Artigo

Trombetas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

Trombetas bíblicas - como conhecido de todos, o governador do Maranhão é cristão de raiz - do governo estadual estão anunciando uma espécie de apocalipse ao contrário. Em lugar de desastres cósmicos, capazes, porém, de dar fim ao mundo, ou pelo menos ao Maranhão, o anúncio é de fartura em forma de maná, aquele alimento oferecido por Deus aos israelitas, durante travessia do deserto, quando eles rumavam cheios de fé e esperança para a Terra Prometida.

Dádiva semelhante a essa é agora oferecida aos maranhenses sob a forma do alimento chamado crescimento econômico. Em todo lugar, nos blogs, nos jornais, nas redes sociais, nas rádios, nas televisões, nos bares, nos estádios de futebol, nas conversas entre vizinhos, tanto nos encontros de elevadores de seus prédios quanto por sobre os muros de separação de suas casas, ouve-se a boa nova: agora vai, todos dirão, tivemos um aumento de 5,3% no Produto Interno Bruto do Maranhão em 2017. Alguém perguntará: E 2018? Não existem ainda dados para 2018, mas este ano se revelará de crescimento ainda mais elevado, tenho certeza, quando os dados do PIB maranhense forem publicados.

Ninguém colocará dúvidas sobre a origem do novo e benvindo estado de nossa economia: os esforços conjuntos do “setor público e a iniciativa privada, na cidade e no campo”, conforme afirmou o governador em artigo recente na imprensa local, em afirmação tão genérica que não pode ser criticada ou, ao contrário, receber elogios. Mais acima, no mesmo texto, o mesmo autor saiu-se com esta: “Com PIB de R$ 89,5 bilhões, alcançamos o crescimento de 15,3%, volume maior que o registrado pela Região Nordeste, que foi de 1,6%, e pelo Brasil, que chegou a apenas 1,3%”.

Quando usa a palavra “volume”, o autor está se referindo a quê? À percentagens de 15,3%. Tanto é assim que comparação, na sequência, é feita com outras duas percentagens, 1,6% e 1,3%, referidas também como “volume”. Percentagem não mede volume de coisa alguma; indica uma fração, quando estas tomam como referência o número 100. Por exemplo, se de cada 100 reais contidos em 800 reais, tomarmos a quantia de 10 reais (dez por cem e dez por cento são mesma coisa) teremos a quantia de 80 reais, visto a quantia de oitocentos reais conter 100 reais 8 vezes. Portanto, se eu tiro a quantia de dez reais 8 vezes, fico com 80 reais no final, ou 10% de 800 reais. Nada a ver com volume. Este é o espaço ocupado pela matéria.

Mas isso não é o mais importante. Nos dois anos anteriores a 2017, houve acentuada queda no PIB do Maranhão. Em 2015, de 4,1%, e em 2016, de 5,6%. Mas o caro leitor sabe o quê? Em alguns meios de comunicação ligados ao PCdoB, partido no governo, atribuiu-se o crescimento de 5,3%, que não compensa nem metade das perdas anteriores, ocorridas na mesma administração, às ações do governo; as duas taxas negativas de antes, todavia, resultantes das políticas econômicas de nefastos resultados, implantadas pelo PT, partido aliado ao PCdoB, são debitadas às quedas na economia nacional, ou então elas nem sequer são mencionadas. Não é interessante? O Maranhão em 2017 mudou de país? Agora pertencemos à Venezuela, cuja economia terá importante ajuda maranhense, para consertar o estrago nela feito pelo socialismo do século XXI? Quando cresce, o autor foi o governo; quando o PIB cai, foi culpa dos outros. É assim agora?

O certo é isto, o PIB do Maranhão hoje está baixo de seu valor de 2014.

Lino Raposo Moreira

PhD, economista, membro da Academia Maranhense de Letras

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