Disputa eleitoral

Candidato de centro-direita diz estar convicto de vitória no Uruguai

Eleições no país terminaram em empate técnico e resultado oficial deverá ser anunciado na quinta ou na sexta-feira; Martínez, da governista Frente Ampla, disse que ''é preciso esperar''

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Candidato de oposição, Luis Lacalle Pou discursou domingo à noite
Candidato de oposição, Luis Lacalle Pou discursou domingo à noite (Reuters)

URUGUAI - O candidato de centro-direita nas eleições para a Presidência do Uruguai, Luis Lacalle Pou , declarou sua vitória na madrugada de ontem, 25,depois de a Justiça Eleitoral ter adiado a proclamação do resultado oficial. Lacalle Pou afirmou ter a "convicção material" de que será o novo chefe de Estado do país. Com 100% das urnas apuradas, ele obteve 48,7% dos votos (1.168.019 votos), contra 47,5% (1.139.353 votos) de Daniel Martínez , da governista Frente Ampla , de esquerda. A diferença de 1,2 ponto percentual — correspondente a 28.666 votos — fez com que a Corte Eleitoral anunciasse que o resultado oficial só será conhecido entre quinta e sexta-feira .

Ontem, no Twitter, Martínez disse que cumprimentará Lacalle Pou pessoalmente assim que for confirmada sua eleição. "Sempre respeitamos a voz do povo. O correto é esperar os resultados do tribunal eleitoral. Seja qual for, haverá um diálogo com Luis Lacalle Pou porque assim o exige nossa rica tradição democrática. Quando se confirmar que é ele o eleito, vou pessoalmente cumprimentá-lo", escreveu no Twitter.

A razão para o adiamento da proclamação do resultado é o fato de a diferença entre Lacalle Pou e Martínez ser menor do que a quantidade dos chamados "votos observados" — 35.229. São pessoas que votaram fora de sua jurisdição eleitoral ou cujo documento de identidade não corresponde ao do registro eleitoral. Como esses votos têm apuração mais lenta, pois os dados dos eleitores têm de ser confirmados antes de sua validação, a Justiça Eleitoral decidiu adiar o anúncio do resultado para quinta ou sexta-feira. Os votos anulados, 63.619, também serão revistos. De todo modo, consultorias creem que uma vitória de Martínez seria difícil, pois ele teria que receber 91% dos votos observados para reverter a vantagem de Lacalle Pou.

Pesquisas

A pequena margem entre os dois candidatos contrariou previsões das pesquisas de opinião, que indicavam uma vantagem de pelo menos cinco pontos percentuais em favor de Lacalle Pou. Ainda assim, o candidato do Partido Nacional subiu ao palco no quartel-general da campanha sinalizando que a confirmação de sua vitória seria apenas uma questão de tempo. Se sua eleição for confirmada, o candidato da centro-direita porá fim a um ciclo de 15 anos de governos da Frente Ampla.

"Temos a convicção material de que no dia 1° de março assumirá um novo governo", disse Lacalle Pou a seus partidários, referindo-se à data de posse no país. "Formalmente, saberemos isso em poucos dias. Lamentavelmente, o candidato da oposição não nos ligou para reconhecer este resultado irreversível".

Seus apoiadores chegaram a comemorar após o encerramento das votações, por volta das 20h30m de domingo. O empate técnico apontado pelas pesquisas de boca de urna, no entanto, transformou a comemoração em incerteza. O pronunciamento oficial de Lacalle Pou só teve início por volta de 0h15m, após uma reunião com líderes de sua aliança. De acordo com a imprensa local, ele esperava receber uma ligação de Martínez reconhecendo a derrota, mas isso não ocorreu.

Na noite de domingo, Martínez fez um pronunciamento para seus apoiadores por volta de 23h30m. Aos gritos de “Uruguai, Uruguai”, disse que é “preciso esperar os resultados”. Ele comemorou o fato de nenhum dos dois lados ter chegado a 50% dos votos, e de a Frente Ampla ter crescido oito pontos em relação ao resultado do primeiro turno. Disse que isso provava que "os acordos entre quatro paredes não são suficientes", referindo-se aos apoios que Lacalle Pou obteve de outros partidos conservadores.

Nesta segunda, Yamandú Orsi, assessor da campanha de Martínez e prefeito de Canelones, admitiu que "é muito provável que o presidente [eleito] seja Lacalle Pou".

"Ontem à noite, até o militante mais aguerrido sabia que era muito difícil recuperar os votos observados ou absorver essa diferença. Uma derrota sempre traz dor, mas quando vem com uma expectativa de que perderíamos por quatro pontos e quase empatamos no final é um sinal forte. O presidente que for eleito, se for Lacalle como se supõe que vai acontecer, provavelmente será eleito com a menor porcentagem da história do segundo turno", disse.

Dificuldades para a Frente Ampla

Independentemente do resultado, esta foi a eleição mais difícil para a Frente Ampla desde que chegou ao poder, em 2005. O atual mandato do presidente Tabaré Vázquez, no entanto, foi muito mais difícil do que o primeiro, de 2005 a 2010, já que a economia entrou num delicado processo de desaceleração, e este ano a previsão de crescimento é de apenas 0,6%.

Ex-prefeito de Montevidéu, Martínez fez uma campanha competitiva, apesar dos problemas que enfrenta o governo da Frente Ampla. Não chegou, no entanto, a despertar entusiasmo em setores que antes eram parte da base de respaldo à aliança governista, por exemplo, eleitores entre 35 e 50 anos do interior e, sobretudo, das regiões mais humildes do país.

Lacalle Pou, de 46 anos, selou um acordo eleitoral com outros quatro partidos — entre eles o tradicional Colorado e o Cabildo Abierto (lançado pelo ex-chefe do Exército Guido Manini Ríos) — que lhe dará o controle do Parlamento caso seja eleito. Ele prometeu ainda enviar um pacote de 300 medidas ao Congresso, incluindo iniciativas em matéria econômica e de segurança, duas das principais preocupações dos uruguaios.

A reta final do processo eleitoral uruguaio foi marcada por tensão. Manini Ríos, o ex-chefe do Exército afastado em março passado por ter acobertado militares que cometeram violações dos direitos humanos na última ditadura (1973-1985), divulgou na sexta-feira,22,um vídeo no qual defendeu que os militares não votassem pela Frente Ampla. Paralelamente, a revista Nación, da Cooperativa de Poupança e Crédito das Forças Armadas, publicou um artigo pregando a “expulsão do marxismo” do Uruguai e referindo-se à eleição de Lacalle Pou como “um novo amanhecer”.

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