Artigo

Entraves educacionais

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

Há poucos dias foi noticiado os resultados do conhecido teste Pisa - Programa Internacional de Avaliação de Estudantes. Os resultados para o Brasil são, desde 2009, preocupantes. Há dez anos que o país perde posições nas áreas de conhecimento avaliadas. Significa dizer que, infelizmente, o país ainda se depara com entraves nas áreas da educação fundamental e ensino médio.

Nesta edição, cujos testes foram aplicados em 2018, nosso país obteve a seguinte avaliação nas três áreas: 67º colocação em ciências, 71ª posição em matemática e 58ª posição em leitura. Apenas para se ter uma ideia, na última avaliação em 2015, o Brasil obteve a seguinte classificação: 63ª posição em ciência, 66º posto em matemática e 59º lugar em leitura.

A avaliação é para jovens com 15 anos nas disciplinas leitura, matemática e ciências e é realizada a cada três anos, em 79 países e territórios. Participam desta avaliação os países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que detém os maiores PIBs do mundo - atualmente com 36 países - e países não membros, como é o caso do Brasil.

O Pisa tornou-se uma importante medida de qualidade de vida e desenvolvimento de um país. A razão óbvia é que não há desenvolvimento sem uma educação estruturada e universal. A região do globo que mostra a pujança no crescimento econômico, não por coincidência, lidera em todas as áreas avaliadas e ocupam os primeiros lugares no teste: Pequim, Xangai, Jiangsu e Guangdong (China); Singapura; Macau (China); Hong Kong (China). Na América do Sul e Caribe, o que não é exatamente nenhuma vantagem - visto que a média na região é extremamente baixa - nessa edição, estamos à frente, na avaliação geral, em relação à Colômbia, à Argentina, ao Panamá e ao Peru.

A idade dos jovens pesquisados revela que boa parte deles está na reta final do ensino médio, etapa crucial da formação dos alunos e antessala de um curso superior. Em artigo publicado em março do ano passado, eu já chamava a atenção para os alarmantes índices de evasão constatados no ensino médio, o que por sua vez afeta a economia nacional que demanda por pessoas qualificadas.

Em diversas reportagens publicadas esta semana acerca do assunto, os especialistas ouvidos apontam várias causas para o problema, e entre elas, o fato de que os estudantes brasileiros não são estimulados a responder as perguntas do questionário e/ou deixam perguntas sem resposta.

"Se fazer fosse tão fácil quanto saber, o que é preferível, as capelas seriam igrejas e as cabanas dos pobres, palácios de príncipes...", atesta Shakespeare na clássica obra O mercador de Veneza. O problema aqui apresentado é velho conhecido de todos aqueles que militam na área da educação. Mas as soluções não são nem fáceis, nem rápidas, como muitos podem imaginar. Passa necessariamente por maior valorização dos professores, estímulos que combatam a evasão escolar e investimento regular em tecnologia, inovação e empreendedorismo.

Tenho orgulho de me apresentar como professor, pois conheço de perto as agruras vividas pelos colegas docentes e as cobranças que são realizadas, quando o desempenho dos alunos não corresponde às expectativas geradas pela sociedade, esperançosa de um futuro em que evasão e déficit de aprendizado sejam apenas componentes de um passado remoto.

Uma coisa é certa: resistências precisarão ser vencidas e há de ser adotada a perseverança na implementação de um processo que precisa vencer esses tristes anos de estagnação. O caminho é longo, mas precisa ser enfrentado com determinação. A Universidade Federal do Maranhão diz sim ao chamado de contribuir para o engrandecimento educacional deste país e, indiretamente, para que esses números, revelados pela avaliação do PISA, venham a ser modificados.


Natalino Salgado Filho

Reitor da UFMA, médico, doutor em Nefrologia, membro da ANM, da AML, da AMM, Sobrames e do IHGMA

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