Fazer o bem a quem merece o bem

Fazer o bem sem olhar a quem: a história dos abnegados solidários

Exemplos não faltam de pessoas que abriram tempo na agenda única e exclusivamente para ajudar o próximo O Estado listou alguns exemplos de instituições que mudaram vidas; iniciativas primorosas que merecem ser replicadas

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

[e-s001]Praticar o bem é um princípio e, em tese, uma obrigação de toda e qualquer pessoa que queira viver de forma cortês consigo, e fazer a diferença em uma sociedade que conclama ações de solidariedade. O espírito natalino e a disseminação dos ideais de religiões que, em sua maioria, propagam e defendem a boa convivência entre os povos, costuma trazer a tona exemplos de projetos que são bem-sucedidos em seus propósitos única e exclusivamente por levarem muito a quem tem tão
pouco.

Estas iniciativas atacam justamente as mazelas sociais e os problemas oriundos de uma sociedade que, apesar do desenvolvimento a partir dos ideais capitalistas, ainda gera concentrações populacionais que sofrem com a desigualdade social. Enquanto alguns ignoram este cenário, outros preferem “arregaçar as mangas” e fazer a diferença, ainda que sem o devido reconhecimento.

O Estado se debruçou sobre histórias de projetos exitosos na capital maranhense, cujas origens remontam às políticas institucionais de empresas ou estão atrelados a biografias de cidadãos que foram resgatados da completa degradação humana e, atualmente, são fundamentais para a transformação de grupos carentes.

Apesar da falta de iniciativa pública a estes exemplos, a força da população – que ainda abraça os projetos – é fundamental para a execução de serviços de forma permanente durante o ano (não somente no período das festas de fim de ano). Todos eles carregam nos nomes, ou como lemas, o sentimento único de fazer o bem sem ver a quem ou sem esperar qualquer tipo de recompensa.

Um destes exemplos vem da Vila Progresso – uma das localidades mais carentes da Grande São Luís. Situada ao lado do Recanto do Vinhais (com acesso pela Avenida Jerônimo de Albuquerque, via Curva do 90) está a sede do projeto “Eu faço o bem”. A iniciativa, criada há um ano e meio, propaga cidadania e bem-estar pela promoção de oficinas de dança, música e reforço escolar.

Além destas ações, a comunidade da região e adjacências também é agraciada com atividades sazonais e dependentes da boa vontade de privilegiados financeiramente que, em determinados meses, doam cestas básicas. O projeto se baseia nos princípios cristãos e estimula a formação na igreja, com oficinas e promoção de grupos de estudo da palavra bíblica.

[e-s001]Do crack à glória

A “ex-comedora de lixo” resgatada e que só faz o bem
Entender as histórias de quem se dispôs a montar um grupo de apoio a parcelas populacionais em situação de vulnerabilidade é fundamental para a compreensão das razões da montagem daquele projeto. O “Eu faço o bem” só existe pelo resgate de uma ex-usuária de drogas que, em cinco anos, saiu do inferno e teve uma segunda chance.

Se atualmente Lindiana Lindberg, responsável pelo projeto, interage com desenvoltura com as crianças de 5 e 15 anos nas oficinas culturais, há pouco tempo, a mulher, que conta a sua história com coragem, procurava lixo para se alimentar pelas ruas de São Luís, drogada e sem perspectiva.

Ao se colocar na condição de dependente química e o uso incontrolável do crack, Lindiana perdeu tudo. Ela se afastou dos filhos, do marido, dos amigos e perdeu a respeitabilidade adquirida no emprego de representante comercial. “Foi um momento de desespero. No fundo, eu queria sair, mas encontrava a saciedade fisiológica na droga e voltava para a lama”, disse.

A jovem perdeu peso e sua aparência causava espanto para quem conhecia uma Lindiana totalmente diferente. Por intermédio de uma amiga, a jovem passou a frequentar cultos evangélicos e encontrou, segundo ela, na palavra de Deus, o fator de transformação de sua vida. “Eu sou um verdadeiro milagre e a prova viva de que Deus existe”, afirmou.

Voltei! Agora vou transformar o mundo!
Após a sua volta para a convivência em sociedade mais próxima dos valores aceitos como ideais e a limpeza biológica com a total recusa da droga, a jovem abriu na Rua Santo Antônio, nº 19 (Vila Progresso) a sede do “Eu faço o bem”. Não precisou de muito tempo para atrair o gosto popular. Várias mães procuraram a responsável para inscrever seus filhos nas oficinas.

Atualmente, o projeto assiste 67 crianças e é responsável pela metamorfose na vida de quem deveria estar no caminho da criminalidade e vislumbra uma “luz no fim do túnel”. “A gente pede a Deus todos os dias para que este projeto somente se fortaleça. Essa mulher [Lindiana] é assim quase que um milagre para nós. Sem ela, nossos filhos estariam com uma outra realidade”, disse Valéria Araújo, mãe de Sheron, de 6 anos, uma das crianças acolhidas pelo instituto.

A dona de casa Kedyna Cruz agradece à Lindiana pela iniciativa. De origem humilde, ela considera uma nova chance de vida a presença do “Eu faço o bem” no bairro. “Aqui era praticamente abandonado. E a gente ter uma possibilidade de um projeto que nos dê a acolhida necessária, para nós, é motivo de grande alegria e satisfação”, disse.
Albanny, de 7 anos, é venezuelana e é assistida pelo projeto. A mãe, que não quis revelar o nome, disse que o projeto é também uma bênção. “Para nós, que viemos de um país tão miserável, estar aqui é quase o paraíso”, disse. A criança gosta do projeto. “Me sinto feliz aqui”, revelou.

Os “padrinhos”
O projeto “Eu faço o bem” conta com o suporte valioso de padrinhos que, mensalmente, colaboram com o grupo, seja com a inclusão de medicamentos e alimentos, ou cessão do atual espaço ou “adoção” de uma das dançarinas. O grupo de balé do bem (“Criart Projeto de Dança”) com a direção-geral de Iaracelli de Santana e supervisão artística de Flávio Costa se apresentará nos dias 18 e 19 deste mês, no Teatro Sesc Napoleão Ewerton, na Avenida dos Holandeses, Calhau.

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