Artigo

A Ressurreição do Agenor

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

Quatro décadas atrás, um grupo de animados foliões decidiu criar uma confraria marcada pela irreverência e alegria. Os saudosos Aldemir Silva, Inácio Braga e Raul Guterres, que já se foram e sempre serão lembrados, lideraram o Bloco os Amigos do Agenor que tem animado o Carnaval de São Luís desde então. Um outro fundador, o decano Nelson Almada Lima, sempre aproveitava o ensejo de seu aniversario para reunir os amigos em sua casa na praça Tamandaré, no conjunto Elca, e de lá sair rumo à concentração no bar Cajueiro, na rua Afonso Pena, no Centro histórico da cidade.

A cada ano um tema era escolhido e cabia ao renomado arquiteto Tony Milbourne a tarefa de desenhar a fantasia do bloco. O artista e conceituado cartunista Erico Junqueira era o responsável pela criação das caricaturas do Agenor, enquanto o Albino, na casa das Velas, se encarregava da confecção e distribuição das fantasias.

Além da animação contagiante dos carnavalescos, o bloco mantinha uma tradição: apenas os homens participavam. As mulheres concediam o alvará de soltura aos maridos e namorados, que se esbaldavam pelas becos e ruas estreitas da cidade. Somente os mais resistentes conseguiam finalizar a noitada pelas ladeiras da Madre Deus.

Desde os Aqualoucos em 1984 até os dias deste novo século, os amigos do Agenor já saíram vestidos de mulher, travestidos de barris, de palhaços e presidiários, de paquitas, frades, anjos e noviços rebeldes.

Os mais novos devem estar a se perguntar. Mas quem é esse Agenor, que tem tantos amigos e seguidores? Em verdade, o Agenor é um burro. Um burro de estimação que puxava a carroça de Seu Egídio. Ao longo de todo esse tempo, três gerações de Agenores (filhos e netos do burro original) já puxaram a carroça durante os folguedos do Carnaval.

Nos tempos de outrora, o Agenor, embalado ao som das marchinhas entoadas pela bandinha de música que acompanhava o cortejo, arrastava-se pelos circuitos da folia. A carroça, com caixas de isopor cheias de cerveja e gelo, carregava os bêbados que não mais conseguiam acompanhar o trajeto e o Agenor era hidratado a base de whisky e muita cerveja. Alguns eufóricos foliões chegavam a tamponar uma de suas narinas e, depois de encharcar a toalha com um tubo de lança perfume, faziam o pobre animal respirar até desmaiar.... Segura o Agenor!!! Gritavam os foliões que o socorriam até que se recuperasse novamente. Muita irreverência e pura maldade com o Agenor.

Com a retirada do circuito do carnaval do Centro da cidade, o Agenor, desgostoso e já cansado da vida, resolveu se aposentar. No ano de 2018, o Bloco, pela primeira vez desde sua fundação, deixou de se reunir.

Mas este ano bateu saudade e o Agenor decidiu ressuscitar.

Os tempos são outros, politicamente mais corretos, e tomamos a decisão de dar uma nova formatação ao bloco: o Agenor não mais virá - contra sua própria vontade - puxando a carroça. Ele ressuscitará homenageado e, como alegoria, sairá em cima da carroça que será puxada, desta feita, pelos seus inseparáveis amigos, que estarão a partir deste Carnaval, escoltados pelas suas esposas e namoradas e pela nova geração que se junta aos veteranos foliões.

Neste dia 8 de fevereiro, os amigos do Agenor o aguardarão na Pracinha da Beira Mar em frente ao restaurante aCasa, para a celebração da sua Ressurreição.

Temos recebido incontáveis manifestações de apoio e proposições. Dentre elas, algumas amigas sugerindo que fossem confeccionadas pulseiras coloridas para diferenciar as mulheres casadas, separadas, solteiras e enroladas...

Respondi a elas que o Agenor ressuscitou, mas não veio com o poder de Santo casamenteiro, não!

Bom Carnaval a todos.

José Jorge Leite Soares

Ex-deputado estadual, membro da Academia Pinheirense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão

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