Manifestação

Milícia ligada ao Irã tenta invadir embaixada americana em Bagdá

Eles protestaram ontem contra ataques aéreos americanos contra posições do grupo no domingo, que deixaram 25 mortos; parte dos manifestantes atravessou os postos de controle que normalmente restringem o acesso à Zona Verde de alta segurança

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Manifestantes iraquianos jogam pedras na embaixada dos EUA em Bagdá
Manifestantes iraquianos jogam pedras na embaixada dos EUA em Bagdá (Reuters)

BAGDÁ — Integrantes de uma milícia ligada ao Irã, apoiados por milhares de simpatizantes, conseguiram entrar em uma parte do complexo onde fica a Embaixada dos Estados Unidos em Bagdá nesta terça-feira. Em resposta, soldados americanos que fazem a segurança do local atiraram bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo para dispersar a multidão. Até agora, 25 pessoas ficaram feridas.

A tentativa de invasão aconteceu após milhares de pessoas participarem de uma marcha na área central da capital iraquiana, onde manifestações populares são restritas, para protestar contra ataques aéreos americanos contra bases no Iraque e na Síria da milícia pró-Irã Kataib Hezbollah, que deixaram 25 mortos e 51 feridos no domingo.

O presidente americano, Donald Trump, declarou que o Irã estava “orquestrando” o ataque à embaixada americana e que será responsabilizado por isso. Trump disse ainda esperar que o Iraque proteja a representação diplomática.

Parte dos manifestantes atravessou os postos de controle que normalmente restringem o acesso à Zona Verde de alta segurança, onde fica a missão diplomática, gritando “morte aos Estados Unidos”. Forças especiais de segurança do Iraque foram posicionadas em frente às portas do prédio para impedir a entrada da multidão, que queimou bandeiras americanas e arrancou câmeras de segurança. O embaixador e parte da equipe diplomática foram retirados da embaixada, segundo funcionários do Ministério das Relações Exteriores do Iraque, mas membros da equipe de segurança permanecem no edifício.

Os bombardeios aéreos de domingo, que segundo Washington foram uma resposta a um ataque que matou um empreiteiro civil americano em uma base militar iraquiana na sexta-feira, alimentaram o sentimento antiamericano no país.

Apelo

Em resposta, o primeiro-ministro iraquiano, Adel Abdel Mahdi, fez um apelo para que os manifestantes se afastem da embaixada. Um dia antes, Mahdi afirmara que os ataques aéreos violaram a soberania do Iraque e o forçariam a rever as relações do país com os EUA.

A influência do Irã no Iraque aumentou após a derrubada de Saddam Hussein, um sunita, na invasão americana de 2003, que levou ao poder representantes da maioria xiita iraquiana. A maioria da população iraniana também pertence a este ramo do islamismo.

A Kataib Hezbollah é uma de várias milícias, predominantemente xiitas, que foram mobilizadas no país a partir de 2014 para combater o Estado Islâmico, quando este se apoderou de Mossul, uma das maiores cidades do Iraque, e avançava para Bagdá. Posteriormente, as milícias passaram a fazer parte de uma organização guarda-chuva, as Forças de Mobilização Popular (FMP), e foram formalmente incorporadas às Forças Armadas iraquianas. Nesta terça, muitos dos manifestantes estavam vestidos com o uniforme das FMP.

Mulheres com bandeiras iraquianas também participaram do protesto, exibindo faixas com dizeres como “O Parlamento deve expulsar as tropas dos EUA, se não, as expulsaremos” e “Fechem a embaixada dos EUA em Bagdá”. Também gritavam slogans como “Os Estados Unidos são o Grande Satanás”.

Reação

O bombardeio americano e a reação que se seguiu aumentam o risco de que Iraque se torne uma arena de confrontação entre o Irã e os Estados Unidos, que mantêm 5 mil militares no país. As tensões entre Washington e Teerã aumentaram no último ano, depois que o governo Trump se retirou do acordo nuclear assinado entre o Irã e as principais potências globais em 2015. Com a reimposição das sanções econômicas americanas, a economia do Irã sofreu um prejuízo de US$ 200 bilhões em exportações e investimentos perdidos, disse nesta terça em pronunciamento pela TV o presidente iraniano Hassan Rouhani.

No início deste mês, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, culpou as forças apoiadas pelo Irã por uma série de ataques a bases no Iraque e alertou Teerã de que qualquer ataque seu ou de seus “procuradores” contra os americanos ou aliados teria “uma resposta decisiva dos EUA”.

Até agora, o governo iraquiano vinha tentando se equilibrar entre os interesses opostos de seus dois principais aliados, mas o ataque americano ao Kataib Hezbollah provocou forte reação das ruas e das principais facções políticas.

Ironicamente, a mobilização pró-Irã desta semana acontece depois de mais de dois meses de protestos populares contra os serviços precários, o desemprego e a corrupção da classe política iraquiana que desgastaram as facções políticas ligadas a Teerã. Milícias xiitas foram acusadas de reprimir os protestos com violência, e missões diplomáticas iranianas foram atacadas em cidades como Basra e Najaf, no Sul do país.

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