Comportamento

Para criar crianças livres de qualquer preconceito

Psicóloga dá dicas de como criar seus filhos da melhor maneira, longe da discriminação às outras pessoas; cor da pele, classe social, gênero e deficiência física ainda fazem com que muitos sejam alvo de intolerância

Atualizada em 11/10/2022 às 12h21

[e-s001]SÃO PAULO - A discriminação por gênero, cor e classe social no Brasil faz com que muitas pessoas sejam submetidas, todos os dias, ao ódio e à intolerância. Em pleno século XXI, a sociedade ainda precisa aprender a lutar contra situações de preconceito. E o que pouca gente percebe são as consequências que atitudes discriminatórias podem ter quando a vítima é uma criança em processo de formação da própria identidade.

A psicóloga Christiane Reis, do grupo Prontobaby, diz que não existe um botão mágico que faça com que casos de discriminação deixem de existir da noite para o dia. Ela acrescenta, porém, que cabe aos pais desempenhar o papel essencial na criação de uma sociedade igualitária.

“O preconceito começa em casa e é dever dos pais educar seus filhos para que não perpetuem essas atitudes. Se não queremos que nossas crianças tenham determinados comportamentos, também não devemos tê-los. É preciso ajudar a criança a se tornar mais sensível ao sentimento do outro. A infância é um ótimo momento para trabalhar a empatia e compaixão”, comenta.

Mas como estimular o respeito às diferenças na infância? Essa e as principais dúvidas sobre o tema a psicóloga responde a seguir.

Como ajudar as crianças a terem empatia pelo outro e fazer com que entendam que discriminação é uma injustiça?
Antes dos cinco anos, a criança não tem entendimento do que é certo ou errado. A gente tem que levar em consideração em que contexto essa criança está inserida. Geralmente, as repetições de comportamento vêm em função do que elas observam nos pais. A criança repete comportamentos que ela observa mesmo sem julgar, porque muitas vezes ela ainda não tem capacidade de identificar se aquilo está certo ou errado.

Como ajudar a criança a ser sensível ao sentimento do outro?
Empatia não é uma coisa que a gente compra na padaria ou dá um remédio para ter. Há crianças que são realmente desprovidas desse conceito de empatia, de sentir remorso ou pena do outro. Dentro desse contexto familiar, o modelo a ser seguido precisa ser estruturado. Os pais precisam passar aos filhos que preconceito e discriminação são coisas injustas, isso tem que se tornar um código de ética dentro de casa. A criança absorve e incorpora os exemplos que presencia em casa. É importante fazer com que eles entendam a opinião e os sentimentos do outro. Usar histórias, livros, desenhos, recriar o acontecimento na hora da explicação pode facilitar o entendimento por parte deles.

Como identificar que meu filho sofre preconceito? Quais comportamentos ele pode desenvolver?
É preciso que os pais estejam atentos aos sinais de desconforto e angústia da criança. Em geral, ela começa a perder o interesse no contexto escolar, ter sono além do normal e ficar agressiva. Não necessariamente agressividade física com o outro, mas com ela mesma. Alguns pacientes desenvolvem episódios de automutilação por sofrerem preconceito e discriminação na escola ou na rua, por não se sentirem adequados em diferentes contextos. Episódios de melancolia e tristeza podem encaminhar para o uso de álcool e outras drogas.

Como ajudar a criança a ter autoestima e se aceitar?
No universo infantil, o desenvolvimento é muito mais contínuo, muito mais não linear, muito mais progressivo e com mudanças quase que diárias. Quando a gente fala em aceitação, estamos nos referindo a algo que precisa ser conhecido para que haja essa aceitação. É muito comum essa variação de autoestima porque essas crianças e jovens estão sempre estreando coisas novas, e aceitar o novo é muito difícil para qualquer pessoa. É claro que o reforço positivo, familiar e sociocultural no contexto dessa criança é muito importante. É importante que esses pais aceitem que esse filho é único, singular e especial. E aí vem o reforço positivo, mostrar para o seu filho que você o reconhece, aprecia as suas qualidades individuais. Crianças de lares onde o reforço positivo é praticado têm menos chances de se sentirem rejeitadas.

