Entorpecentes

Minicracolândias ou áreas de boca de fumo persistem na Ilha

Dependentes químicos costumam ficar no Mercado Central e na feira do João Paulo; só no ano passado, 86 foram resgatados no Ação Resgate

Ismael Araújo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

[e-s001]Aglomerados de pessoas usando drogas livremente pelas ruas ou avenidas se tornou cena comum no país. Na Grande Ilha, o consumo de entorpecentes também tem se mostrado um grave problema. Dados da Rede Maranhense de Diálogos Sobre Drogas (Remadd) apontam pelo menos 110 minicracolândias ou regiões de boca de fumo na Região Metropolitana de São Luís. Somente no ano passado, 86 dependentes químicos foram resgatados desses locais, para tratamento, durante as 17 edições da Ação Resgate, realizadas pela Polícia Civil e o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) do
Monte Castelo, com mais de oito mil atendimentos em vários pontos da capital.

No Mercado Central, localizado em plena área do centro da capital, há uma das maiores cracolândias. Na manhã de ontem, era possível observar os dependentes químicos nesse ponto da cidade. São homens e mulheres adultos e alguns adolescentes. Alguns deles estavam dormindo em cima de colchões velhos, enquanto, outros estavam usando drogas.

O vício acaba até mesmo com o pudor e eles fazem o cigarro na presença das pessoas, e segundo quem trabalha na região, também da polícia. O cachimbo de crack ou o cigarro é repassado de mão em mão. Para sustentar o vício a maioria pede esmolas aos transeuntes ou presta serviços para os comerciantes da área.

Tratamento
Sebastião Barros, de 38 anos, frentista de um posto de combustível nessa área, disse que no mês passado ocorreu a Ação de Resgate no Mercado Central e alguns usuários de drogas foram levados para tratamento, mas, após algumas semanas, vários moradores de rua retornaram para o local.

Ainda segundo o frentista, a noite e madrugada eles se aglomeram nas calçadas dos pontos comerciais para dormir em cima de papelões sujos e pedaços de colchões velhos, enquanto, ao longo do dia ficam transitando pela área usando entorpecentes e carregando mercadorias para os comerciantes.

Denilson Martins, de 55 anos, contou que há mais de seis anos os usuários de drogas são presença constante no Mercado Central. Alguns deles residiam no prédio do Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado (Sioge), atualmente desativado, mas foram retirados quando começou a reforma desse local. Este prédio era cheio de fezes, lixo, mato e até mesmo ocorreu assassinato no local. Uma das vítimas foi morta por arma branca e era um morador de rua.

Cracolândia maranhense
Ainda é possível encontrar aglomerado de usuários de entorpecentes na Avenida Projetada, nas proximidades da feira do bairro João Paulo, denominada como cracolândia maranhense. Ontem, O Estado foi até esse local e constatou dependentes químicos consumindo entorpecentes.

Alguns deles estavam escondidos atrás dos caminhões, enquanto outros faziam cigarro de maconha na presença de transeuntes, inclusive, crianças. Muitos dos dependentes químicos estavam sujos e com roupas rasgadas e imundas. Também havia dependentes químicos usando pedras e madeira na preparação do fogo para esquentar sua alimentação.

O feirante Marcos Antônio Serra, de 45 anos, ressaltou que os usuários de drogas são retirados do local, mas sempre retornam. “Na feira, eles encontram o local e a forma de conseguirem dinheiro para comprar a droga”, contou Marcos Antônio Serra.

A outra feirante, Sandra Silva, de 34 anos, disse que a presença dos dependentes químicos acaba prejudicando as vendas. “Os clientes olham pessoas se drogando e acabam indo comprar em outros pontos da feira. A minha venda caiu muitos nesses últimos anos”, desabafou a feirante.

[e-s001]Resgate
Marcelo Costa, um dos coordenadores da Ação Resgate, informou que no ano passado, ocorreram 17 ações de Resgate na Ilha, que resultaram em mais de oito mil atendimentos, 86 dependentes químicos foram retirados das cracolândias, e 90 pacientes conseguiram capacitação para o mercado de trabalho.

Neste ano, uma edição da ação foi feita no dia 17 do mês passado, no Mercado Central, que resultou em oito internações de usuários de drogas e realização de 485 atendimentos em saúde, como teste de glicemia, aferição de pressão arterial, exames laboratoriais e outros procedimentos.

