Eleições britânicas

Pesquisa põe em dúvida maioria de Boris Johnson no Parlamento

Conservadores não conseguem evitar debate sobre temas sociais e econômicos, e, apesar de manterem a liderança, margem sobre oposição trabalhista fica mais apertada; a crise na saúde pública não é o único sintoma de um país com graves problemas sociais

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21
Boris Johnson visita uma fazenda produtora de leite em Leeds, no norte da Inglaterra
Boris Johnson visita uma fazenda produtora de leite em Leeds, no norte da Inglaterra (Reuters)

LONDRES - Depois de uma campanha marcada pela promessa de encerrar de uma vez por todas o drama político do Brexit , o Partido Conservador do primeiro-ministro Boris Johnson chegou às vésperas do voto mantendo a vantagem sobre a oposição. Segundo a última sondagem do Instituto YouGov, a legenda do governo tem 43% da preferência do eleitorado contra 34% do Partido Trabalhista.

Os conservadores poderiam conquistar 339 das 650 cadeiras do Parlamento, e a previsão é de que os trabalhistas teriam 231 assentos. Porém, com a margem de erro, não está descartada a possibilidade de o partido do governo continuar sem maioria absoluta. Na reta final, a oposição reduziu a diferença, e o premier não conseguiu evitar temas sociais e econômicos que afligem um país ainda dividido pelo plebiscito de 2016 que decidiu pelo divórcio da Europa.

Para os observadores políticos, foi uma campanha eleitoral monótona, com Johnson repetindo de forma robótica que o Brexit acontecerá no dia 31 de janeiro, depois de três adiamentos e nove meses depois da data originalmente prevista. Enquanto reiterava frases de efeito sobre a saída da UE, ele deixava de responder a perguntas cruciais sobre o futuro do país. Embora tenha tentado se posicionar como o candidato conservador que vai encerrar os dez anos de austeridade que caracterizaram os governos de seus antecessores, não detalhou seus planos de investimentos públicos.

Cena viralizou

Um dos momentos mais simbólicos da campanha — e mais desastrosos para os conservadores — foi quando o premier se recusou a olhar a foto de um menino de 4 anos com pneumonia deitado no chão de um hospital de Leeds (região central) por falta de leito. A cena viralizou e ajudou o líder da oposição, Jeremy Corbyn, a reforçar seu discurso contra os cortes efetuados pelo governo, que afetaram duramente o sobrecarregado sistema público de saúde.

Se Johnson bateu na tecla do Brexit, Corbyn tentou focar no combate às desigualdades, prometendo estatizar uma série de serviços, das ferrovias à rede de fibra ótica, para que todas as residências britânicas tenham acesso à banda larga gratuita até 2030, entre outras promessas. Mas ele também é criticado pela ala mais moderada de seu partido, que resiste à agenda socialista do líder e a seu estilo considerado autoritário.

A crise na saúde pública não é o único sintoma de um país com graves problemas sociais que acabaram ficando de lado enquanto o Brexit dominava todos os debates. Neste Natal, pelo menos 135 mil crianças estarão sem casa, vivendo em acomodações temporárias, o maior número dos últimos 12 anos, de acordo com a organização Shelter. Nas ruas sempre vibrantes do centro de Londres, não há como não enxergar o aumento da pobreza: o número de sem-teto na capital dobrou em dez anos. Eles estão nas portas das principais estações de metrô, nos túneis que levam a Westminster, nas proximidades de parques lotados de turistas. Segundo a Shelter, 320 mil pessoas dormem nas ruas do país, 4% a mais do que no ano passado.

Mas diante de uma população cansada das incertezas provocadas pela separação da UE, não é possível dizer se indicadores sociais terão o maior peso na escolha dos eleitores.

"O Brexit é a principal questão. Mas, se esse processo der errado, é possível que a economia, assim como outras questões sociais, voltem a ser o principal tema da política britânica", aposta o estrategista político Chris Wilkins, que assessorou a ex-primeira-ministra Theresa May.

Brexit

Para Mary Ann Stephenson, especialista em desigualdade de gênero, um dos grandes problemas das discussões sobre o Brexit, prioridade absoluta de Johnson, é o que não é falado. Por exemplo, o impacto do processo para a população feminina — outro tema evitado pelo primeiro-ministro durante a campanha. O instituto independente dirigido por ela, Womens Budget Group, prevê que as prováveis barreiras ao comércio que serão impostas com a saída da UE afetarão empregos em geral, mas principalmente a mão de obra feminina, mais sujeita a contratos temporários e condições precárias de trabalho.

"Além disso, um impacto negativo sobre a economia britânica significará menos investimentos em serviços públicos. O governo pode responder de diferentes maneiras, mas, se for mantido o padrão dos governos conservadores anteriores, existe um risco de aumento da austeridade. Temos estudos que comprovam que políticas de austeridade atingem principalmente as mulheres em todas as classes sociais, acima de tudo minorias étnicas", diz a analista.

Johnson madrugou nesta quarta em Yorkshire, no Norte da Inglaterra, para os últimos compromissos da campanha. Num sinal de nervosismo em sua equipe, ignorou o pedido de entrevista do popular programa de TV “Good Morning Britain” e refugiou-se no frigorífico de uma fábrica de laticínios.

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