Doença

"Nunca vi a sopa de morcego", diz brasileiro em Wuhan, foco de novo coronavírus

A comunidade brasileira na cidade epicentro do vírus tem cerca de 70 pessoas; acredita-se que o novo tipo de vírus tenha se originado em um dos ''mercados molhados'' de Wuhan, onde são vendidos animais vivos

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
O mercado de frutos do mar de Wuhan Huanan, onde se suspeita que a nova cepa de coronavírus teria começado a se espalhar
O mercado de frutos do mar de Wuhan Huanan, onde se suspeita que a nova cepa de coronavírus teria começado a se espalhar (Reuters)

PEQUM - Estrangeiros que vivem na cidade de Wuhan se habituam a cada dia ao alerta mundial provocado por um novo coronavírus na China. O estudante brasileiro Heros Fernandes Martines, 23 anos, mora na localidade há mais de um ano e tem evitado sair de casa, para se proteger.

“Tenho ficado só dentro de casa mesmo, me virando com macarrão instantâneo e outras comidas que tenho guardadas”, conta o paulista à RFI, ressaltando que sai às ruas apenas para comprar mantimentos. “Quando eu preciso sair, visto a máscara recomendada – afinal nem todas são seguras.”

O protocolo aconselhado pelas autoridades chinesas inclui ainda medidas frequentes como desinfetar as mãos e a moradia, verificar regularmente a própria temperatura e cozinhar bem os alimentos. A comunidade brasileira na cidade é reduzida, de cerca de 70 pessoas.

Apesar de o número de contaminados (pelo menos 830) e de mortos (26) - até sexta-feira, 24 - subir todos os dias, Heros demonstra confiança na gestão da crise pelo governo local.

“Não me sinto no escuro. A gente recebe mensagens a toda a hora, com as últimas informações”, indica. “O fato de a cidade estar em quarentena me deixa um pouco desconfortável. Mas, no fundo, acho que é melhor assim, para impedir que o vírus se espalhe ainda mais.”

Já a hipótese evocada por cientistas da Academia Chinesa de Ciências de Pequim para explicar a doença, de que a nova cepa tenha se originado no consumo de carnes de animais selvagens como morcegos e cobras, provoca risos no estudante de mandarim. “Nunca vi essa sopa de morcego. Vi algumas fotos e vídeos e nem imaginava que tinha isso aqui”, comenta Heros. “A maior parte da crença popular sobre a alimentação chinesa é bem estereotipada. Nunca vi carne de cachorro, nada disso.”

Transporte interrompido

O expatriado francês Nicolas Duyé, demonstra mais preocupação: qualquer refeição feita fora de casa se tornou motivo de desconfiança. “No restaurante da minha empresa, os funcionários estavam fazendo e servindo a comida sem máscaras”, relata, à RFI. “O que eu mais queria era poder voltar para a França, porque quanto mais ficamos aqui, mais chances temos de ser contaminados. Tentamos partir na quinta-feira, de carro, mas fomos barrados pela polícia quando chegávamos à estrada”, afirma.

O transporte público foi interrompido na cidade e não há previsão de retorno. Além disso, Wuhan é dividida em três setores e, a partir da meia-noite desta sexta-feira (24), vai ficar mais difícil se deslocar de uma área para a outra. Túneis foram fechados e haverá medições de temperatura nas pontes, para poder atravessar de uma região à outra. A megalópole tem 11 milhões de habitantes.

Wuhan vira “cidade fantasma”

A estudante cabo-verdiana Lilian Barros também tem tomado precauções extraordinárias com a alimentação: ela só compra comida em lugares de confiança e cozinha tudo em casa. “Há um clima de medo porque a situação está piorando a cada dia. Estão todos preocupados em se prevenir”, diz a jovem. “Todas as atividades previstas para a celebração do Ano Novo chinês foram canceladas, para evitar a concentração de pessoas. Estamos como numa cidade fantasma: todo mundo só sai para necessidades básicas.”

Lilian percebe uma movimentação excepcional nos centros de saúde de Wuhan: um hospital de campanha, pré-fabricado, está sendo construído em tempo recorde na cidade. A expectativa é de que o local possa começar a funcionar a partir do dia 3 de fevereiro, com vagas para mil pacientes.

Medida semelhante já havia sido tomada em 2003, durante a epidemia de Sars, que causou mais de 700 mortes. Em apenas uma semana, o estabelecimento já podia receber doentes.

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