Coronavírus

"Quero sair antes que seja tarde", diz maranhense que faz doutorado na China

A estudante Indira Mara Santos, 34 anos, está em contato constante com outros brasileiros ilhados em epicentro de surgimento do vírus

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Indira Mara Santos no campus da Universidade de Huazhong, na China. Ela tentou voltar para o Brasil, mas não conseguiu
Indira Mara Santos no campus da Universidade de Huazhong, na China. Ela tentou voltar para o Brasil, mas não conseguiu (Divulgação)

PEQUIM/ BRASÍLIA - Uma estudante de São Luís do Maranhão está na China e não consegue voltar para casa, pois está confinada em seu quarto no campus da universidade onde estuda desde o agravamento da situação no país provocada pelo coronavírus.

A jovem maranhense Indira Mara Santos, 34 anos, tinha como plano sair de Wuhan para Xangai e, em seguida, voltar ao Maranhão, onde moram os seus pais.

À BBC ela disse: ‘Queremos sair do perigo antes que seja tarde.’ A jovem maranhense é estudante de doutorado da Universidade de Huazhong. Ela deixou seu quarto no campus universitário às pressas para tentar chegar ao aeroporto, rumo a Xangai.

A cidade foi fechada antes mesmo que ela conseguisse voltar para o Brasil. “Meus pais ficaram arrasados e eu, mais ainda”, afirmou em entrevista por telefone à BBC News Brasil.

Segundo Indira, as autoridades chinesas chegaram a chamar de fake news a informação sobre o coronavírus, o que permitiu que muitas pessoas deixassem a província de Wuhan antes do confinamento.

Ela diz ainda que não tinha dado também muita relevância ao caso, até receber mensagens da família preocupada com as notícias divulgadas pela mídia no Brasil.

Com ela estão outros 30 brasileiros também confinados. Indira assegura que o clima entre eles é de cooperação e de atenção e cuidado redobrados.

“Existe uma tensão natural com a situação. Quando saio, me preocupo; será que coloquei a máscara direito? Será que tá tudo ok? Se tenho que tirar a luva, fico preocupada em lavar as mãos, [a situação] cria uma paranoia”, contou. “O medo existe porque não sabemos 100% do que está acontecendo. Então minha preocupação é que da noite para o dia aconteça alguma coisa”, concluiu.

A acadêmica estava na Europa na primeira semana de janeiro quando leu as primeiras notícias sobre casos de contaminação por uma nova sepa do coronavírus — similar ao Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) que apareceu em Guangdong, na China, em 2002. Indira conta que as autoridades locais negaram as informações e usaram a TV oficial para informar sobre a difusão de "fake news". Ela também não deu muita importância. Porém, quando voltou à China, recebeu mensagens de seus pais, assustados com as notícias que recebiam no Brasil sobre a expansão do vírus.

Em contato com outros estrangeiros que moram na cidade, Indira viu que também havia preocupação. Ela passou a usar máscaras para sair às ruas e o álcool em gel foi incorporado à rotina de higiene das mãos. "Eu via que os chineses não estavam usando máscaras e que ficavam chateados, como se nós estrangeiros estivéssemos ofendendo eles ao usar máscaras", afirma.

"A gente tenta ocupar a cabeça para não focar no fato de que estamos trancados dentro de casa e que tem um vírus lá fora. Tento fazer que meu dia seja produtivo de alguma forma, lendo e estudando, mas é difícil", afirma.

Fechamento da cidade

No dia 23 de janeiro, o governo chinês ordenou o fechamento da cidade de Wuhan, capital da província de Hubei, onde os primeiros casos da doença surgiram. A entrada e a saída de pessoas foram proibidas e o transporte público e aéreo foi suspenso.

A emergência entrou em vigor às vésperas do Ano Novo chinês, feriado que é responsável pelo maior movimento de pessoas dentro da China e no mundo. A demora do governo em fechar a cidade permitiu que quase a metade da população, 5 milhões de pessoas, deixasse a cidade antes do confinamento, facilitando a rápida expansão do vírus para outras províncias chinesas e para países vizinhos. O prefeito de Wuhan, Zhou Xianwang, admitiu ter falhado em dar respostas e informações quando os primeiros casos da doença apareceram e colocou o cargo à disposição.

"Um dia estava tudo bem, no outro, estávamos na quarentena", afirma Indira. Desde então, ela está confinada em seu quarto no campus da universidade, que assim como a cidade, está deserta.

A acadêmica estava na Europa na primeira semana de janeiro quando leu as primeiras notícias sobre casos de contaminação por uma nova sepa do coronavírus — similar ao Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave) que apareceu em Guangdong, na China, em 2002. Indira conta que as autoridades locais negaram as informações e usaram a TV oficial para informar sobre a difusão de "fake news". Ela também não deu muita importância. Porém, quando voltou à China, recebeu mensagens de seus pais, assustados com as notícias que recebiam no Brasil sobre a expansão do vírus.

O governo chinês pede que a população saia de suas casas somente em caso de extrema necessidade. Indira tenta comprar o máximo de alimentos e água possíveis para evitar se expor. Quando sai, é barrada por um agente da universidade que mede a temperatura dos estudantes que circulam pelo campus. O hospital universitário, porém, está cheio e o acesso à área é restrito aos casos de emergências. "A orientação é de ir ao hospital somente em caso de urgência porque o risco de contaminação é alto", conta.

Apesar da tensão, o clima na cidade é de cooperação. A população segue à risca as orientações do governo, segundo Indira. Na terça-feira, os moradores organizaram uma manifestação da janelas de suas casas."Cantaram o hino chinês e gritaram 'força Wuhan'", conta.

Ela diz que os supermercados dentro e fora do campus universitário são bem abastecidos — e acompanha a rotina dos supermercados por meio do chat que mantém com os outros brasileiros.

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