SAÚDE

Projeto leva aulas ao ambiente hospitalar e beneficia crianças

Classe Hospitalar é realizado no Hospital Universitário, em parceria com a Semed; crianças de 6 a 14 anos, com mais de 15 dias em tratamento poderão participar

MONALISA BENAVENUTO / O ESTADO

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

Com o intuito de garantir a continuidade do processo de aprendizagem de crianças pacientes do Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão (HU-UFMA), a instituição, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (Semed), inaugurou ontem, 19, a Classe Hospitalar. Com o projeto, crianças de seis a 14 anos que, por motivos de saúde, não podem comparecer às escolas, receberão aulas de professores da rede municipal de ensino em um espaço projetado especialmente para as atividades. Serão beneficiados pela ação, crianças com mais de 15 dias de internação na ala pediátrica do HU-UFMA.

A parceria, firmada nesta quarta-feira, reitera um projeto – ABC Nefro – que já ocorria na ala de nefrologia pediátrica da instituição, onde, há oito anos, professores acompanham alunos em tratamento de problemas renais para evitar que o desempenho escolar seja prejudicado e garantir o aprendizado de crianças que, apesar da pouca idade, lutam pela saúde e, até, pela vida, como gigantes.

Agora, com a extensão do programa que resultou na Classe Hospitalar, todas as crianças e adolescentes com idades equivalentes ao ensino fundamental, internados ou em tratamento por mais de 15 dias no hospital, poderão participar das aulas oferecidas no hospital, algo que, segundo a superintendente do HU-UFMA, Joyce Santos Lages, é uma conquista importante para o hospital e, principalmente, para os pacientes e suas famílias.

“Representa para o hospital atender um direito que o cidadão tem, que é o direito à educação, e, para eles [os pacientes], significa não perder o vínculo da sala de aula enquanto estiver no processo de assistência à saúde no âmbito do Hospital Universitário. A gente entende que este projeto é importante, não só do ponto de vista do tratamento que está sendo feito, mas, também, da reabilitação, do apoio emocional que esse usuário terá com esse projeto do HU”, destacou Lages.

Segundo a superintendente, uma média de 200 a 300 crianças são internadas, mensalmente, no hospital, parte delas com tempo de permanência superior a 15 dias, o período mínimo exigido para a participação das atividades da Classe Hospitalar.

A inserção dos pacientes no programa será automática, a partir da confirmação dos pré-requisitos, e realizada em contato constante com as instituições de ensino regular onde os alunos estiverem matriculados. “Nós entraremos em contato com as escolas para que seja encaminhado ao hospital todo o planejamento e orientações para que o HU, junto com a equipe de professores, possa realizar a continuidade do aprendizado desses pacientes”, explicou.

Preparo
Apesar das aulas estarem presentes na rotina de profissionais da educação, o projeto tido como uma inovação e exige preparo especial, uma vez que as aulas serão ministradas fora do ambiente escolar. De acordo com a professora municipal Cláudia Eline Campos Rocha, que integra o Classe Hospitalar, a expectativa dos docentes é a melhor possível e objetivam agregar educação e qualidade de vida para cada um dos pacientes que fizerem parte do programa.

“Todos nós fizemos as formações necessárias para nos preparar para essas aulas. Fizemos cursos com duração de seis meses sobre atendimento educacional em ambiente hospitalar e domiciliar, o que nos proporcionou novas visões e formas de trabalhar, que não foram estudadas na faculdade, por ser uma modalidade nova. Atuaremos desde a alfabetização à conclusão do ensino fundamental para que sua formação acadêmica não seja prejudicada por um problema de saúde.
Sabemos que eles estão em um momento frágil, mas daremos o nosso melhor, trabalharemos com muito carinho, muito amor, para garantir o desenvolvimento de cada uma delas”, declarou a professora

A notícia foi recebida com alegria pelos pacientes e seus pais, que agora terão uma preocupação a menos, podendo dedicar maior atenção e cuidado ao tratamento. Para a lavradora Maria de Nascimento da Silva, que há nove anos acompanha a filha Janyelly Silva de Carvalho, de 11 anos, diagnosticada com problema renal e lúpus, o projeto é essencial para que os alunos não percam o ano letivo.

“É um projeto muito bom, porque, apesar de estar internada, ela terá um lugarzinho para ela estudar e seguir o ensino. Muitos hospitais não tem essa preocupação que eles estão tendo aqui e isso vai ser muito bom para eles, porque eles poderão adiantar as atividades escolares e evitar que percam o ano”, contou a mãe.

SAIBA MAIS

Segundo o MEC, cerca de 20 mil assistem a aulas em hospitais

De 2013 a 2017, o número de matriculados que tinham aulas em hospitais saltou de 9.996 para 20.607, enquanto o total de matrículas no Brasil teve uma pequena queda, de pouco mais de 55,4 milhões para 53,9 milhões. Com isso, a taxa de alunos tendo aulas em hospitais no país também aumentou, chegando a 38 para cada 100 mil. Uma análise mais detalhada dos microdados mostra, no entanto, que esse número não dimensiona com exatidão a parcela de matrículas de alunos que estão internados em decorrência de problemas de saúde. Entre as matrículas há escolas que oferecem cursos técnicos na área da saúde, como enfermagem, que declararam que seus alunos têm aulas nesse tipo de ambiente, o que gera uma distorção. As instruções do Censo da educação básica, entretanto, são claras ao dizer que o atendimento em hospitais é voltado apenas para “os alunos que, de forma temporária ou permanente, estejam impossibilitados de frequentar a escola, devido ao tratamento de saúde em hospital”. A possibilidade de proporcionar um novo olhar sobre o mundo para os estudantes reduz, mas não é capaz de eliminar os momentos de tristeza presentes na realidade dessas salas. As professoras, diferentemente dos médicos, não são, muitas vezes, treinadas para lidar com as dores do dia a dia hospitalar.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.