Governo iraniano

Irã vive guerra de versões sobre repressão a manifestações

Vídeo mostra supostas vítimas de armas de fogo, mas governo nega ter disparado contra manifestantes; atos são liderados por estudantes universitários, que pedem a demissão dos principais dirigentes do país

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Mulher aponta o dedo para policial na Universidade Amir Kabir, em Teerã
Mulher aponta o dedo para policial na Universidade Amir Kabir, em Teerã (Reuters)

TEERÃ - Assim como havia acontecido nos protestos de novembro do ano passado, na época contra um aumento do preço dos combustíveis, os iranianos acordaram ontem,13, com um choque de versões a respeito do nível da repressão empregada pelas forças de segurança contra as manifestações que acontecem desde sábado em Teerã e outras cidades. As manifestações, que na capital são lideradas por estudantes universitários, pedem a demissão dos principais dirigentes do país depois que a Guarda Revolucionária admitiu que derrubou, por engano, um avião ucraniano com 176 pessoas a bordo, no dia 8 de janeiro.

Vídeos que circulam nas redes sociais mostram supostas vítimas de armas de fogo na dispersão das manifestações que ocorreram no domingo na Praça Azadi e na Avenida Enghelab, respectivamente no oeste e no centro de Teerã, mas o governo nega ter disparado contra os manifestantes e a polícia afirma ter recebido ordens para atuar "com moderação".

Um dos vídeos que circularam durante a madrugada de ontem, 13, (horário local) mostra uma calçada repleta de grandes marcas de sangue. A imagem vai seguindo em direção a um grupo que parece estar socorrendo uma pessoa caída. Como o autor foca nas manchas no chão, não é possível confirmar o local da filmagem.

Sangue no chão

Em outra sequência de imagens postadas pelo mesmo usuário, novamente aparecem imagens de sangue no chão e as mãos ensanguentadas de um homem, que fala ao fundo: “é de um homem que foi atingido”. Um outro vídeo mostra um integrante das forças de segurança correndo com um fuzil nas mãos e o autor da postagem afirma ter sido ele o autor dos disparos anteriores. Também ouve-se barulho de disparos de armas.

As autoridades iranianas negaram ter atirado contra as pessoas e, principalmente, com o uso de munição. O comandante das forças de segurança da capital, general de brigada Hossein Rahimi, disse à agência de notícias ultraconservadora Fars News que suas tropas agiram com “moderação” ao lidar com os manifestantes.

"A polícia não disparou tiros durante os protestos de ontem", disse o general, que acrescentou que muitos estão bombardeando o país com mentiras e propaganda.

Vale lembrar, no entanto, que o regime também havia negado violência contra os manifestantes em novembro do ano passado e até hoje permanece desconhecido o número real de vítimas. O governo não divulga um número preciso e afirma que muitos dos mortos são membros das próprias forças de segurança, atacados pelos manifestantes e por “infiltrados estrangeiros”. A organização Anistia Internacional apontou que 300 pessoas morreram durante aqueles dias. Um levantamento da agência de notícias Reuters contabiliza em 1.500 o número de vítimas.

Antes dos protestos da noite de domingo, 12, foi constatado na região central de Teerã um grande aparato de segurança que havia sido montado para dispersar manifestações. Carros blindados das forças especiais e milhares de policiais com cassetetes e escudos foram mobilizados. Havia também soldados com uniformes camuflados ou todo preto portando fuzis.

O esquema de segurança do regime iraniano foi mantido na manhã desta segunda-feira, com grupos de policiais postados nas esquinas da região central de Teerã e dezenas de viaturas posicionadas. Embora ainda não haja confirmação de horário e local, jovens nas redes sociais anunciam que novos protestos devem acontecer à tarde e à noite. Pela manhã, no terceiro dia consecutivo, estudantes universitários voltaram a se reunir dentro de seus campi para protestar contra o governo.

Manifestações

No sábado e no domingo, as manifestações foram lideradas por estudantes da Universidade Amir Kabir,considerada uma universidade de elite no Irã. Ela concentra os cursos de engenharia e tecnologia, muito valorizados pela população local. Ao contrário dos demais países, onde os cursos da área de humanas em geral concentram os estudantes mais contestadores, a instituição é um dos motores da vanguarda dos protestos, ao lado da Universidade de Teerã. Uma possível explicação é que os cursos de ciências humanas acabam sofrendo grande influência religiosa em seus currículos.

Iranianos também reclamam desde a tarde de domingo de mau funcionamento das redes de internet. O fornecimento de internet não chegou a ser interrompido, como o governo havia feito durante os protestos de novembro passado. Mas nota-se em alguns momentos uma intermitência na velocidade, que chega a ficar poucos minutos muito lenta, sem abrir sites. Nesses períodos também se torna difícil conectar os VPNs, ferramenta usada pela população para burlar a censura na internet e acessar sites de notícia do exterior, assim como redes sociais que não são permitidas no país, como o Twitter.

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