Tensão

China adota represálias contra diplomatas americanos

Potências protagonizam embate político e comercial que afeta mercado mundial; decisão foi aplicada em resposta a medida dos EUA contra diplomatas chineses; o governo de Pequim definiu a China como uma potência "pacífica"

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Ministro das Relações Exteriores da China Wang Yi (4ª d) conversa com o Secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo (2ª e)
Ministro das Relações Exteriores da China Wang Yi (4ª d) conversa com o Secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo (2ª e) (Reuters)

PEQUIM - A China anunciou na sexta-feira,6, a adoção de “represálias” contra os diplomatas americanos presentes em seu território, que a partir de agora devem avisar as autoridades antes de reuniões com funcionários ou especialistas.

A porta-voz do ministério chinês das Relações Exteriores, Hua Chunying, explicou que a decisão foi tomada em reação às medidas anunciadas por Washington em outubro contra diplomatas chineses nos Estados Unidos. “Pedimos mais uma vez aos Estados Unidos que retifiquem seus erros e revoguem estas medidas”, disse a porta-voz.

Washington ordenou em outubro que os diplomatas chineses notificassem o Departamento de Estado antes de qualquer contato oficial com diplomatas, autoridades locais, educadores e pesquisadores.

A administração do presidente Donald Trump afirmou que a medida foi adotada ante a impossibilidade de seus diplomatas de participar em reuniões com funcionários ou especialistas na China. Hua explicou na sexta-feira,6, que os emissários americanos devem a partir de agora informar o ministério das Relações Exteriores com cinco dias de antecedência.

O anúncio acontece no momento em que os dois países estão envolvidos em uma guerra comercial, iniciada há um ano e meio. Nas últimas semanas, as relações pioraram ainda mais, após as votações no Congresso americano de textos que criticam a política chinesa em Hong Kong e na região de maioria muçulmana de Xinjiang (noroeste).

Potência pacífica

O governo de Pequim definiu a China como uma potência "pacífica", depois que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) incluiu pela primeira vez a ascensão chinesa entre os temas de uma cúpula, afirmando que o fenômeno representava ao mesmo tempo desafios e oportunidades. Sem citar os Estados Unidos , a China assegurou que "a maior ameaça atual ao mundo é o unilateralismo e a intimidação".

No comunicado emitido ao final da cúpula realizada em Londres na terça e na quarta-feiras desta semana, os 29 Estados-membros da aliança militar ocidental afirmaram: "Reconhecemos que a crescente influência da China e suas políticas internacionais apresentam oportunidades e desafios aos quais precisamos responder juntos como uma aliança".

A reunião, que marcou os 70 anos da organização, aconteceu em meio a divergências sobre temas como as relações com a China e a Rússia e a intervenção turca na Síria. Na terça-feira, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg , disse que Pequim é acusada de realizar ataques cibernéticos contra a Europa e de recorrer à espionagem industrial, que tem "consequências para a segurança dos países da aliança".

Em resposta, a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying, disse a jornalistas que "o crescimento da potência chinesa é o de uma potência pacífica".

As relações entre os Estados Unidos e a China seguem tensas por conta de uma guerra comercial e tecnológica iniciada por Donald Trump e pelo que Pequim vê como "intromissão" americana em seus assuntos internos. Na terça-feira, a Câmara dos Deputados dos EUA aprovou uma lei que exige que o governo fortaleça sua resposta à repressão chinesa à minoria muçulmana uigur na região de Xinjiang . Segundo Pequim, a legislação pode afetar cooperação bilateral, incluindo um acordo para encerrar a guerra comercial.

Divergências na aliança

Junto à questão envolvendo a China, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan , está hoje no centro de uma das principais tensões dentro do Otan. Em outubro, ele deu início a uma ofensiva militar no território sírio contra a milícia curda YPG (Unidades de Proteção do Povo), aliada dos países ocidentais no combate ao Estado Islâmico. Em novembro, por causa da ofensiva, o presidente francês, Emmanuel Macron , chegou a dizer que a Otan estava em estado de "morte cerebral" e acusou Ancara de "às vezes trabalhar com intermediários" do EI. No primeiro dia da cúpula, Trump chamou o comentário de Macron de "insultante".

As desavenças entre os integrantes da aliança, em especial entre Trump, Macron e Erdogan, traduzem a crise de identidade que a organização atravessa. Por razões distintas, alguns de seus membros, encabeçados por Trump e Macron, consideram que a Otan está presa a uma análise geoestratégica do século XX, centrada na Rússia como inimiga, e demasiadamente lenta em sua adaptação às verdadeiras ameaças do século XXI.

Macron defende que a Europa se torne autônoma no que diz respeito à capacidade e à estratégia militar, buscando o entendimento com Moscou e Pequim e a concentração de recursos na luta contra o terrorismo. Trump, por sua vez, tenta minar a ascensão chinesa, sobretudo em tecnologia, e pressiona seus sócios a não permitirem que a companhia Huawei participe da implantação da tecnologia de suas redes de internet 5G.

Aumento de gastos

O presidente americano também defende que os parceiros na Otan precisam aumentar seus gastos com defesa e sua contribuição para a aliança — os países europeus reduziram as despesas militares depois do fim da Guerra Fria, há 30 anos. Na quinta-feira, 5, logo após voltar de Londres, ele afirmou que os EUA podem adotar medidas comerciais contra países que gastem em defesa menos do que a meta estipulada de 2% do PIB.

"Muitos países estão perto e se aproximando. E alguns não estão tão perto, e podemos fazer coisas relacionadas a comércio. Não é justo que eles recebam proteção dos EUA e não ponham dinheiro", afirmou.

No entanto, ele foi elogioso aos encontros da organização, dizendo que a Otan está "em forma muito, muito boa e as relações com outros países são realmente extraordinárias".

Leia outras notícias em Imirante.com. Siga, também, o Imirante nas redes sociais Twitter, Instagram, TikTok e canal no Whatsapp. Curta nossa página no Facebook e Youtube. Envie informações à Redação do Portal por meio do Whatsapp pelo telefone (98) 99209-2383.