Comentário

Visões sobre o livro "Ao longo do caminho"

Livro de José Fernandes tem contemplação à natureza

Carneiro Sobrinho/Especial para o Alternativo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Capa do livro
Capa do livro (Livro)

SÃO LUÍS- O advogado e escritor José Fernandes, autor de 14 livros de poemas, ensaios, biografias e pesquisas nos campos históricos e doutrinários, acaba de lançar uma nova obra, sob o título “Ao Longo do Caminho”, contendo crônicas leves, que falam de árvores, mururus, lagos, igarapés, buruçangas e marés, assuntos aparentemente sem importância ou anacrônicos, mas de significativo viés rememorativo.

Nesse livro, o eclético autor revisita a sua infância mais remota, a adolescência e a maturidade; descreve viagens por rios do Maranhão, pequenas localidades e grandes metrópoles; retrata figuras humanas diversificadas; celebra amigos poetas mortos e, nas entrelinhas, mostra-nos ser um homem do seu tempo, integrado à realidade; revê as figuras expressivas na sua diversidade, fazendo grande o pequeno que parecia inútil na expressão da arte, alheando-se do tempo real para criar sua própria ambiência, tornando o tempo atemporal dos sentimentos, ilusões e fantasias, chegando a transformar os delírios de sua consciência anímica em matéria prima.

Nas suas crônicas, o autor descreve aventureiras andanças por trilhas inóspitas para alcançar os fios d’água das nascentes do rio que imortalizou em outra obra (O Rio), em defesa de sua preservação. Pinçando e vivendo causos, colhe dos outros atos e fatos corriqueiros que transmuda em pequenos dramas humanos; adentra nas pequeníssimas peculiaridades da vida cotidiana, chegando até a gracejar, sem nunca, todavia, se distanciar do cultivo dos exemplos e das boas práticas de natureza ética e moral.

Cronista de costumes e de observações atentas, não se distancia do jornalista que, aos 15 anos, já escrevia no jornal da sua terra sobre temas um tanto áridos ou chocantes, como ao comentar, três dias depois de transcorridos, o suicídio do presidente Getúlio Vargas, com leveza e cuidado, como se tivesse, já, naqueles idos, o dom de abjurar sangrias para apenas externar as sutilezas de suas lucubrações. Rompendo as barreiras da adolescência, não tinha pejo em aparecer, nas páginas daquele jornalzinho, ao lado de veteranos escribas como o padre Brandt, o jornalista Gonçalves de Morais e o médico José Leão da Silva Melo.

Ao rememorar a juventude, o cronista José Fernandes não silencia ante as incongruências de seus atos mundanos nem esconde as suas atitudes frívolas; sem a menor piedade desnuda-se ao registrar seus desencontros e descaminhos. E agora, maduro, às vezes chega a ultrapassar formalmente os limites do gênero da crônica e volta-se, com seriedade e descortino, para as inquietações do espírito, tornando-se meditativo na ânsia de alcançar as vertentes de um mundo maior. De acentuada perspicácia e transfiguradora visão do mundo, confirma, na prosa poética, aguda sensibilidade e apego às suas origens.

Mostra lídima poesia ao descrever as nuanças do Largo da sua igreja no festivo dia 14 de setembro, e ao rever, em sonho onírico, a cidadezinha de sua infância distante. São páginas que repercutirão através do tempo, dignas de figurarem em grandes antologias, na expressão feliz do escritor Jorge Nascimento.

Em “Estranha Escuridão” vislumbra-se um texto enxuto, de escorreita elaboração vernácula, que nos faz ver que é possível haver literatura – e boa literatura – numa simples crônica sobre um eclipse solar.

Com este seu “Ao Longo do Caminho”, José Fernandes ingressa, definitivamente, na galeria dos grandes cronistas da taba gonçalvina.

Carneiro Sobrinho

(Membro da Academia Arariense de Letras, Artes e Ciências)

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