Deslizamento

60 pontos de áreas de risco estão mapeados na capital maranhense

No Bom Jesus, uma família, apesar do risco de deslizamento, está erguendo uma casa, cuja construção está avançada em cima de um terreno barrento

Nelson Melo / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Na beira da encosta, na Rua do Arame, no Bom Jesus, casa é erguida; solo é  úmido e barrento e o perigo de deslizamento é constante
Na beira da encosta, na Rua do Arame, no Bom Jesus, casa é erguida; solo é úmido e barrento e o perigo de deslizamento é constante (área de risco)

O período chuvoso se iniciou no Maranhão, o que deixa em alerta muitos moradores que residem em lugares considerados críticos. Em São Luís, 60 pontos estão catalogados pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil como áreas de risco a deslizamentos, alagamentos, inundações e desabamentos. Na Vila Lobão, pelo menos em dois pontos as características do solo podem resultar em escorregamento do terreno. A situação é mais grave no Bom Jesus, que fica no polo Coroadinho, onde uma casa está sendo levantada em uma encosta.

Em nota, o Corpo de Bombeiros Militar do Maranhão (CBMMA) informou que as áreas de riscos na cidade de São Luís são mapeadas pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil. Em relação aos casarões do Centro Histórico, o órgão frisou que já foram catalogados 152, que estão classificados em graus: leve, médio e alto, no que se refere aos riscos de desabamento e de ocorrência de incêndio. Na capital maranhense, há 14 casarões incluídos no grau de risco elevado.

“Ao longo de todo o ano, a Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil atualiza os levantamentos de riscos dos imóveis. Também são realizadas, em ações integradas com diversas secretarias e entidades (Iphan, Dphp, Secma, Defesa Civil de São Luís), orientações técnicas aos usuários e moradores, evacuação de moradores de edificações, isolamento de imóveis em perigo, escoramentos de fachadas e produção de laudos técnicos que são encaminhados aos órgãos competentes para tomada de decisão final”, enfatizou o órgão.

Vila Lobão
O Estado
percorreu a Vila Lobão para verificar a situação. Na parte de cima de uma área de risco, passa a Rua São Raimundo, onde moradores se reuniram e fizeram uma estrutura de cimento, para coibir a possibilidade de deslizamento. Do alto, se alguém caminhar desatento, pode até cair. No solo úmido, há muito lixo, entre sacolas, entulho, galhos de árvores, litros de refrigerante e resto de comida. Galinhas e gatos percorrem o barro para tentar localizar algo que possa ser ingerido.

Na descida, fica a Rua Fé em Deus, cujas casas podem ser atingidas em caso de deslizamento. Uma moradora, que não quis se identificar, disse que os populares fizeram uma “vaquinha” e colocaram a cobertura de cimento há aproximadamente cinco meses. De acordo com ela, aconteceu um desmoronamento de terra naquele trecho em 2011, mas após esse episódio nunca mais ocorreu.

“Algumas casas foram atingidas naquela época, mas ninguém se feriu. Graças a Deus, não aconteceu mais. Mas existe sempre esse risco, por conta das características do terreno”, declarou a moradora. Próximo de lá, na Rua São Francisco de Assis, no final da via, existe um ponto íngreme, com muitas plantas, que também pode deslizar.

Bom Jesus
No Bom Jesus, na região do Polo Coroadinho, o problema está concentrado na Rua do Arame, onde uma encosta é motivo de preocupação de quem reside ali perto. No alto do terreno, uma família está erguendo uma casa, apesar do risco de um deslizamento, como já aconteceu no local, segundo os moradores. O pilar dessa residência está em um solo úmido e barrento.
Os moradores da casa apenas disseram a O Estado que já cobraram a construção de uma escada na descida do terreno. Um morador falou que, há 10 anos, um imóvel que estava sendo levantado no mesmo ponto daquele desabou durante uma forte chuva. “E há pouco tempo caiu um pedaço dessa atual casa. Aqui ao lado, tinha até bananeira. Mas tudo foi abaixo quando a terra caiu”, relembrou ele.

Quando chove, segundo os populares, uma “cachoeira” se forma no local, levando muito lixo em direção às casas que ficam embaixo da área. Essa descida da água pode agravar mais ainda o risco de deslizamento.

Salinas do Sacavém
Outra área vulnerável é a Salinas do Sacavém, no Polo Coroadinho. O terreno íngreme pode desmoronar a qualquer momento. Apesar dos riscos, pessoas também estão construindo casas embaixo desses locais, onde as voçorocas, como são conhecidas geograficamente, estão passando por um processo erosivo. Para aquele ponto, a Vara de Interesses Difusos e Coletivos de São Luís já emitiu uma determinação para que obras emergenciais sejam realizadas naquele trecho de risco.

As voçorocas (fenômeno geológico que consiste na formação de grandes buracos de erosão, causados pela chuva e intempéries) estão em desgaste. Em duas vias da localidade, Avenida 3 e Rua 9, a situação está mais grave, com evidente risco de deslizamento. O terreno está repleto de sulcos, cuja umidade pode levar ao desmoronamento do solo, que não contém vegetação.

Na encosta íngreme, o solo contém diversas fendas. O terreno, em alguns trechos, adquiriu uma tonalidade vermelha escura, devido à penetração da água da chuva. Porcos foram flagrados procurando resto de comida no lixo que é jogado na área. O risco de um deslizamento parece não inibir várias pessoas, que estão erguendo casas embaixo desses trechos.

Por causa do problema, após pedido de concessão de tutela de urgência, da Defensoria Pública do Estado (DPE), a Justiça, por meio da Vara de Interesses Difusos e Coletivos, determinou que obras emergenciais sejam realizadas no Sacavém e áreas adjacentes, dentro das áreas de risco. Esses trechos estão expostos a deslizamentos de terras e outros problemas, que se agravam sempre nos períodos chuvosos.

A Ação Civil Pública foi divulgada no dia 20 de dezembro de 2019, pela Vara de Interesses Difusos e Coletivos, após assinatura do juiz Douglas de Melo Martins. Na decisão liminar, o magistrado frisou que o objetivo da execução das obras emergenciais é assegurar a segurança das habitações nas áreas atingidas no Sacavém, sobretudo na Rua São Luís, e em outros locais, como Túnel do Sacavém e Salinas do Sacavém. Essa intervenção deverá abranger a contenção das encostas, estabilizações e serviços de drenagem.

O juiz também determinou a realização de reforços estruturais e limpeza dos córregos de drenagem de águas pluviais.

NÚMEROS

60 pontos de áreas de risco mapeados em São Luís
152 casarões catalogados pela Defesa Civil, no Centro Histórico, em leve, médio e alto grau de risco
14 casarões incluídos no grau de risco elevado

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