Editorial

O boi urrou

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

“Lá vem meu boi urrando, subindo o vaquejador, deu um urro na porteira, meu vaqueiro se espantou, o gado da fazenda com isso se levantou. Urrou, urrou, urrou, urrou, meu novilho brasileiro, que a natureza criou.”

Quando Coxinho entoou seu famoso ‘Urrou do Boi’, pela primeira vez, nunca imaginou quão alto nosso Bumba meu boi urraria. E foi tanto e muito, que encantou milhares de pessoas, não só no Maranhão ou no Brasil. Porque para o boi, era pouco. Seu brilho, suas indumentárias, as matracas e pandeirões, os instrumentos de sopro e as costas de mão, precisavam de mais espaço, e assim o boi urrou mais alto ainda, conquistando o mundo.

E as burrinhas rodopiaram serelepes, pai Francisco se orgulhou e Catirina, bem, essa só pensa em comer a língua do boi, mas ficou igualmente satisfeita com a homenagem. E, depois da comemoração, ainda se pode ouvir as matracas batendo, o som dos velhos pandeirões - cujo couro ainda está morno das fogueiras que os esquentaram.

Há festa por todos os cantos, em todos os sotaques. As orquestras tocam sem parar e o boi urra, urra, se balança e dança no meio das índias. Se sacode, provoca os vaqueiros. Pula e urra sem parar, só cessando ao se deparar com o amo, diante do qual se ajoelha e sossega.

Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, este é o título outorgado ao Bumba meu boi do Maranhão, um privilégio de poucos, que atinge quem o merece. A expressão cultural que muito bem representa o estado já era reconhecida como Patrimônio Cultural do Brasil, desde 2011, pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), um dos maiores engajados na busca pelo título mundial. À Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), o Iphan não apresentou apenas um abaixo-assinado com pedidos ao Bumba meu boi. Levou vídeos e mensagens, nos quais representantes de grupos da atividade cultural exaltavam seu valor e sua expressão forte e imponente.

Não deu outra, por unanimidade, o boi urrou e se tornou patrimônio imaterial da humanidade. Vai virar lenda, vai ser sempre lembrado, nunca vai acabar. Está eternizado e ainda vai urrar muito, por todos os cantos por onde passar. Trará mais visibilidade ao estado, aos grupos, aos sotaques, e não haverá um ser vivente que esteja na roda e não se arrepie inteiro quando o boi urrar, a matraca bater e os tambores acompanharem as toadas.

E quando chegar o mês do junho, não haverá quem não queira ver esse patrimônio dançando nos arraiais, fazendo turistas e nativos dançarem e arrebatando corações. Porque, como já era entoado pelo Bumba meu boi de Maracanã, antes mesmo de você nascer “esta herança foi deixada por nossos avós, hoje cultivada por nós, para compor tua história Maranhão”.

No Maranhão, o Bumba meu boi é patrimônio cultural imaterial da humanidade. Sempre é tempo de guarnicê.

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