Opinião

Labirintos onde me perco

 Exposição de Marçal Athayde apresenta criações desafiadoras para o público

Henrique Augusto Moreira Lima/ Especial para o Alternativo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
(Marçal Athayde)

SÃO LUÍS- Ao entrar no Museu Histórico e Artístico, na noite de 17/12/2019, fiquei perplexo com as criações desafiadoras de Marçal Athayde.

Seus imensos painéis de uma pintura em tons cinzas carregam no seu bojo um pedido de socorro contido. Lembro de um patinho solitário, nadando num lago imenso, longe de um mundo inalcançável de muralhas gigantes. Deparei pasmo com uma imensa escultura em madeira, onde os personagens se deslocam velozmente em busca de um sentido. Athayde, como um pianista maduro, apresenta uma sonoridade mágica com seus dedos pequenos dedilhando com limpeza e apuros técnicos, teclas de cristal, num piano invisível, sussurrando melodias beethovinianas.

Nele, há o domínio completo de um assombroso esculpir.

Nosso silencioso artista em suas ruminações vai passando, tentando descobrir a “vol dóiseaux”, a alma dos becos, das praças, das fontes, das igrejas, das torres, dos mirantes, dos sobrados e até chegar a sua amada cidade de São Luís, totalmente submersa onde se destacam os fascies perquiridor do grande poeta Nauro Machado e o imponente busto pensativo do sábio Áquiles Lisboa.

As obras plásticas se revelam como um brinquedo de armar em constante auto revelação. Nesta coletiva, Athayde borda com singeleza cores sóbrias nos traços das cidades que desvelam um mundo interior a se realizar.

Em uma de suas entrevistas, ele revela seu espírito pesquisador, buscando sempre nos croquis, novas rotas, novos atalhos onde, muitas vezes, se perde nos confusos e emaranhados labirintos do existir.
Athayde, em muitas dessas obras nos revela sua superposição de imagens pincelando traços com leves deformações para passar a ideia de movimento e dinamismo. Esta influência vem do Futurismo de Umberto Boccione e Giacomo Balla.

Sua mudança para o Rio de Janeiro, não conseguiu arrancar, totalmente do seu bojo criativo as cores vivas, cheias de luz e calor de uma de suas primeiras obras em plagas cariocas: “Motociclista Solitária”.
Mário Mendonça, excelente pintor figurativo, vendo-a em minha residência exclamou: - “Esta obra de arte merece estar em qualquer galeria de Londres, Tóquio e Amsterdam.

O choque brutal da megalópole com seu barulho, velocidade frenética e acidentes traumáticos, como a morte do jovem Pixita, que se lançou do 11 andar em frente ao artista, suicidando-se, foram decisivos para mergulhar sua paleta nas trevas, no lusco-fuscos e nas luzes provenientes de velas bruxuleantes de seu espírito esmagado pela dor.

Com o passar dos anos vejo mais luz em suas criações.

Diz ele, que o papel sempre foi importante no seu trabalho criativo; nele, ficaram sempre rascunhos que foram, muitas vezes, redescobertas para novas pulsões criadoras.

Como um monge em silêncio, no seu “ora et labora”, Athayde molda suas personagens em madeira num trabalho, artesanal de percurso, muitas vezes, doloroso e inquietante.
De quando em quando, ele bate na mesa, com São Tomás de Aquino e revela num grito de vitória, uma nova descoberta: “Achei! Que legal! (adjetivo usado por ele em uma entrevista).

Não sou um crítico de arte, mas apenas um homem que se alimenta prazerosamente da criatividade mágica de artistas como Marçal Athayde.

Para mim, ele é um filho espiritual.

Saiba mais

A exposição Labirinto onde me perco está em cartaz até o dia 26 de janeiro no Museu Histórico e Artístico do Maranhão (Rua do Sol, Centro)

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