Preconceito. Pré-conceito. Segundo o dicionário, é “qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico; sentimento hostil, assumido em consequência da generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio; intolerância”.
[e-s001]DIFERENÇA POSITIVA

As crianças chegam ao mundo livres de qualquer julgamento ou preconceito. A estranheza ao diferente, como já mencionado, é algo normal, mas a forma como a família e a escola lidam com esse estranhamento é que reafirma ou desconstrói os possíveis pré-conceitos formados. Nesse momento, ignorar que a diferença existe não é o caminho, pois os pequenos irão se deparar com a diferença durante toda a vida. Pessoas com diferentes personalidades, visões de mundo, orientação sexual, aspectos físicos, crenças, gostos, ideias… Enfim, a diferença existe e isso é ótimo! Imagine só se todos fôssemos iguais?

Por esse motivo, o diálogo é muito importante. É preciso esclarecer que as pessoas são, sim, diferentes entre si, mas isso não faz com que um ou outro seja melhor ou pior: o respeito está acima de tudo. A diferença tem que ser apresentada de forma positiva, afinal estamos em um interminável processo de aprendizado e o diferente sempre terá muito a nos ensinar.

[e-s001]O QUE É EMPATIA

Empatia significa a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela. Consiste em tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar de forma objetiva e racional o que sente outro indivíduo.

A empatia leva as pessoas a ajudarem umas às outras. Está intimamente ligada ao altruísmo - amor e interesse pelo próximo - e à capacidade de ajudar. Quando um indivíduo consegue sentir a dor ou o sofrimento do outro ao se colocar no seu lugar, desperta a vontade de ajudar e de agir seguindo princípios morais.

A capacidade de se colocar no lugar do outro, que se desenvolve através da empatia, ajuda a compreender melhor o comportamento alheio em determinadas circunstâncias e a forma como outra pessoa toma as decisões.
Com origem no termo em grego empatheia, que significava "paixão", a empatia pressupõe uma comunicação afetiva com outra pessoa e é um dos fundamentos da identificação e compreensão psicológica de outros indivíduos.

O que é uma pessoa empática?
Ser empático é se identificar com outra pessoa ou com a situação vivida por ela. É saber ouvir os outros e se esforçar para compreender os seus problemas, suas dificuldades e as suas emoções.

Quando alguém diz “houve uma empatia imediata entre nós”, isso significa que houve um grande envolvimento, uma identificação instantânea. O contato com a outra pessoa gerou prazer, alegria e satisfação. Houve compatibilidade. Nesse contexto, a empatia pode ser considerada o oposto de antipatia.

Para ser empático é preciso conseguir ultrapassar as barreiras do egoísmo, do preconceito ou do medo do que é desconhecido ou diferente. Para que uma pessoa consiga exercer a empatia é preciso retirar a atenção de seus próprios problemas e manter seu foco de atenção na outra pessoa.

AUTOESTIMA
valorização que cada ser humano tem sobre si mesmo e ao que pode tornar-se, como resultado de uma mistura de fatores físicos, emocionais e sentimentais enfrentados ao longo da vida e que foram moldados a sua personalidade. Em relação a sua definição mais formal pode-se dizer que a autoestima é o amor que acabamos de dispersar sobre nós mesmos.

Este processo começa aproximadamente a partir dos 5 ou 6 anos de vida, no momento que iniciamos a criar uma ideia de nós, dos nossos colegas e das pessoas mais velhas como pais, familiares e professores. Entretanto, como todo processo por definição, não é um fenômeno estático que se aprende ou fixa, não há uma forma como modificá-lo; pelo contrário, pode-se modificar e melhorar graças às devoluções que incluem críticas construtivas e que fazem parte do nosso ambiente mais próximo, assim como são partes fundamentais na construção da nossa autoestima.

Na verdade, embora cerca de 90% das séries complementares que definem a personalidade durante os primeiros cinco anos de vida, de acordo com as teorias vigentes, muitas das experiências de vida que ocorrem nos anos posteriores à infância, inclusive durante a adolescência são determinantes na gênese do processo de autoestima. Este fato se atribui à personalidade, além dos seus componentes definidos e estáveis, incluindo elementos adaptáveis e "plásticos", entre as quais se destacam as contribuições do meio ambiente em que vivemos.

No entanto, a baixa autoestima pode ser o gatilho de muitos problemas psicológicos, como depressão, neurose, timidez, vergonha, entre outros, e um dos principais temas a ser discutido e aceito em uma terapia com um profissional da psicologia. Por exemplo, a falta de confiança, a desvalorização promovida pela comparação odiosa com alguém são alguns dos fatores que desencadeiam a baixa autoestima ou às vezes a zero. Esta realidade provoca uma diminuição acentuada na qualidade de vida, da qual pode ser expressa em problemas de saúde física, psicológica e fundamentalmente sociais.

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