Exposição

Os labirintos de Marçal Athayde

Após 25 anos sem expor em São Luís, o artista plástico maranhense radicado no Rio de Janeiro apresenta individual no Museu Histórico e Artístico do Maranhão

Celso Borges* / Especial para o Alternativo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Marçal Athayde expõe pinturas e esculturas no Museus Histórico e Artístico do Maranhão
Marçal Athayde expõe pinturas e esculturas no Museus Histórico e Artístico do Maranhão (Marçal Athayde)

O artista plástico maranhense está de volta a São Luís. Embora venha quase anualmente à cidade, esta é a primeira vez em mais de 25 anos que faz aqui uma nova exposição individual. A abertura de “Labirintos por onde me perco” será hoje, às 19h, no Museu Histórico e Artístico do Maranhão. Ela vai ocupar toda a galeria Floriano Teixeira, um anexo e os jardins do museu, com 45 novos trabalhos de pintura e escultura, obras feitas nos últimos cinco anos. A exposição é uma realização da Galeria Hum e tem o patrocínio da Mateus Extreme, pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Governo do Estado do Maranhão. A mostra, que tem entrada gratuita, fica em cartaz até 26 de janeiro.

A última individual em São Luís foi em 1991, há quase 30 anos. É possível resumir em poucas palavras o teu percurso de lá pra cá?

Marçal Athayde - Meu objetivo maior nunca foi fazer exposições, mas pesquisar novas possibilidades de expressão. Depois de 1991, me dediquei nos 15 anos seguintes ao estudo de materiais e técnicas de escultura, vislumbrava a possibilidade de desenvolver trabalhos tridimensionais. Enquanto isso, continuava pintando, mas não com o mesmo entusiasmo pois já repensava a pintura que fazia. Só fui mostrar os resultados dos meus trabalhos em escultura em 2009, numa individual aqui no Rio de Janeiro.

Qual o sentimento que tens voltando a expor aqui na Ilha?

Marçal Athayde - É aquela expectativa do momento da retribuição. A todas aquelas pessoas que apostaram no trabalho, dando força, dizendo: vá em frente, você tem talento, você vai conseguir.

Quais as técnicas que utilizas nesses trabalhos?

Marçal Athayde - Óleo sobre tela, guache sobre papel, acrílico, óleo sobre relevos de madeira sobre tela e óleo sobre madeira. Um total de 45 trabalhos.

“Labirintos por onde me perco” procura uma unidade conceitual? Qual foi o critério para a escolha dessas obras?

Marçal Athayde - Sim, acho que o conjunto está bastante amarrado apesar da autonomia de cada linguagem. Mas todos os trabalhos buscam retratar, questionar certos aspectos da vida que levamos nas cavernas contemporâneas.

Tu escolhes um tema e a partir disso escolhes os trabalhos, ou o conceito só surge depois? Como é esse processo?

Marçal Athayde - Eu tenho fases, então o trabalho se volta para certas questões que, às vezes, subdividido em séries, e que acabam permeando um conceito. Enfim, creio que vem tudo junto.

Tens acompanhado o que acontece nas artes visuais em São Luís? Tu te interessas em manter um diálogo com quem está criando em São Luís?

Marçal Athayde - Acompanho muito pouco o que é feito atualmente em São Luís. Gostaria muito da possibilidade do convívio com os novos artistas do Maranhão.

Teu olhar crítico sobre o mundo urbano contemporâneo mira a verticalização das metrópoles, as ruas, o avanço da tecnologia na vida das pessoas. Isso reflete uma visão pessimista do mundo?

Marçal Athayde - Já não sou mais tão pessimista. Meus trabalhos dos anos 80, 90, sim, eram carregados de fatalismo. Lembro-me que pintava temas de violência explícita, como brigas, assaltos, assassinato, atropelamento. Tive uma fase de uma pintura muito sombria, que de certo modo refletia as minhas vivências na cidade grande.

Paralelamente aos espelhos e labirintos das cidades há os seus personagens, de carne e osso. Que homens e corpos são esses que aparecem nos teus quadros e esculturas? Há diferenças entre uns e outros?

Marçal Athayde - Na minha pintura atual a figura humana aparece muito raramente. Sua presença ficou quase que exclusivamente na escultura. Não vejo em nenhum momento que haja diferenças entre os corpos. Na verdade até o gênero é indefinido, difícil determinar, quando são figuras esculpidas.

Existe uma ligação muito grande da maioria dos artistas locais com a cidade. Qual é a tua relação com São Luís? Ela também está em Labirintos? Com o tempo e o afastamento, essa relação mudou muito?

Marçal Athayde - Minha ligação com São Luís é muito forte, apesar de não poder compartilhar da vida cultural do estado. Não consigo passar mais de um ano sem voltar à ilha. A verdadeira São Luís, que é a parte antiga onde passei minha infância, exerce em mim um imenso magnetismo. Se pudesse iria do aeroporto direto para o centro.

Quais são tuas referências nas artes visuais?

Marçal Athayde - Posso dizer que todo o universo da arte me emociona imensamente, tanto os movimentos e as escolas do passado, quanto o que existe de mais contemporâneo. Na verdade, no universo contemporâneo, só não levo a sério o Banksy. Quando perguntaram a um filósofo porque não acreditava em Deus, ele respondeu que não acreditava em ninguém que não mostra a cara.

O ano de 2019 é importante também, porque é um marco de 40 anos de tua primeira exposição individual: Dominantes e dominados, no Liceu Maranhense. O que tu ainda carregas contigo daquele jovem artista?

Marçal Athayde - (Risos) Daquele garoto que queria mudar o mundo, em nome da arte, tento manter a sua essência.

Serviço

O quê

Exposição “Labirintos por onde me perco”, de Marçal Athayde

Quando

De hoje ao dia 26 de janeiro

Onde

Museu Histórico e Artístico do Maranhão

Entrada gratuita

*Celso Borges é poeta e jornalista.

Exposição Marçal Athayde - Labirintos por onde me perco

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