Coluna do Sarney

São Luís em dezembro

José Sarney

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

Os sinos do Natal já podem ser ouvidos nos seus sons distantes.

Quando eu era menino e começava, em São Bento, a descobrir o mundo com suas belezas, a primeira coisa que me encantava era o campo verde, lindo tapete de capins: andrequicé, arroz brabo, canarana, capim de marreca. Depois eram os passarinhos que via pousados no fio de telégrafo que atravessava o campo e perdia-se no infinito.

As garças elegantes e brancas olhavam desconfiadas para os lados, sempre atentas a qualquer peixinho que passava nas águas rasas e não escapava de seus bicos. As plantas aquáticas, o mururu, o água-pé, o algodão bravo soltando suas plumas ao vento e os lagos com suas águas de espelho só perturbadas pelas canoas de varas e de remos.

Depois descobri as cores e guardei para sempre na memória os sinos da igreja, tristes no toque de anunciar os que morriam e alegres ao comemorar as festas e aleluias.

A palavra felicidade, disse, está associada à infância. Que encantamento o carinho de nossos pais, a descoberta das cores e o milagre dos arco-íris.

E aí surge o Natal, surge a missa do galo, a espera de Papai Noel, que era pobre como nós e trazia cavalos de vassoura e latas velhas pintadas para improvisados tambores.

Depois começo a conhecer a vida. Vim para São Luís e me apaixonei pela cidade, pelos bondes, pelas ruas, pelos sobrados, que não existiam no interior.

O Natal já era diferente. Tinha bandeirinhas nas ruas e lindos presépios nas igrejas. Os sinos eram de sons fortes, carrilhões que nos sugeriam as alegrias do nascimento do Menino Jesus.

O Natal de hoje vem chegando. É um Natal de Jesus dos comerciantes, vestido de rico, com luzes feéricas em todas as praças e ruas, com festas de amigo invisível, e presentes e mais presentes e as ceias com os perus de granja, sem o gosto dos da minha infância nem a farofa do peito disputada com meus irmãos.

E um mundo em que só se fala em protestos, agitações, greves, assaltos, violência contra as mulheres e em que, mais que a vinda do Redentor, conta a Black Friday com ofertas mirabolantes que despertam fantasias, criam sonhos e geram frustrações.

Mas não quero ser saudosista. Vamos agradecer a Deus a graça da vida, viver dezembro, com luzes, enfeites e festas, esquecendo o que passa e acreditando que vamos sempre melhorar com o milagre do Nascimento de Deus, ressurreição da esperança.

Jesus Cristinho, como canta o Boi Barrica, será sempre, na palavra de Fernando Pessoa, o menino que “vive na minha aldeia comigo”. De São Bento, de Pinheiro, de São Luís - do Largo do Carmo, do Portinho, da Praia Grande, do Calhau, de Ribamar, do Panaquatira e de Curupu.

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