Padrões estéticos

Gorda ou magra? O padrão é ser feliz do jeito que é!

Em São Luís, diferentes perfis do sexo feminino são encontrados quando o assunto é a determinação de padrões estéticos

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
No período Renascentista, a mulher gorda era cultuada em pinturas, como esta de Renoir,  “Mulher Depois do Banho”
No período Renascentista, a mulher gorda era cultuada em pinturas, como esta de Renoir, “Mulher Depois do Banho” (Renoir)

Desde que o mundo é mundo, o homem busca moldar-se e estabelecer padrões estéticos que, de acordo com a sociedade e os costumes, variam com o passar dos séculos. Até o século XVIII, ser acima do peso era algo natural e estava intimamente relacionado com fartura. Ser gordo era quase associado à condição social, ou seja, quanto mais peso, mais atributos financeiros a pessoa continha.

A partir do surgimento das primeiras pesquisas científicas acerca do corpo e a descoberta de malefícios causados por ingestão excessiva de determinadas substâncias, esse padrão de beleza ganhou ares inversos. Se antes ser rechonchudo era nobre, com novos conhecimentos, o ser humano passou a percorrer o outro polo do gráfico e a buscar a magreza.
Independentemente de qual padrão seguir ou qual é o mais correto, o importante é entender que não se deve estabelecer um padrão superior ao outro, já que ambos (magreza ou “gordeza”) possuem vantagens e desvantagens. No caso das mulheres, essa aceitação da diversidade é mais difícil, por fatores ligados à autoestima e, principalmente, a vaidade.

O Estado vai, nesta reportagem, contar histórias de mulheres que se aceitam como gordas (termo recomendado pelas próprias e que decidiram abominar expressões consideradas pejorativas, como fofinhas ou gordinhas) e de pessoas de um perfil oposto, que não se “aceitaram” acima do peso e decidiram emagrecer. São exemplos que demonstram a necessidade de se entender a diversidade e, principalmente, a polaridade no pensamento estético.

Concepção dos padrões
Antes de se debruçar sobre estas duas formas de pensar sobre si, é necessário enfatizar as diferentes concepções do corpo ao longo dos séculos e de que forma os padrões voltados à moldura corporal foram estabelecidos. Até o final do século XVIII, em boa parte do mundo, a conjuntura mais gorda era sinônimo de aspecto saudável, já que os “excessos” estavam pautados em quem ingeria mais alimentos.

Antes disso, até o século XVI, as mulheres eram literalmente cultuadas por suas formas mais rechonchudas em pinturas. Era uma das caracterizações marcantes do período renascentista, nascido da Itália do século XIV e que influenciou a arte em outras partes do mundo.

Nos séculos XVII e XVIII, trazendo para a sociedade brasileira, membros da corte portuguesa se “esbaldavam” com alimentos compostos por excessivas doses de carboidratos e gorduras nocivas. Com o aparecimento de doenças e desenvolvimento de pesquisas mais aprofundadas acerca de benefícios e malefícios ao organismo, o chamado imaginário “negativo” do corpo gordo se consolidou.

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De acordo com Georges Vigarello – um historiador e sociólogo francês – o chamado “sofrimento do gordo” somente é relatado a partir do século XIX, quando aspectos ditos e relacionados à felicidade (busca pela pessoa amada e ascensão social) estão relacionados ao ser gordo ou ser mais magro. No final do século XIX, em determinadas sociedades, pessoas gordas passam a ser expostas em público para serem hostilizadas ou alvos de repressão.

A partir do século XX, o gordo se torna – para a maioria da sociedade brasileira e em outras partes do mundo – como alguém “incapaz e inerte” e o olhar passa a ser não somente para a origem étnica ou conteúdo intelectual. Passava-se a ver o ser humano de forma íntegra, analisando tanto quanto o rosto e outras partes.

