Artigo

Pesca e conhecimento

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

Ah, pescador, que milagre maior que a tua pescaria!

Quando lanças tua rede lanças teu coração com ela pescador!

(Pescador, Vinícius de Morais, 1946)

O dia nacional do engenheiro de Pesca é comemorado no dia 14 de dezembro. A data alude à formação da primeira turma desta profissão, em 1974, na Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). A Universidade Federal do Maranhão (UFMA) se congratula com esses profissionais que, aqui em formação, darão início ao fortalecimento de todo um campo econômico fundamentado na pesquisa e técnicas científicas que gerarão as bases de uma indústria confirmada em princípios autossustentáveis e geradora de mão-de-obra qualificada.

Depois de grandes esforços, o Maranhão ganhou seu curso de Engenharia de Pesca, na UFMA, Campus de Pinheiro, apenas em 2015, com aulas iniciadas no segundo semestre daquele ano. E, se digo “apenas”, é porque um Estado, com o segundo maior litoral do Brasil - 640 km - perdendo apenas para a Bahia, não possuir um centro formador de profissionais na área de pesca, soa um tanto desconcertante. Isso sem falar no imenso potencial hidrográfico com rios perenes e com grande diversidade piscícola.

Com 163 alunos matriculados e um corpo docente formado, em sua maioria, por doutores, além dos mestres, encontram-se, além das atividades acadêmicas regulares, envolvidos na pesquisa e extensão com projetos que avaliam os recursos pesqueiros e de biodiversidade do Rio Pericumã e o Parcel de Manoel Luís, formação coralínea a cerca de 45 milhas náuticas da costa maranhense. Além disso, os estudantes, pesquisadores e professores desenvolvem projetos de inovação, empreendedorismo, levantamentos de campo, convênios e parcerias com vistas a estimular a integração da Universidade com a região da baixada e reentrâncias maranhense.

A pesca é uma atividade milenar e remete a atitudes de paciência, espera e determinação. Basta ver que nos Evangelhos os primeiros discípulos foram recrutados por Jesus e várias de suas parábolas aludem ao Reino de Deus com figuras que evocam a pescaria. As metáforas, que a arte de pescar evoca, servem também de lições preciosas para todos nós que desconhecemos a generosidade dos rios e mares e as artimanhas dos seres a serem pescados.

Durante séculos, a pesca representou importante base econômica em todo o nosso Estado, seja na região continental ou no litoral. Entretanto, apesar da riqueza da cultura desta atividade, ela é pouco conhecida e estudada. As técnicas utilizadas, conquanto ainda hoje sustentem milhares de famílias, eram e ainda são baseadas em meios rudimentares e pouco produtivos, relegando o trabalhador ao balanço das sazonalidades, o que lhe torna a sobrevivência difícil.

Comparada com outros países e, considerando os quase 8 mil Km da costa brasileira, a indústria de pesca do Brasil ainda é muito pequena. Em todo o mundo, há uma enorme pressão pelos recursos alimentares marinhos, a ponto de barcos pesqueiros estrangeiros invadirem nossas águas territoriais com vários incidentes já registrados. As águas do Maranhão igualmente sofrem a entrada de barcos de outros estados, que, inclusive praticam a pesca predatória, o que significa que estes recursos serão levados, gerando empregos e riqueza noutros lugares.

Aumentar nossa capacidade de exploração de forma sustentável e consistente com as modernas técnicas dessa atividade econômica é de vital necessidade para nossa região, especialmente para as áreas do litoral, incluindo toda a Baixada - onde está situada minha terra santa, Cururupu -, que ainda tem tido poucas opções de desenvolvimento e marcadas necessidades de investimento, especialmente em conhecimento e tecnologias modernas, na área de pesca.

Natalino Salgado Filho

Médico, doutor em Nefrologia, reitor da UFMA, membro da ANM, da AML, da AMM, Sobrames e do IHGMA

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