Contrabando

Polícia apura se cigarros apreendidos em Alcântara vieram do Paraguai

Apreensão aconteceu no Porto de Cajapari, em Alcântara, na sexta-feira, 6; SPCI disse que pacotes são colocados em barcos e descarregados em caminhões

Nelson Melo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Detalhe da carga de cigarros apreendida em operação realizada em Alcântara, com incidência em Bequimão
Detalhe da carga de cigarros apreendida em operação realizada em Alcântara, com incidência em Bequimão (Contrabando cigarros)

São Luís - N o mesmo patamar do tráfico de cocaína, o contrabando de cigarros é uma das atividades mais rentáveis para o crime organizado no Brasil, o que causa um prejuízo bilionário para os cofres públicos. O Maranhão é um dos destinos da mercadoria. Nessa sexta-feira, 6, cerca de 12 toneladas foram apreendidas no estado. A operação aconteceu em Alcântara, mas incidiu em Bequimão. A polícia está investigando se o carregamento veio do exterior e foi colocado em embarcações em direção ao litoral maranhense.

De acordo com informações do delegado Guilherme Campelo, titular da Superintendência de Polícia Civil do Interior (SPCI), a Polícia Civil estava monitorando a entrada de embarcações nos portos localizados no interior maranhense, incluindo os da Baixada, pois havia denúncias de que produtos contrabandeados estavam chegando ao estado por via marítima. Sendo assim, em conjunto com o 10º Batalhão de Polícia Militar (BPM), foi realizada uma ação surpresa no povoado Novo Belém, em Alcântara, que resultou na abordagem a três caminhões.

Dentro dos veículos, os policiais civis e militares encontraram mais de 10 toneladas de cigarros, das marcas GIFT e Record, frutos de contrabando, como o delegado frisou, pois não havia nota de procedência das mercadorias. Em flagrante, foram presos Raimundo Cleofas Guerra Alencar, de 60 anos; Robson Silva Guedes, 42; Aldo Pereira Cavalcante, 42; Ivo Evangelista, 45, e Odoriel Gusmão Pereira, 40.

O titular da SCPI destacou que outras 24 pessoas foram conduzidas à delegacia por terem sido contratadas pelos “mafiosos” para descarregar a carga nos portos da região. Depois de serem ouvidas, foram liberadas. “Estávamos investigando essa entrada de produtos contrabandeados pelos nossos portos do interior e conseguimos dar esse primeiro grande golpe nessa máfia”, declarou o delegado Guilherme Campelo.

Ele esclareceu que, a partir de agora, a investigação será feita de forma conjunta com a Polícia Federal (PF), uma vez que há informações de que o carregamento veio do exterior, provavelmente, do Paraguai. “Vamos compartilhar tudo com a PF, pois são produtos que vêm de fora, por meio de embarcações, para aprofundarmos o caso. Esses barcos aportam em pequenos portos, onde é feito o transbordo das cargas para os caminhões”, explicou o titular da SPCI.

Dinheiro apreendido

Além da carga de cigarros e dos caminhões, os policiais também apreenderam R$ 2.774,00 em espécie e celulares, de acordo com o tenente-coronel Cláudio, comandante do 10º BPM. O oficial esclareceu que a operação aconteceu depois que as equipes receberam uma ligação anônima relatando que, no Porto Cajapari, em Alcântara, homens estariam carregando três caminhões com cigarros, fato confirmado com a prisão dos envolvidos.

Outros casos

Em 2019, já ocorreram algumas apreensões de cigarros contrabandeados, em regiões distintas do Maranhão. Somente na cidade de Raposa, na Grande Ilha, foram três casos. O último aconteceu no dia 16 de junho. Naquele momento, a polícia recolheu mais de 400 caixas, em uma área de mangue do município. A Polícia Civil presumiu que os produtos eram oriundos do mesmo carregamento de “Matusalém”, barco à deriva encontrado na Praia de Mangue Seco, naquela região, no dia 30 de maio.

