Londres

Visita de Trump pode pôr eleição de Boris em risco

Presidente americano participará de cúpula da Otan no Reino Unido na semana que vem; em entrevista, Johnson disse que seria melhor se americano não se envolvesse na disputa contra Jeremy Corbyn, líder trabalhista que busca derrotar os conservadores

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
O primeiro-ministro Boris Johnson, durante entrevista coletiva na capital britânica
O primeiro-ministro Boris Johnson, durante entrevista coletiva na capital britânica (Reuters)

LONDRES — Na semana que vem, algumas horas no interior do Reino Unido poderão se transformar no maior risco para a vitória de Boris Johnson na eleição de 12 de dezembro. O primeiro-ministro irá interromper brevemente suas atividades de campanha para receber os líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em um resort com campo de golfe e spa. Apesar do ambiente paradisíaco, aqueles próximos ao premier temem que o encontro se transforme em um impasse para sua reeleição. O protagonista deste pesadelo? O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Na iminência da eleição, o presidente americano poderá se tornar a arma mais poderosa para Jeremy Corbyn, líder trabalhista que busca derrotar os conservadores — desafio difícil, considerando a diferença de 12 pontos nas pesquisas, segundo o Evening Standard. O argumento de Corbyn para reverter o cenário é simples: Johnson e Trump são almas gêmeas de extrema direita que representam, quando unidos, um risco sem precedentes para o serviço de saúde público britânico , o NHS.

Segundo o trabalhista, caso Johnson obtenha a maioria no Parlamento e consiga retirar o Reino Unido da União Europeia, o premier buscará um acordo de livre comércio com os EUA — pondo em jogo o NHS, assunto doméstico mais importante para o eleitor britânico, segundo pesquisas. Isso, Corbyn argumenta, aumentaria o preço dos remédios e arrasaria a saúde pública no país.

Risco Trump

A narrativa de Corbyn é potente com os eleitores e é levada a sério por estrategistas conservadores desde antes da campanha. A materialização de Trump em Londres na segunda-feira, onde deverá ser recebido com os já usuais protestos, também não deverá ajudá-los a 10 dias da eleição.

No privado, a alta cúpula conservadora se preocupa que Trump não siga o script e faça comentários inadequados e prejudiciais a Johnson — segundo integrantes do governo, este seria o maior risco para a vitória conservadora. Um governista disse que haverá medidas de precaução, mas, frente à impulsividade do americano, não está claro como isso seria possível.

Em uma entrevista nesta sexta-feira, Johnson disse que seria melhor se Trump não se envolvesse nas eleições durante sua visita ao Reino Unido:

"Tradicionalmente, o que nós não fazemos como aliados e amigos queridos é se envolver nas campanhas eleitorais uns dos outros", disse Johnson à rádio LBC, um dia após faltar a um debate eleitoral. "A melhor coisa para se fazer quando você tem uma amizade próxima e uma aliança entre o Reino Unido e os EUA é que nenhum lado se envolva nas eleições do outro lado".

Histórico negativo

Há boas razões para os conservadores estarem preocupados. Em junho, durante sua última visita a Londres, Trump sugeriu que o NHS seria colocado em jogo nas negociações comerciais pós-Brexit — um prato cheio para Corbyn. Após a péssima repercussão, Trump disse que o serviço de saúde não era algo que ele buscava explorar, mas o estrago já estava feito.

No dia 31 de outubro, em uma entrevista ao seu amigo Nigel Farage, líder do eurofóbico Partido do Brexit, Trump endossou o “fantástico” Boris Johnson e disse que Corbyn seria “muito ruim” para os EUA. Na ocasião, ele voltou a dizer que não queria que o NHS fosse incluído na mesa de negociação para um futuro acordo. Apenas a menção ao assunto, no entanto, foi suficiente para preocupar os conservadores.

Na quarta-feira, Corbyn divulgou 450 páginas de documentos sobre negociações realizadas entre Londres e Washington para o pós-Brexit, acusando Johnson de conduzir “negociações secretas” para “vender” o NHS . De acordo com especialistas, os documentos revelam que a ambição de Trump é, de fato, fazer um pacto que afete o preço de medicamentos para favorecer as farmacêuticas americanas, embora não haja indicações de que os negociadores britânicos tenham concordado com isso, pelo menos até agora.

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