Artigo

A Corrida (ou a ''Puxada'') do Mastro

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

A festa tradicional de São Sebastião, no dia 20 de janeiro de cada ano, remonta muito tempo atrás e, ainda hoje, é cada vez mais cultuada pela população caxiense e de cidades vizinhas.

Em 1953, em Caxias, não sei bem se era assim que denominavam a retirada da árvore das terras do Inhamun, em louvor ao Santo, na época da sua festa; só sei que, naquele ano, participei dessa verdadeira ‘procissão’ na qualidade de Atirador n° 15 do então Tiro de Guerra n° 194, sob o comando do Sargento Zerlino Prado de Souza, chefiados pelo Tenente Aluízio de Abreu Lobo, representante da 10º Região Militar.

Naquela época essa busca era uma tarefa exclusiva dos Atiradores e hoje em dia existe até comissão organizadora e fiscais da reserva ecológica, para definição da árvore a ser cortada e da tecnologia utilizada na sua derrubada.

A sede do Tiro ficava ao lado da Igreja do Santo: uma porta, várias janelas, área avarandada, um pequeno jardim ao lado, terreno ao fundo, à frente mangueiras frondosas marcadas pelo tempo há 67 anos decorridos.

Os Atiradores, nos dias que antecediam à grande Festa, tinham a grata missão de, em marcha-batida, caminhar até as matas do Inhamun e de lá trazer o grande Mastro. Eram os “mateiros” da época: obedeciam à crendice popular que impõe sacrifícios em memória do Santo, da forma como teria sido flagelado antes de morrer, e deveriam buscar a remissão dos pecados cada um ajudando a carregar a sua cruz.

Nossa tarefa naquele ano foi num domingo antecedente ao dia da Festa. Após vários quilômetros de marcha, cansados, mas entusiasmados, entramos na mata à procura da árvore que tivesse o tronco mais reto e mais alto; achada (Imbiriba do Brejo?), a madeira era cortada na base e totalmente desgalhada, para facilitar o transporte até a sede do TG.

Daí por diante, precisaríamos de muita Fé e devoção, além de muito espírito esportivo, para vencer o percurso de volta ao largo do Santo. Muitos ficavam para trás, não aguentavam o peso na distância.

A trajetória era feita sob táticas militares: cronometragem do tempo de cada grupo, palavras de ordem e de incentivo; revezamento de posições, substituição dos mais exaustos, tudo em função do objetivo maior de servir ao Santo.

O Mastro era tido como um verdadeiro troféu ao chegar à sede do Tiro: os devotos aplaudiam o feito dos Atiradores e louvavam a homenagem ao Santo. Nos próximos dias, nossa tarefa diária seria mente-lo sempre ensebado, sob sol, chuva e sereno, para torna-lo o mais liso possível e assim dificultar a disputa dos concorrentes aos prêmios, colocados no topo.

Depois da Missa, no Largo cheio de atrações, começava a concorrência pelos prêmios. Podem acreditar: ninguém conseguia subir até o topo do Mastro, mesmo com sacos umedecidos e areia nos pés; era uma diversão só e, ainda que abusando das regras estabelecidas, ninguém conseguia galgar nem que fosse alguns metros acima.

Salve São Sebastião, salve!

Antônio Augusto Ribeiro Brandão

Economista, membro Honorário da ACL e da ALL, filiado à IWA e ao ELOS Literários

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