O delegado Marconi Caldas, da Delegacia de Raposa, contou que as caixas estavam cobertas por uma lona, sendo camufladas com a vegetação do mangue. No local, havia um homem, que recebeu voz de prisão. Ele seria o responsável por vigiar o carregamento. Os produtos foram encontrados por equipes do Batalhão de Polícia Militar Rodoviária (BPRv), Batalhão de Choque e Centro Tático Aéreo (CTA), logo após o recebimento de denúncias anônimas.

O caso foi enviado à Polícia Federal, que tem competência para investigar esse tipo de crime. Logo após a descoberta da carga, equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope-MA) seguiram ao local de mangue e realizaram uma incursão de apoio. Os policiais da tropa de elite fizeram o transporte do material, em uma lancha da unidade. Essa missão perdurou durante toda a noite.

Apreensão de caminhão

Um caminhão foi apreendido, na manhã do dia 3 de junho, na MA-203, no município de Raposa, sendo que estava repleto de cigarros, totalizando 327 caixas. O material, que seria contrabandeado, estava em um veículo de uma conhecida empresa de venda de eletrodomésticos. A polícia suspeitou de que a carga era oriunda da embarcação encontrada à deriva na semana anterior, na mesma cidade.

Os policiais encontraram o caminhão depois de uma denúncia repassada por um homem, que seguia na rodovia estadual em uma bicicleta. Como ele achou estranho o contexto onde o veículo estava, relatou o caso à guarnição que fazia rondas na MA-203 (Estrada de Raposa). Desse modo, os militares localizaram o caminhão, que estava parado e sem ninguém ocupando. Dentro, havia as 327 caixas de cigarros.

Apreensão do barco

Sem nenhum ocupante, Matusalém foi achado à deriva, na manhã do dia 30 de maio, na Praia de Mangue Seco, município de Raposa, sendo que havia uma grande quantidade de cigarros no barco, que tem capacidade para 19 toneladas e tem 25 metros de comprimento. De acordo com informações colhidas com a Polícia Civil, boa parte das mercadorias ficou espalhada no mar devido ao movimento das ondas.

O delegado Marconi Caldas explicou que pescadores encontraram a embarcação e acionaram a Polícia Militar, que chegou ao local, constatando o fato. Então, os militares entraram em contato com a Polícia Civil, Corpo de Bombeiros Militar (CBM), Centro Tático Aéreo e Marinha do Brasil, que se deslocaram à Praia do Mangue Seco em uma força-tarefa.

As equipes retiraram mais de 120 pacotes de cigarros e 6 caixas, bem como dois freezers. Como o trabalho era em alto-mar, houve uma demora na operação. O delegado Marconi contou que alguns populares ainda subtraíram parte da carga que estava sendo arrastada pela maré.

Cofres públicos afetados

Segundo estimativas do setor industrial, 73% dos cigarros que circulam no Maranhão são contrabandeados do Paraguai. Isso representa um prejuízo de R$ 164 milhões aos cofres públicos, uma vez que esse dinheiro deveria ser revertido em impostos e, consequentemente, em benefícios para a população. Com esse valor, poderiam ser construídas 1.670 casas populares ou 283 unidades básicas de saúde.

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) concluiu que, com relação ao Nordeste, a média de preços do cigarro vendido ilegalmente é de R$ 3,53. Ou seja, abaixo do preço mínimo estabelecido pelo governo para o produto legal, que é de R$ 5 (pacote com 20 cigarros). A polícia, com o intuito de combater esse tipo de crime, realizou várias operações na fronteira do Brasil no ano passado, como a “Oiketikus”, que ocorreu em maio, e a “Nepsis”, em setembro.

Só o grupo investigado na “Operação Nepsis” mandou pelo menos mil caminhões de cigarro de Mato Grosso do Sul, para outros estados, incluindo o Maranhão, segundo investigação da Polícia Federal. De janeiro até maio deste ano, o Departamento de Operações de Fronteira (DOF) apreendeu 66,3 mil pacotes na fronteira com o Paraguai. Nos 12 meses do ano passado foram 946 mil. O recorde ocorreu em 2017, com a apreensão de 1,2 milhão de caixas.

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.