Ameaça

Em Teerã, filha e substituto de Soleimani juram vingança

Filha de general que comandava unidade de elite da Guarda Revolucionária chama Trump de ''maluco'' e diz que ''dia escuro'' recairá sobre os EUA e Israel;Ainda ontem, o corpo seguiu para Qom, cidade sagrada no centro do país

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Líder supremo do Irã, Ali Khamenei, presidente Hassan Rouhani  e novo líder das Forças Quds, Esmail Ghaani
Líder supremo do Irã, Ali Khamenei, presidente Hassan Rouhani e novo líder das Forças Quds, Esmail Ghaani (AFP)

TEERÃ — A filha e o sucessor do general iraniano Qassem Soleimani prometeram vingança aos Estados Unidos durante o cortejo fúnebre para o chefe militar que reuniu centenas de milhares de pessoas nas ruas de Teerã nesta segunda-feira. Soleimani foi assassinado por um míssil americano na madrugada da última sexta-feira,3, e seu funeral já é considerado o maior da História do país, ultrapassando as cerimônias de 1989 em homenagem ao aiatolá Ruhollah Khomeini, líder da Revolução Iraniana de 1979.

"Nós prometemos continuar o caminho do mártir Soleimani com a mesma força, e a única compensação para nós seria remover os EUA da região — disse o general Esmail Ghaani, que substituiu Soleimani no comando das Forças Quds, unidade de elite da Guarda Revolucionária do Irã. — Deus, o Todo Poderoso, prometeu sua vingança e Deus é o maior vingador.

Tom similar foi adotado por Zeinab Soleimani, filha do comandante militar: " As famílias de soldados americanos no Oriente Médio vão passar os dias esperando pela morte dos seus filhos. Trump, maluco, não pense que tudo acabou com o martírio do meu pai", disse a mulher, afirmando ainda que “um dia escuro” recairá sobre os Estados Unidos e Israel.

O terceiro dia do prolongado rito de despedida do general teve início com um ato religioso na Universidade de Teerã. A cerimônia foi comandada pelo líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, que guiou as orações e voltou a ameaçar com “vingança implacável” contra os responsáveis pela morte do general. A TV estatal iraniana mostrou o líder supremo chorando em diversos momentos.

Em seguida, a procissão foi para a Praça Azadi (liberdade, em persa), situada no Oeste da capital, em um cortejo acompanhado por centenas de milhares de pessoas que carregavam fotos de Soleimani e frases de vingança, além de bandeiras do Irã, do Iraque e do Líbano.Segundo a mídia iraniana, a multidão chega à casa dos milhões.

Ainda ontem, o corpo seguiu para Qom, cidade sagrada no centro do país, antes de prosseguir para a cidade natal do general, Kerman, onde o enterro está previsto para esta terça-feira,7.

Além do Suleimani, corpos de outros cinco mortos no ataque americano também estão sendo velados — entre eles o de Abu Mahdi al-Muhandis, vice-comandante das Forças de Mobilização Popular (FMP), coalizão de milícias xiitas iraquianas pró-Irã formadas em 2014 para combater o Estado Islâmico no Iraque e depois foram incorporadas às forças de segurança do país.

Desde sábado, os corpos fazem uma peregrinação por locais sagrados para os muçulmanos xiitas. Após percorrer cidades iraquianas no sábado, o cortejo desembarcou em Ahvaz, no Sudoeste do Irã, acompanhado por uma multidão. Em seguida, foi para Mashhad, cidade mais sagrada da República Islâmica, onde está o santuário do oitavo imã dos xiitas, Reza. Em sinal de luto, a iluminação verde do santuário de Mashhad foi substituída por luzes pretas.

Crime de guerra anunciado

O assassinato de Soleimani está unificando um país em crise econômica, duramente afetado pelas sanções impostas pelos Estados Unidos quando se retiraram em 2018 do acordo nuclear assinado entre o país persa e as principais potências globais em 2015. As sanções fortaleceram a ala mais conservadora da República Islâmica, e protestos contra um aumento da gasolina em novembro haviam sido duramente reprimidos, com centenas de mortos, segundo organizações de direitos humanos.

Horas antes do início das cerimônias em Teerã, o presidente dos EUA, Donald Trump, voltou a afirmar que pode atacar locais de importância cultural para o Irã, uma vez que, segundo ele, o país "matou americanos". O comentário endossa uma postagem que o presidente fez em seu Twitter no sábado, em que disse que os EUA têm 52 alvos iranianos na mira, “alguns deles de alto nível” e “de grande importância para o Irã e para a cultura iraniana”, e que não hesitará em atacá-los caso os iranianos atinjam pessoas ou propriedades americanas. Pela lei internacional, destruir deliberadamente centros e locais culturais de um país é considerado crime de guerra.

EUA prometem responder

O presidente americano disse ainda que, se houver ações contra pessoas e instalações americanas, os EUA responderão "rapidamente e totalmente, talvez de maneira desproporcional". Segundo ele, essa mensagem equivale a uma "notificação" do Congresso americano, onde os democratas o criticaram por ordenar a operação contra Soleimani sem consulta ao Legislativo.

Políticos democratas, no entanto, questionam não só a validade da Inteligência que motivou o ataque contra Suleimani — de que estaria preparando uma onda de ataques a alvos americanos na região — mas o fato de que o Congresso não foi notificado sobre a operação.

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