Música

Grupo Semente e Simone Mazzer celebram Nelson Cavaquinho

Com 14 faixas, o álbum "Grupo Semente e Simone Mazzer cantam e tocam Nelson Cavaquinho" foi lançado nas lojas e plataformas digitais

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Grupo Semente e Simone Mazzer
Grupo Semente e Simone Mazzer (Grupo Semente e Simone Mazzer)

São Paulo - A ideia era montar um show em homenagem a Nelson Cavaquinho, e, para isso, resolveu-se chamar a cantora e atriz Simone Mazzer, que teria o peso dramático necessário para interpretar as canções do mais melancólico dos sambistas cariocas. Deu tão certo que bateu aquela vontade de registrar o tributo. Assim nasceu o belo "Grupo Semente e Simone Mazzer cantam e tocam Nelson Cavaquinho". Com 14 faixas, o álbum foi lançado nas lojas e plataformas digitais.
O material apresenta novas leituras de uma obra clássica, que já passou pelas vozes e instrumentos de grandes nomes da música brasileira. A conexão com os tempos atuais fica explícita na escolha de "Nome Sagrado", uma ode à mulher, para abrir o trabalho. Por sinal, o feminino está presente em todas as faixas através da delicadeza na execução e do cuidado quase que maternal com que João Callado e Bernardo Dantas, autores dos arranjos, trataram as canções deste mestre.
"Foi um processo de construção, tanto do repertório como dos arranjos. A partir de meados de 2018, nos reunimos várias vezes para escolher as músicas e ensaiar. Depois levamos as canções para os palcos. Quando fomos gravar foi bem rápido, pois já sabíamos o que queríamos fazer e o trabalho já estava maduro", explica Callado.
A viagem pela obra de Nelson continua com "Luz Negra", com a voz de Simone Mazzer em total harmonia com a cuíca de Marcos Esguleba e o sax de Eduardo Neves, os três flanando sobre a competente e consagrada cozinha rítmica sementeira. Esguleba, por sinal, foi quem sugeriu aos companheiros de Semente a realização do tributo e a escolha de Mazzer para cantar. Ponto para ele.
O trabalho continua com "Juízo Final", cuja versão une o clássico ao moderno através dos floreios de guitarra executados por Bernardo. O arranjo dá destaque à voz de Bruno Barreto, que divide o protagonismo com Mazzer. Por sinal, a parceria entre os cantores é um dos trunfos do trabalho e se faz presente desde a primeira faixa. Na música seguinte, o arranjo reflete o tom de lamento de "Duas Horas da Manhã" e abre espaço para Mazzer mostrar toda a sua extensão vocal, com belos graves e agudos certeiros. O lamento continua em "Enquanto a Cidade Dorme", mas a tristeza dá lugar ao sentimento de vingança. E com ele muda o andamento da canção, um samba mais pra cima que reflete a parceria Mangueira/Portela da autoria, assinada por Nelson e Jair do Cavaquinho.

Músicas

A voz masculina conduz o clássico "Palhaço", com o luxuoso auxílio da parede sonora do grupo Semente, com destaque para o sax, que faz um dueto com Bruno ao longo da faixa. Em seguida vem o único registro instrumental do trabalho, a canção "Notícia". A melodia da letra, no entanto, é "cantada" pela flauta de Eduardo Neves. É um convite para que o amante do samba solte sua voz e tenha o seu dia de cantor. Um presente.
A oitava faixa é um dois em um, com "Eu e as Flores" e "A Flôr e o Espinho" juntas - o mesmo recurso é usado mais duas vezes, e funciona muito bem. A solução usada para aumentar o número de canções neste tributo (afinal não é tarefa das mais simples selecionar poucas músicas para simbolizar a obra de Nelson) também marca a chegada de Guilherme de Brito, principal parceiro do homenageado, ao trabalho. E a entrada é triunfal, com um dos versos mais cantados pelos amantes do samba: "Tire seu sorriso do caminho / que eu quero passar com a minha dor". E passa lindamente. Da mesma forma que acontece com Rugas, mais uma conduzida pela bela voz de Bruno Barreto.
Simone Mazzer volta ao lado de um belo coro em "Dono das Calçadas", música com a qual Nelson resolve "socorrer a quem padece", numa espécie de defesa dos que, como ele, sofrem. "O Rei Vagabundo" vem em conjunto com "Dona Carola", uma faixa daquelas que fazem as pessoas "levantarem da cama" para sambar. Quem não prestar atenção na letra (o que seria um crime) poderia até achar que se trata de um samba exaltação. Mas quem disse que não podemos sorrir ao cantar uma história triste?
O álbum vai entrando em sua reta final e já é chegada a hora de "Folhas Secas", afinal não é possível fazer um tributo à Nelson Cavaquinho sem esta obra-prima. E os arranjadores resolveram homenagear a Estação Primeira de Mangueira na primeira vez em que a escola é citada: a canção chega em ritmo de avenida, com um naipe de percussão bastante forte e um andamento um pouco mais acelerado. E funciona. Em "Minha Festa" a cadência rítmica é outra, mais lenta. E faz todo sentido, pois é a letra mais solar entre as escolhidas para estar neste tributo.
O Grupo Semente e Simone Mazzer finalizam sua homenagem em alto astral, no ritmo do carnaval carioca, com "Sempre Mangueira" e "Vou Partir" juntas. A música já começa convocando os ouvintes a dançar e cantar com um "ô, ô, ô, ô / foi mangueira que chegou". E mesmo quando anunciam o "vou partir / não sei se voltarei" a vontade é de soltar um "ah não" e colocar o álbum para tocar todo novamente.

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