Carnaval

Pelo brilho do Carnaval de passarela

Representantes de blocos tradicionais criticam poder público pela condução do processo que envolve a participação dessas agremiações no concurso oficial deste ano, na Passarela do Samba do Anel Viário

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Bloco Os Feras não deverá participar do concurso de passarela
Bloco Os Feras não deverá participar do concurso de passarela (Os Feras)

SÃO LUÍS- Mais de 20 blocos tradicionais não deverão participar do desfile de passarela este ano em São Luís. Os representantes dessas agremiações estão insatisfeitos, principalmente, com a postura da Secretaria Municipal de Cultura, que, segundo eles, não consultou as entidades antes de elaborar o edital do concurso deste ano, que envolve, também, as outras agremiações, como as escolas de samba, os blocos organizados e as tribos de índios.

Dirigentes de blocos como Os Feras estão lamentando esse momento por que passam os blocos tradicionais. De acordo com a direção do bloco, a agremiação não quer participar do concurso devido ao seu formato atual e sugeriu que os recursos para pagamento de cachês, venda de camarotes, pagamento de jurados, entre outros, sejam distribuídos entre os grupos para que possam desfilar na passarela e nas ruas sem competição, como acontece com os grupos folclóricos que participam do São João.

O coordenador de Os Feras, Paulo Salaia, disse que o bloco, de qualquer maneira, irá para as ruas desfilar e dará a largada no próximo domingo, a partir das 18h, com concentração no Caldeirão da Madre Deus. “Sairemos da residência do mestre Zé Igarapé e de lá seguiremos pelo Largo do Caroçudo, Beco do Gavião, Rua São Pantaleão, Rua do Norte, Rua do Passeio até a Praça da Saudade, em apoio a todos os blocos tradicionais”, disse.

Bruna Monique, presidente do Bloco Tradicional Os Originais do Ritmo, disse que o bloco está de acordo com a categoria e que não vê benefício em um concurso nos termos apresentados pela Prefeitura de São Luís. “Nós tentamos dialogar e propusemos ideias. Porém, não houve consenso. E o que é mais preocupante é ver a apatia do secretário, que mesmo vendo que o espetáculo encontra-se prejudicado pela ausência de 23 dos 34 grupos, não busca uma solução, não chama para tentar uma conversa. É triste ver a desvalorização e descaso do poder público para com a cultura, em especial com os blocos tradicionais, que só existem em São Luís”, disse.

Segundo Flávio Henrique Ferreira, presidente do Bloco Tradicional Os Vampiros, a Secretaria Municipal de Cultura “está fazendo um concurso fraudulento, mudou o edital para favorecer apenas um grupo e tirou os poderes da Comissão do Carnaval. Nós tínhamos quatro representantes na Comissão, mas não temos mais. No entanto, há pessoas ligadas a um determinado bloco”, disse.

Preocupação
O jornalista Joel Jacinto, militante cultural e apoiador dos grupos, acrescentou que o concurso do Carnaval de Passarela perdeu a credibilidade. “Prova disso é a crise, onde mais de 20 blocos tradicionais dos grupos A e B estão fora do desfile. Estão mexendo com toda uma cadeia que envolve a produção do Carnaval: ferreiros, costureiras, pintores, estúdios de gravação, artistas plásticos, carnavalescos, músicos, cantores, etc. Os barracões dos blocos tradicionais estão em silêncio”.

Ontem de manhã, o pesquisador cultural Euclides Moreira Neto concedeu entrevista ao telejornal Bom Dia Mirante, da TV Mirante, falando sobre esse assunto. Entre outras coisas, ele disse que todas essas dificuldades se arrastam ao longo dos últimos sete anos. “Os atuais dirigentes da Secretaria Municipal de Cultural não estão dialogando com os representantes das manifestações culturais deste campo de atuação. O Edital do Carnaval foi lançado sem que os representantes das entidades fossem ouvidos. Supõe-se que esteja havendo alguma manipulação para beneficiar alguns grupos. Nesses sete anos, outro fato que nos chama a atenção é que apenas um grupo empresarial vem coordenando a gestão do Carnaval, ou seja, o mesmo grupo sempre ganha a licitação, o que é algo estranho”, frisou.

O secretário municipal de Cultura, Marlon Botão, explicou que o processo do Carnaval ocorre dentro dos trâmites legais, seguindo todas as orientações do Ministério Público, conforme o modelo padrão, ou seja, de acordo com o que vem sendo feito desde o início da gestão do prefeito Edivaldo Holanda Júnior. “Nós estamos e sempre estivemos abertos ao diálogo. Ouvimos as sugestões dos representantes dos blocos, mas as alterações sugeridas ainda precisam ser analisadas porque ainda não estão dentro dos parâmetros legais. Nós nos colocamos à disposição para discutir essas sugestões para que possam ou não serem implantadas no futuro”, disse.

Marlon Botão enfatizou que a Secretaria Municipal de Cultura vem contribuindo para o empoderamento dos blocos tradicionais, “que passaram, inclusive, a ter suporte financeiro”. “Aliás, todos os grupos credenciados para o Carnaval de 2020 já receberam 50% do suporte financeiro. Nós estamos concluindo o credenciamento dos jurados, processo que tem a participação das agremiações. Vamos formar uma comissão, com a participação deles, para escolher o quantitativo. Se, por um acaso, os grupos suspeitarem de alguma irregularidade no processo, terão tempo hábil para recorrerem à Justiça, pois tudo está publicado no Diário Oficial”, finalizou.

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