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Vale tudo?

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

“Confusão na abertura oficial do carnaval carioca reacende debate entre blocos de bairro e megaeventos.” Essa é apenas uma das manchetes da imprensa do Rio de Janeiro, a respeito do Carnaval da ex-Cidade Maravilhosa, cujo início oficial foi antecipado em quase cinquenta dias este ano. A confusão era previsível, visto a prefeitura do Rio de Janeiro ter autorizado a participação no evento do Bloco da Favorita. Este, apesar do nome, parece-me ter promovido um megaevento do mundo dos shows e não um Carnaval de rua, sem se preocupar com a infraestrutura necessária às atividades inerentes a esse tipo de atividade.

A CS Eventos, empresa responsável pela organização do Bloco da Favorita, disse que assuntos relacionados à segurança pública são de responsabilidade do Poder Público e não dela. Errado. São dos dois em conjunto. Se a empresa avaliava não haver garantia de segurança para os participantes e os moradores do bairro, Copacabana, então o show não deveria ser realizado. Afinal o número estimado de pessoas presentes ali naquela ocasião foi de 300 mil, enquanto toda a população de Copacabana é de, aproximadamente, 174 mil. Esses 300 mil deslocaram-se, em sua maioria, de outros locais da cidade, inclusive os turistas. A relação chegou, no mínimo, a 1,5 pessoas de fora, para cada morador do bairro. Resultado: bombas de gás, gente ferida, brigas, arrastões, tráfico de drogas, furtos, roubos, furtos. Vejam o grau de descontrole! Ao tentar liberar as vias de acesso ao local, a guarda municipal foi impedida de fazê-lo por ambulantes.

Os habitantes de Copacabana são contra megaeventos, pelas perturbações de todo tipo causadas a eles, mas não contra o Carnaval de rua, mais adequado a um bairro residencial. Assim pensa também o Ministério Público Estadual do Estado, que tentou suspender o evento duas vezes, com base em representação da Sociedade Amigos de Copacabana, mas teve seu pedido negado pela Justiça.

O prefeito da cidade não mostra muito entusiasmo com a festa, mas tal atitude não pode nos levar a desconhecer a importância econômica do Carnaval do Rio, como também os das milhares de cidades por todo o Brasil. O reconhecimento dessa realidade não implica um jogo sem regras. As comunidades devem zelar em primeiro lugar pelo bem-estar de seus habitantes. Há momentos em que o legítimo lucro das empresas (estas existem para gerar lucros e não prejuízos), a geração de empregos, o treinamento da mão de obra e outros itens podem, em certas conjunturas, gerar custos superiores, entendidos estes em sentido abrangente, aos benefícios gerados na sua obtenção. Chega, assim, a hora de parar tudo com o fim reavaliar toda a operação e procurar soluções com a participação dos interessados também legítimos.

O problema é, em grande parte, consequência da cultura do jeitinho, do deixar passar pequenas desobediências transformadas, no final e em seu conjunto, em desobediência incivil a quaisquer normas, estas a base da vida civilizada. O Carnaval não pode servir de desculpa ao salve-se quem puder, à lei da selva. Aqui em São Luís, estamos mais perto da selvageria, neste aspecto, do que da civilidade. Existe uma decisão do Tribunal de Justiça do Maranhão determinando aos órgãos do Executivo a exigência, aos estabelecimentos com atividades capazes de gerar poluição sonora, de isolamento acústico em suas dependências, como pré-condição de licenciamento Até agora nenhum deles fez a exigência.

Lino Raposo Moreira

PhD, economista, membro da Academia Maranhense de Letras

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