Ainda segundo Vigarello em seus estudos, a figura do gordo passa a restringir alimentos ricos em açúcar e amido. Se antes, no imaginário do tempo antigo, essas fontes de energia eram indispensáveis, as substâncias passaram a carregar o rótulo de nocivas. Soma-se à limitação biológica o lado social.
Há relatos de que, a partir do século XX, com novas características nas relações pessoais, as dificuldades sociais (que restringiam o acesso à pessoa amada) também obrigaram aos gordos a dar mais valor à magreza. Era a consolidação de um padrão social (neste caso, o magro) mais aceito do que o outro.
Atualmente, as pesquisas e levantamentos de pastas acerca da saúde dos brasileiros, em sua maioria, utilizam como referência as taxas corporais e itens, como peso e altura. Em São Luís, está registrado um dos menores percentuais de obesos do país.

Preocupação com a balança
Dados da última Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), apontam que, na capital maranhense, está registrada atualmente a menor taxa, dentre as capitais, de pessoas acima do peso ou obesas.

Segundo o levantamento, até o fim de 2018 – prazo em que fora findado o estudo – a prevalência de obesidade foi de 15,7%. Enquanto a capital, São Luís, estabeleceu-se com valores baixos de pessoas com “alguns quilos a mais” no padrão estético, em Manaus (AM), o percentual foi de 23%.

Cidades como São Paulo (23%), Rio de Janeiro (22%) Recife (22%) e Fortaleza (20%) apontam para valores bem acima dos registrados em São Luís. Fatores são apontados para o índice. Além da ingestão considerada alta de alimentos saudáveis (como frutas e verduras), a preocupação com a parte física também gerou resultados considerados “positivos” para nutricionistas e especialistas em geral.

Na capital maranhense, é comum ver em diversos bairros, por exemplo, academias e orientadores físicos disponibilizando seus serviços por preços populares para uso de adultos e idosos. Além disso, há os chamados “atletas por conta própria”, ou seja, quem faz uma corridinha ou quem é o próprio “personal trainer”. Esta última prática, por sinal, não é recomendada e sim sempre procurar uma orientação de profissional especializado.

E quanto às gordas? Quantas são?
Enquanto, na capital maranhense, há baixo índice de pessoas obesas, em todo o país o cenário é outro. Parecer da Vigitel informa que houve elevação de 67,8% no percentual de cidadãos acima do peso no território nacional. De acordo com o levantamento, o Brasil saiu de 11,8% em 2006 para 19,8% em 2018.

Apesar do excesso de peso ser mais comum entre os homens, o crescimento da obesidade foi registrado entre as mulheres. De acordo com o Ministério da Saúde, houve um crescimento de 40% na quantidade de pessoas do sexo feminino acima do peso. O levantamento do Governo Federal mais recente e divulgado no ano passado apontou ainda que fatores, como alimentação por exemplo, não são preponderantes nesta elevação.

Segundo a Vigitel, o consumo regular de frutas e hortaliças cresceu 15,5% entre os anos de 2008 e 2018. A prática de atividade física no tempo livre também aumentou nos últimos dez anos. Um quarto da população brasileira que, até então, estava entregue ao sedentarismo passou a adotar hábitos de movimentação do corpo e, desta forma, buscar o lado da magreza quando o tema é valor estético.

Em São Luís, dados do setor comercial indicam uma elevação substancial no quantitativo de academias, que oferecem - além de métodos de treinamento e suplementos – um padrão de magreza que leva mulheres, em especial, a pagar “o que não tem” em prol do que a sociedade passou a chamar de “corpo perfeito”.

Em São Luís, a proporção de mulheres nas academias, em comparação aos homens, é praticamente equânime. Apesar disso, histórias de pessoas que se sentem bem, sendo gordas, também são mais comuns do que se pensa.

NÚMEROS
67,8%
foi a elevação no percentual de cidadãos e cidadãs acima do peso no território nacional em 12 anos
11,8% era o índice de homens e mulheres obesas em 2006
19,8% era o índice de homens e mulheres obesas em 2018
15,5% foi a elevação entre os brasileiros do consumo regular de frutas e hortaliças entre 2008 e 2018
40% foi o crescimento na quantidade de pessoas do sexo feminino acima do peso no Brasil

Fonte: Ministério da Saúde

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