Infectado

Coronavírus: China abre inquérito após morte de médico que fez alerta

Li Wenliang trabalhava no Hospital Central de Wuhan e avisou colegas para o surgimento de um coronavírus; o médico, de 34 anos, foi contagiado por um doente infectado; o Partido Comunista Chinês quer inquérito exaustivo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Li Wenliang foi contaminado durante o combate à epidemia de pneumonia do novo coronavírus
Li Wenliang foi contaminado durante o combate à epidemia de pneumonia do novo coronavírus (AFP)

PEQUIM - As autoridades chinesas vão abrir um inquérito sobre o caso do médico de Wuhan repreendido pela polícia, depois de ter feito um alerta sobre o novo coronavírus, em dezembro do ano passado. Li Wenliang morreu quinta-feira,6, vítima do vírus para o qual alertou os colegas de profissão, em um grupo online. Nas redes sociais o médico é considerado um herói.

O órgão do Partido Comunista Chinês encarregado de combater a corrupção anunciou, em comunicado, que vai enviar uma equipe a Wuhan “para realizar um inquérito exaustivo sobres as circunstâncias relativas ao caso do médico Li Wenliang”. O médico, de 34 anos, foi contagiado por um doente infectado com coronavírus e morreu em um hospital de Wuhan.

Histórico

Em dezembro, quando começou o surto na cidade de 11 milhões de habitantes, o médico oftalmologista enviou uma mensagem eletrônica aos colegas em que alertava para o surgimento de um coronavírus em Wuhan. Li Wenliang foi "infelizmente contaminado durante o combate à epidemia de pneumonia do novo coronavírus", afirmou o hospital central de Wuhan, em sua conta na rede social Facebook.

O alerta à comunidade médica de Wuhan, centro do surto do coronavírus, rendeu a Wenliang uma repreensão pela polícia, que o obrigou a assinar um documento no qual denunciava o aviso como um boato “infundado e ilegal”.

Em 30 de dezembro, Wenliang foi convocado, juntamente com outras sete pessoas, pela polícia local que o repreendeu por espalhar rumores.

Quando o médico avisou os colegas, o novo coronavírus não tinha ainda sido identificado, mas ele detectou semelhanças com a pneumonia atípica, ou Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars), um coronavírus que abalou a China há quase duas décadas.

Em entrevista à revista chinesa Caixin pouco tempo antes de morrer, Li defendeu maior liberdade de expressão no país. "Acho que uma sociedade saudável não devia ter apenas uma voz", apontou.

Em 20 de janeiro, dias antes de a China relatar os primeiros casos fora de Wuhan, a Tailândia e o Japão já tinham registrado infeções. Nas redes sociais chinesas, internautas comentaram que o vírus era "patriótico", pois parecia só afetar estrangeiros.

O presidente da câmara de Wuhan, Zhou Xianwang, sugeriu que a divulgação tardia do surto se deveu à crescente centralização do poder na China. "Espero que entendam porque é que não houve divulgação mais cedo", disse.

"Após ter sido informado sobre o vírus, precisava de autorização antes de tornar a informação pública", completou.

A morte do oftalmologista também expõe um aspecto preocupante sobre o surto que não é detalhado nas estatísticas: o número de funcionários de saúde infectados pelo vírus. No início, um especialista chinês em doenças infeciosas indicou que um único paciente tinha infectado 14 funcionários num hospital em Wuhan.

Liberdade de Expressão

Wenliang, cuja mulher está grávida do segundo filho do casal, era um oftalmologista desconhecido, mas tornou-se, nas últimas semanas, num ícone para muitos chineses, à medida que o surto do coronavírus se alastra por toda a China, paralisando o país.

A morte de Li Wenliang desencadeou uma onda de críticas nas redes sociais chinesas que o consideram um herói. Com o hashtag #woyaoyanlunziyou (eu quero liberdade de expressão) a tornar-se viral. O número de mortos provocados pelo novo coronavírus subiu para 636, com 31.161 pessoas infectadas. Desde o último balanço, na quinta-feira, registaram-se mais 73 mortes e 3.143 casos de infeção no surto que começou na cidade de Wuhan, na província central de Hubei.

"O reacionário é quem mais teme a liberdade de expressão", escreveu no Weibo um internauta, citando o fundador da República Popular da China, Mao Zedong. "Ele recorre a todos os tipos de métodos sujos e baixos para tapar os olhos, os ouvidos e a boca do povo", acrescentou.

Já o jornal oficial do Partido Comunista Global Times lamentou a morte do médico, mas instou a população a apoiar a luta do governo contra a epidemia. "O fato de Li Wenliang não ter escapado com vida mostra o quão árdua e complexa é esta batalha", diz o editorial do Global Times. "Neste momento crítico, devemos mantermo-nos unidos", sublinhou.

Mais de 600 mortes

A China tem 637 mortes por coronavírus e 31.211 casos confirmados, de acordo com o balanço do governo Chinês divulgado na mídia local na sexta-feira,7. Ao menos 1.540 pessoas já se recuperaram do vírus.

Cientistas de Wuhan, na China, publicaram na revista "Nature" os resultados de testes com substâncias contra o novo coronavírus 2019-nCoV. Duas drogas conseguiram controlar a infecção: uma delas é um antiviral com mais de 70 anos; a outra está no radar do governo chinês para estudos em humanos e passa também por testes contra o Ebola.

Mais

A situação até sexta-feira,7:

- 637 mortes por coronavírus na China
- 1 morte nas Filipinas
- 31.211 casos confirmados na China
- 1.540 infectados já se recuperaram na China
- Mais de 220 casos confirmados em outros 24 países
- No Brasil, há 9 casos suspeitos e nenhum confirmado até as 10h desta quinta (6)
- Bolsonaro sancionou lei de quarentena para trazer de volta brasileiros na China
- Argentino em cruzeiro do Japão é o 1º caso confirmado do coronavírus em latino-americanos
- Médico chinês que alertou sobre coronavírus morre em Wuhan
- Morte gerou revolta e governo chinês anunciou investigação
- China anuncia a recuperação de paciente de 91 anos; ele é considerado o mais idoso a se curar do coronavírus

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.