Artigo

Como será o amanhã?

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

O início de uma nova década inspira nossas expectativas sobre os avanços da ciência, em todas as áreas, e nos instiga a pensar sobre quais serão as grandes conquistas que teremos a sorte de compartilhar. A medicina, uma de minhas áreas profissionais, passou por progressos espetaculares que fariam justiça à frase de Arthur Clarke, escritor de ficção científica, autor da obra 2001, uma odisseia no espaço: “Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia”.

Eu mesmo sou testemunha das primeiras máquinas de hemodiálise que, comparadas às de hoje, são algo tão primitivo, que custa acreditar que elas funcionavam. Isso num espaço de poucas décadas. Em 1978, fui o responsável por trazer a primeira máquina para o Maranhão e disso muito me orgulho, de ter contribuído para a qualidade de vida dos pacientes renais daquela época.

Esta semana um jornal chinês relatou o nascimento do terceiro bebê editado geneticamente. A ousadia, mesmo para um país que tem pouca ou quase nenhuma regra nessa área, estarreceu a comunidade científica, quando o especialista declarou que havia modificado embriões. O governo chinês reagiu e afastou o cientista, não pelo experimento, mas porque enganou à universidade na qual trabalhava.

Esse é um tema delicadíssimo que tende a ganhar as páginas dos jornais. Quem assistiu ao filme “Gataca”, deve lembrar-se dos dramas que cercavam aquela sociedade distópica, na qual todas as pessoas eram programadas antes de nascer, o que gerava um sistema de castas. Afinal, quanto da humanidade pura e simples, por assim dizer, restará naqueles que são previamente selecionados, para que não apresentem defeitos de nenhuma sorte?

Há muita discussão em bioética sobre o projeto ainda a ser realizado. A questão é como se utilizará essa tecnologia já disponível. Vemos o assombroso crescimento das coisas por meio da internet que, com o novo sistema 5G, proporcionará velocidade e segurança para que uma cafeteira converse com a geladeira, com o carro e com a casa. Viveremos numa redoma onde quase nada dos aspectos da nossa vida pessoal ficará fora do escrutínio de uma máquina. Um smartwatch virtualmente saberá mais sobre você do que você mesmo, pelo menos no aspecto fisiológico. É um mundo louco e fantástico. Mas Aldous Huxley (1894-1963) já antecipara os estudos de alterações nas percepções, em sua obra “Admirável Mundo Novo e As Portas da Percepção”.

Outra grande promessa para esta próxima década é o aumento da longevidade humana, um dos alvos de pesquisa que avança de forma célere. Basta constatar que, no início da década que se finda, o conhecimento médico dobrava a cada três anos e meio. Prevê-se, neste início de década, que o conhecimento em medicina dobrará a cada setenta e três dias. Isso é algo fascinante e assustador.

O Google, empresa de tecnologia, tem um Google Health apenas para pesquisa de novas tecnologias que usa inteligência artificial para diagnóstico de câncer, por exemplo, na tentativa de diminuir erros diagnósticos, ao fazê-los mais cedo, além de minimizar tratamentos desnecessários. Inteligência artificial, carros autônomos, viagens a Marte, próteses corporais inteligentes, incluindo fazer paraplégico andar, estarão na ordem do dia nos próximos anos. Drones serão usados em quase tudo, da simples entrega de pizza ou transporte de órgãos para transplantes ou como armas de guerras.

Ainda não temos muita coisa no cotidiano dos hospitais, mas a ferramenta CRISP (clustered regularly interspaced short palindromic repeats) promete, na edição genética de pessoas, a cura de muitas doenças. Células-tronco, que já mostram seu potencial em alguns tratamentos, avançarão ainda mais na cura, por exemplo, do diabetes. De fato, veremos a tecnologia dos computadores e as genéticas de tal forma imbricadas, que não se saberá a fronteira entre uma e outra. Outra novidade assustadora é a bioimpressão em 3D, ramificação de engenharia de tecidos, que promete ser o próximo passo na questão dos transplantes. Em 2019, um grupo de cientistas israelenses havia divulgado que conseguiu imprimir um modelo completo de coração humano que media cerca de três centímetros.

O sábio escritor do livro bíblico de Eclesiastes enigmaticamente vaticinou: O que é, já foi; e o que há de ser, também já foi. As descobertas que se avizinham são evoluções do que já, de alguma forma, conhecemos. E, se não perdermos a essência e o sentido que nos movem em direção ao novo, sem dúvida nenhuma viveremos todos nós num mundo ainda melhor.

Natalino Salgado Filho

Médico, doutor em Nefrologia, reitor da UFMA, membro da ANM, da AML, da AMM, Sobrames e do IHGMA

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