Também foi realizada uma visita técnica na feira do João Paulo com a participação da polícia, da Blitz Urbana e representantes da Secretaria Municipal de Assistência Social. Nesta ação, seis pessoas foram retiradas das ruas. “Havia um grupo de usuários de droga morando nesse local em casebres improvisados de papelão e acabamos com essa região de boca de fumo”, pontuou Marcelo Costa.

O delegado Joviano Furtado, que também é um dos coordenadores da Resgate, informou que a previsão é realizar mais de ações na Ilha durante este ano e a próxima vai ocorrer no dia 12 de fevereiro, na praça Deodoro, no Centro. “Estamos também monitorando outros locais da cidade e um deles o coreto da Beira-Mar e praça Dom Pedro II”, frisou Joviano Furtado.

Entenda o caso

Entorpecente na Grande Ilha
Quantidade de minicracolândia: 110 pontos de consumo de droga na Ilha ou regiões de boca de fumo.
Combate: Ação Resgate e tem como foco os dependentes químicos;
Atendimento: em cada ação desenvolvida uma média de 500 pessoas são atendidas;
Rede Maranhense de Diálogos Sobre Drogas (Remadd): associação civil sem fins lucrativos, sem finalidade política ou religiosa, com o objetivo de planejar e realizar programas e projetos institucionais pertinentes a objetivos comuns das Políticas Públicas Sobre Drogas;
Dependência química: considerado um transtorno mental e um problema social pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Ela é tida como doença crônica, que comumente atinge indivíduos que fazem o uso constante de determinadas drogas;
CAPS AD: pontos de atenção estratégicos da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Unidades que prestam serviços de saúde de caráter aberto e comunitário, constituído por equipe multiprofissional que atua sobre a ótica interdisciplinar e realiza atendimento às pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas, seja em situações de crise ou nos processos de reabilitação.
Boca de fumo: ponto de drogas, refere-se ao local, geralmente um barraco ou botequim, onde é feita a venda de drogas ilícitas, tais como maconha, cocaína, loló, e crack.
Cracolândia: espaço onde várias pessoas se reúnem para consumir crack. Em São Luís, as cracolândias costumam reunir de 5 a 20 pessoas, diariamente.

SAIBA MAIS

Outros pontos
Na Grande Ilha há outros pontos de consumo de drogas como Cohab, Forquilha, Liberdade, Caratatiua, Bairro de Fátima, Camboa, Vila Santa Terezinha, Residencial Nestor, Jardim Tropical, Novo Horizonte, Turiúba, Panaquatira, Maiobão, Paranã, Manaíra, Sítio Natureza, Pirâmide, Tapera, Guaíba, Mocajituba, Vila Bom Viver, Vila Talita e Farol do Araçagi e outros.
Até mesmo na área turística de São Luís existem pontos de uso de entorpecente. Nas proximidades do Convento das Mercês, no Desterro, os dependentes, além de usarem droga em plena luz do dia, também fazem as suas necessidades fisiológicas nesse local.

Abrigo
A Prefeitura, no mês de novembro de 2014, inaugurou o Abrigo Institucional para Pessoa em Situação de Rua e a nova sede do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop). As duas unidades estão localizadas na avenida Beira-Mar e são coordenadas pela da Secretaria Municipal da Criança e Assistência Social (Semcas). As unidades oferecem higienização pessoal, café da manhã, palestras, almoço, lazer e acompanhamento com psicólogos, assistentes sociais e pedagogos. Com uma estrutura ampla e, somente, o Centro Pop tem previsão de atendimento diário de 30 pessoas, em média.

Ação Resgate
A Ação Resgate vem sendo realizada desde o ano de 2011 e o ponto de partida foi a cracolândia, localizada no bairro João Paulo. Na época, esse local era considerado um dos pontos onde havia maior número de dependentes químicos. No decorrer da ação, vários usuários de drogas foram retirados daquela área. A maioria deles aceitou fazer o tratamento.

Números

110 minicracolândias ou regiões de boca de fumo na Grande Ilha
86 dependentes químicos retirados durante o ano passado na Região Metropolitana de São Luís

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