRO - somos apenas condutores, e não corredores de Formula 1, em que os carros podem trocar pneus de acordo com as condições climáticas. Na realidade, os pneus não foram fabricados para trafegar na chuva. Mesmo os pneus novos podem sofrer derrapagens ou aquaplanagem, isso porque no início da chuva, os primeiros pingos d´água misturam-se à fuligem, poeira, resíduos de pneus e óleos, que tornam as pistas escorregadias. As estatísticas comprovam que a maioria dos acidentes, às vezes inexplicáveis, ocorrem logo no início das chuvas, principalmente, os tombamentos e capotagens. O condutor folião deve estar atendo aos animais na estrada, às curvas perigosas, depressões e lombadas, que são os maiores inimigos, principalmente dos motociclistas.

O ESTADO - Quais as principais causas de acidentes e fatores de riscos nas estradas?

JOÃO PEDRO - Além da imprudência pelo excesso de velocidade, a embriaguez ao volante, o sono e o uso do aparelho celular na direção. Muitos condutores têm efetuado nas estradas a última ligação de suas vidas. Estes têm sido os maiores vilões, ceifando vidas e trazendo tristezas aos lares de todo país. Com o advento da Lei Seca, que foi regulamentada pela resolução 432/13, podemos afirmar que as pesadas multas já mexeram com o bolso do cidadão, mas não foi suficiente para mexer com a consciência e o bom senso.

O ESTADO - Como fazer para manter a distância de segurança dos veículos que vão à nossa frente para evitar colisões traseiras?

JOÃO PEDRO - mantenha distância de segurança e atenção à sua frente de marcha. Quanto mais colado à traseira do carro à frente, mais perto você está de provocar um acidente. Para não provocar colisões traseiras e ter certeza que está mantendo a distância de segurança em relação aos veículos da sua frente, grave a seguinte dica: use o método de “um milhão e um e, um milhão e dois”. Ou seja, estabeleça um ponto de referência (como um poste), e a partir do momento que o veículo de sua gente ultrapassar esse ponto, fale “um milhão e um e um milhão e dois”. Caso você consiga terminar de falar, sem ter ultrapassado esse ponto de referência, você está livre de colidir na traseira do veículo que vai à sua frente. Assim, é possível evitar os comuns engavetamentos. Esta é a causa de 70% dos acidentes. Não seja motorista adesivo. Portanto, grave bem essa dica”.

O ESTADO - Qual conselho ou última mensagem o senhor deixaria para todos os que enfrentam no dia a dia essa guerra que é o trânsito?

JOÃO PEDRO - Primeiramente eu gostaria de dizer que antes de se criar leis, deveríamos criar a consciência para a educação no trânsito. Precisamos educar nossas crianças e reeducar os pais. Só teremos paz no trânsito se reabastecermos nosso estoque de respeito humano, tolerância, solidariedade e, sobretudo, de amor à vida. A morte era para ser um fato natural, mas tornou-se corriqueiramente, um ato humano ilícito praticado pelos ignorantes. Quem mata não é só homicida, é latrocina, pois comete latrocínio no momento que tira a vida e rouba sonhos; sonho de uma vida. Muitos motoristas apressadinhos têm diminuído a distância entre a vida e a morte. Evitando o álcool, drogas e obedecendo as leis de transito, você terá quilômetros e quilômetros de vida pela frente. Lembre-se: você só está livre de um acidente: o de ontem.

O ESTADO - No decorrer do período carnavalesco, ocorre o aumento do número de acidentes, principalmente pelo uso do álcool ao volante. Além do bafômetro, houve algum método de aprimoramento para a redução de acidentes?

PHIL CAMARÃO - Os acidentes não acontecem, eles são causados. Uma vez que em 60% dos acidentes os condutores estão sob efeitos de drogas, e nem sempre é pelo álcool, recentemente foi inventado o drogômetro, que detecta qualquer tipo de drogas, como álcool, maconha, cocaína e anfetaminas, que vêm contribuindo consideravelmente para a redução dos acidentes em prol da vida.

O ESTADO - Quais medicamentos não devem ser ingeridos por quem vai pegar estrada?

PHIL CAMARÃO - Alguns medicamentos são capazes de apresentar efeitos colaterais, produzindo sono, torpor e reduzindo reflexos. Durante a condução do veículo, ao usar um medicamento, tenha pleno conhecimentos dos possíveis efeitos colaterais e efeitos adversos.

O ESTADO - Como proceder se deparar ou causar um acidente na estrada?

PHIL CAMARÃO - Se você não é médico ou paramédico evite mexer nas vítimas e nem permita que leigos removam pessoas acidentadas, como também a aproximação de curiosos que ocupam todo o espaço e assim sufoquem a vítima, agravando mais ainda a situação. Agora, se você causar um acidente com vítima fatal ou provocar lesões de natureza grave, procure socorrer as vítimas. Caso haja risco de linchamento, deixe o local e acione o socorro imediato, procurando, a seguir, apresentar-se às autoridades. Sinalize de alguma forma o ocorrido.

O ESTADO - O uso do álcool deve ser absolutamente condenado para quem vai dirigir, mesmo com o teor abaixo do que configura infração de trânsito?

PHIL CAMARÃO - O uso do álcool é absolutamente proibido para os condutores de qualquer tipo de veículo, principalmente os motociclistas, pois o condutor deve estar em pleno gozo das capacidades físicas e mentas e, mesmo que seja uma dose, pode comprometer o seu estado de lucidez, tendo como consequência os graves acidentes, que deixam sequelas e lares enlutados.

O ESTADO - O que fazer em relação às bagagens e objetos que são transportados no interior dos veículos, que em movimento podem ocasionar acidentes?

PHIL CAMARÃO - O condutor deve verificar se não há objetos soltos no interior do veículo e se tudo está devidamente acomodado, sem excesso de pessoas ou bagagens, tudo para garantir uma viagem tranquila, segura e confortável.

O ESTADO - Como se manter em alerta ao dirigir em viagens longas?

PHIL CAMARÃO - As principais dicas são: não tentar dirigir por um período longo demais; evitar o álcool ou qualquer medicamento com efeito sedativo quando pegar a estada; planejar a viagem com alguém que fique acordado ao seu lado; ficar longe dos remédios estimulantes, eles não são seguros e prejudicam a saúde. Lembre-se: se você começar a sentir sono enquanto dirige, pare e tire um cochilo de 30 minutos.

O ESTADO - Como dirigir em caso de sono?

PHIL CAMARÃO - Com sono, devemos reconhecer que corremos sérios perigos. Dirigir com sono é tão ruim e perigoso quanto dirigir bêbado. Utilizar meios como café, chá preto, refrigerantes com cafeínas, queimar-se com ponta de cigarro e bombons podem auxiliá-lo a se sentir mais despertos, mas os efeitos duram poucos e ficamos suscetíveis aos breves cochilos, que duram de 1 a 5 segundos, mas podem ser fatais, pois os acidentes ocorrem num pestanejar de olhos. Evite o álcool ou qualquer medicamento com efeito sedativo, faça parada a cada duas horas de viagem, abra as janelas, ligue o rádio, pare para esticar as penas, sendo, porém, o ideal tirar um cochilo de 30 minutos ou parar para dormir para poder prossegui a viagem. Jamais dirigir com sono.

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