Crítica

Alemanha critica Trump por ameaçar Iraque com sanções

Ministro alemão pediu diálogo ao invés de intimidações; China diz estar ''altamente preocupada'' com agravamento de tensões

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, durante encontro em Berlim
Ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, durante encontro em Berlim (Reuters)

BERLIM — Em uma crítica direta aos Estados Unidos, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha afirmou que ameaçar o Iraque com sanções "não é muito útil", após o presidente americano, Donald Trump, dizer que Bagdá pode ser atingida por medidas "como nunca antes vistas" caso as forças americanas sejam forçadas a deixar o país.

" Não acredito que ameaças funcionem para convencer o Iraque, e sim argumentos", disse Heiko Maas à rádio pública Deutschlandfunk.

No domingo, o Parlamento iraquiano aprovou uma resolução que pede a retirada das tropas americanas do país. A medida é uma represália ao assassinato do general iraniano Qassem Soleimani e do comandante militar iraquiano Abu Mahdi al-Muhandis, em um ataque com mísseis realizado pelos EUA na madrugada de sexta-feira no aeroporto internacional de Bagdá.

Soleimani dirigia as Forças Quds da Guarda Revolucionária do Irã, unidade de elite responsável pela articulação regional dos diversos grupos pró-Irã em países como Síria e Iraque. Muhandis era vice-comandante das Forças de Mobilização Popular (FMP), coalizão de milícias xiitas pró-Irã criadas no Iraque para combater o Estado Islâmico. Ambos haviam combatido o EI ao lado de forças americanas.

Os EUA invadiram o Iraque em 2003 para derrubar Saddam Hussein, sob o falso pretexto de que ele detinha armas de destruição em massa, e oficialmente se retiraram em 2011. Posteriormente, foi feito um novo acordo específico para combater o Estado Islâmico, grupo fundamentalista da vertente sunita do islamismo que a partir de 2014 ocupou várias cidades iraquianas. Os EUA mantêm atualmente cerca de 5.200 soldados no Iraque.

Ontem, 6, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciaram um encontro no próximo sábado.11. para discutir a crise provocada pelo assassinato de Soleimani. Os líderes também irão discutir a situação na Síria, na Líbia e na Ucrânia, segundo o Kremlin.

A decisão de Trump de ordenar o ataque de sexta-feira se seguiu a um ano de recrudescimento da tensão entre os EUA e o Irã, depois que Washington abandonou em maio de 2018 o acordo nuclear firmado entre Teerã e as principais potências globais em 2015 e reimpôs sanções econômicas ao país persa.

Após uma reunião de emergência para tratar da escalada de tensões no Oriente Médio, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que todos os integrantes da Aliança Atlântica defendem o ataque que assassinou Soleimani. Ele, em seguida, fez um apelo para a redução das tensões na região, ecoando as declarações de alguns líderes europeus.

"Nós estamos unidos em condenar o apoio que o Irã dá para uma variedade de grupos terroristas diferentes", disse Stoltenberg. "Na reunião de ontem, aliados pediram cautela e a redução [das tensões]. Um novo conflito não é do interesse de ninguém. Então, o Irã deve se abster de mais violência e provocações.

Teerã, por sua vez, prometeu publicamente vingar a morte de Soleimani, e Trump, por sua vez, ameaçou retaliações a possíveis novos ataques iranianos contra cidadãos ou ativos dos EUA. Segundo o presidente americano, os EUA têm 52 alvos iranianos na mira, "alguns deles de alto nível" e de "importância para o Irã e para a cultura iraniana". De acordo com a lei internacional, destruir deliberadamente centros e locais culturais de um país é considerado crime de guerra.

China "altamente preocupada"

Ontem, 6, a China criticou os Estados Unidos pelo agravamento de tensões no Oriente Médio através do uso de força.

"Políticas de poder não são populares nem sustentáveis", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Geng Shuang, em entrevista coletiva. "O arriscado comportamento militar dos EUA nos últimos dias vai contra as normas básicas das relações internacionais, sinalizando que Trump cruzou uma linha vermelha ao ordenar o assassinato de um general de um país estrangeiro".

Shuang também afirmou que a China está "altamente preocupada" com o impasse entre os EUA e o Irã, pedindo para os EUA "não abusarem de sua força", a fim de "evitar que a situação se agrave".

Ameaças

Em tom similar ao adotado pelo ministro alemão Haas, o porta-voz criticou as ameaças de sanções contra o Iraque em resposta à decisão parlamentar iraquiana.

"A China tem constantemente se colocado em oposição ao uso arbitrário e à ameaça de uso de sanções", disse o porta-voz. "Desejamos que os países relevantes, especialmente grandes países de fora da região, possam fazer mais para promover a paz e a segurança do Oriente Médio, e que evitem ações que agravem tensões regionais".

Em teleconferência na noite de domingo, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, também pediu para Trump "reduzir" a tensão com o Irã. Apesar de poucos detalhes divulgados, a Casa Branca afirmou em um comunicado que ambos os líderes "reafirmaram a aliança entre os dois países". Nesta segunda-feira, Johnson conversou com o primeiro-ministro do Iraque, Adel Abdul Mahdi, e seu gabinete afirmou que os líderes "concordaram em trabalhar juntos para encontrar um caminho diplomático".

Segundo o jornal Financial Times, Johnson concordou com a visão de Trump de que Soleimani seria uma "ameaça aos nossos interesses e responsável por um padrão de comportamento disruptivo e desestabilizador".

No entanto, após conversas com Merkel e com o presidente francês, Emmanuel Macron, Johnson disse, segundo o Financial Times:

"É claro que todos os pedidos por retaliação ou represália simplesmente levarão a mais violência na região, e isto não é do interesse de ninguém".

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