Espionagem

Há fortes indícios de que Arábia Saudita hackeou celular de Bezos

De acordo com especialistas da ONU, o príncipe herdeiro do reino, Mohammed bin Salman, é suspeito de tentar silenciar cobertura do Washington Post, que pertence ao empresário dono da Amazon

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
O fundador da Amazon, Jeff Bezos, e o príncípe herdeiro saudita Mohammed bin Salman
O fundador da Amazon, Jeff Bezos, e o príncípe herdeiro saudita Mohammed bin Salman (AFP)

SAN FRANCISCO - Dois relatores especiais das Nações Unidas divulgaram um comunicado ontem, 22, que afirma que há fortes indícios de que a Arábia Saudita, com participação direta do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, hackeou o telefone do fundador da Amazon.com, Jeff Bezos. No relatório, eles pedem que os Estados Unidos e outros países investiguem o caso.

"As informações que recebemos sugerem o possível envolvimento do príncipe herdeiro na vigilância do senhor Bezos, em um esforço para influenciar, ou mesmo silenciar, a cobertura do Washington Post sobre a Arábia Saudita", escreveram os especialistas independentes Agnes Callamard, relatora especial para assassinatos extrajudiciais, e David Kaye, relator especial para liberdade de expressão, no comunicado no qual se dizem "muito preocupados" com o caso.

As autoridades das Nações Unidas afirmaram que consideram confiável um relatório forense encomendado pela equipe de segurança de Bezos, que concluiu que seu telefone provavelmente foi hackeado a partir de um vídeo contaminado enviado de uma conta do WhatsApp pertencente ao príncipe herdeiro saudita, conhecido pela sigla MBS.

Bezos é dono do Washington Post, para o qual colaborava o jornalista saudita dissidente Jamal Khashoggi, assassinado no consulado saudita em Istambul em outubro de 2018.

O comunicado da ONU também diz que há indícios de um padrão de vigilância contra possíveis adversários das autoridades da Arábia Saudita, que supostamente monitoram sauditas e não sauditas de importância estratégica para as "avaliações das alegações do envolvimento do príncipe saudita no assassinato em 2018 do jornalista saudita do Washington Post Jamal Khashoggi".

A suposta invasão do telefone de Bezos e de outros "exige investigação imediata por parte dos EUA e de outras autoridades relevantes, incluindo a investigação do envolvimento contínuo, ao longo de vários anos, direto e pessoal do príncipe herdeiro nos esforços para atingir os oponentes", diz a nota.

O relatório da FTI Consulting concluiu que grandes quantidades de dados começaram a sair do telefone de Bezos cerca de um mês após o compartilhamento do vídeo pelo número de WhatsApp de MSB, em maio de 2018. À época, o princípe saudita, que conhece o empresário pouco antes, já estaria preocupado com a cobertura crítica que o Washington Post vinha fazendo do seu reino. Cinco meses depois, em setembro de 2018, Khashoggi foi assassinado no consulado em Istambul, onde havia ido buscar documentos para se casar com sua noiva turca.

National Enquirer

Em janeiro de 2019, o tablóide National Enquirer, do grupo American Media Inc (AMI), publicou uma série de reportagens sobre a vítima íntima de Bezos, dando detalhes de um caso extraconjugal dele com uma ex-apresentadora de televisão, incluindo a reprodução de conversas dos dois por mensagem de texto. Foi então que o dono da Amazon e do Washington Post pediu a investigação da FTI Consulting.

Em consequência das reportagens, Bezos se divorciou em junho de 2019 da mulher, MacKenzie Bezos, pagando uma indenização de US$ 38 bilhões a ela.

Na época, o grupo AMI afirmou que soubera do caso por meio do irmão da namorada de Bezos, mas a equipe de segurança do empresário disse em março "ter alta confiança" de que a Arábia Saudita tinha tido acesso ao seu telefone e obtido informações particulares dele, incluindo as mensagens de texto trocadas com a ex-apresentadora.

" Relação próxima"

O chefe de segurança de Bezos também falou que o príncipe herdeiro saudita tinha desenvolvido uma "relação próxima" com David Pecker, proprietário da AMI, por sua vez próximo do presidente Donald Trump. A Arábia Saudita disse então que não tinha nada a ver com as reportagens.

A embaixada da Arábia Saudita nos EUA rejeitou o relatório dos especialistas da ONU. "Relatos recentes da imprensa que sugerem que o reino está por trás de uma invasão do telefone de Jeff Bezos são absurdos. Pedimos uma investigação sobre essas alegações para que possamos descobrir todos os fatos", afirmou a embaixada em uma mensagem postada no Twitter.

O ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, príncipe Faisal bin Farhan Al Saud, disse que a alegação era "absurda".

" Acho absurdo a palavra certa", disse ele à Reuters em entrevista na reunião anual do Fórum Econômico Mundial em Davos. "A idéia de que o príncipe herdeiro invadiu o telefone de Jeff Bezos é absolutamente boba".

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