Desafio ao regime

Iranianos voltam a protestar após militares admitirem ter derrubado avião ucraniano

Manifestantes foram reprimidos com bombas de gás e embaixador britânico foi detido por algumas horas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Manifestantes se reuniram em Teerã após militares iranianos admitirem ter abatido avião civil
Manifestantes se reuniram em Teerã após militares iranianos admitirem ter abatido avião civil (Reuters)

TEERÃ - Dezenas de manifestantes se reuniram pelo segundo dia no Irã ontem,12, cantando slogans contra as autoridades após o governo admitir ter derrubado o Boeing 737-800 da Ukraine International Airlines que caiu perto de Teerã na quarta-feira "por erro humano", depois de dias negando a culpa.

"Eles estão mentindo que nosso inimigo é a América, nosso inimigo está aqui", entoaram manifestantes que se reuniram na rua em frente a uma universidade em Teerã, desafiando a truculência do regime. Eles também se reuniram em outras cidades.

No sábado, 11, estudantes universitários realizaram uma manifestação no fim da tarde (horário local), na qual o embaixador britânico foi preso por algumas horas por "incitar protestos contrários ao governo".

Centenas de estudantes se reuniram em frente à Universidade AmirKabir para protestar contra o governo – vale ressaltar que sábado,11, é o primeiro dia útil da semana no calendário iraniano, portanto dia letivo. O grupo entoou diversos gritos contra o governo e chegou a pedir mais que a renúncia de Rouhani: “Renúncia não é suficiente; julgar é necessário”, gritaram os estudantes.

No fim da tarde, o grupo foi disperso com bombas de gás jogadas por forças de segurança. Em outro protesto, na faculdade Sharif, novamente centenas de alunos de reuniram e chegaram a pedir a renúncia do líder máximo do Irã, o Aiatolá Ali Khamenei. Os universitários rasgaram um grande pôster com a foto do general Qassem Soleimani, assassinado em um ataque norte-americano, em Bagdá, em meio a gritos de “Soleimani assassino”.

O embaixador britânico em Teerã, Rob Macaire, ficou três horas detido após comparecer aos atos em frente à universidade. Segundo a imprensa estatal iraniana, ele teria "incitado protestos contrários ao governo". No domingo, 12, ele negou ter participado de qualquer manifestação contra as autoridades.

"Posso confirmar que não participei de nenhuma manifestação", disse Macaire em sua conta no Twitter. "Eu fui a um evento anunciado como uma vigília para as vítimas da tragédia (do voo) #PS752." "Saí do local depois de cinco minutos, quando algumas pessoas começaram a lançar palavras de ordem", disse em mensagens em inglês e persa.

Racha político

Se, entre a maior parte da população iraniana, prevaleceu o silêncio, no establishment político, o anúncio do governo iraniano começou a provocar manifestações de divisão. O país se uniu incondicionalmente depois do assassinato do general Qassem Soleimani, em um ataque perpetrado pelos Estados Unidos, na quinta-feira, dia 2.

Neste sábado, porém, voltaram a surgir críticas ao governo iraniano por parte de políticos da oposição. O reformista Abdollah Ramezanzadeh, ex-governador da Província do Curdistão (1997-2001) e ex-secretário de governo do presidente Mohammad Khatami (2001-2005), questionou em suas redes sociais: “por que vocês não falaram desde o começo? Por que nós devemos confiar?”, em referência ao intervalo de três dias para assumir a responsabilidade pela queda do avião.

Outro reformista que criticou o governo foi o parlamentar Mahmoud Sadeghi. Também em suas redes sociais, o membro dos madjles disse que “nos eventos de novembro, vocês esconderam o número de mortos e esconderiam as causas da queda do avião, se pudessem”. A fala sobre novembro se refere aos protestos que tomaram o país após o aumento no preço dos combustíveis e que foram violentamente reprimidos pelas forças.

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