Editorial

Desigualdade social no Brasil

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

Levantamento divulgado recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que o retrato da desigualdade social no Brasil pode ser pior do que mostram os dados oficiais. A diferença entre os extremos das classes de renda do país seria quase o dobro da apurada pelas pesquisas oficiais.

Com base nesse levantamento, o IBGE estima que o abismo de renda da classe A para a classe D/E é de 21,4 vezes - ou seja, os mais ricos ganham 21,4 vezes mais do que recebem os mais pobres. A consultoria, por sua vez, faz um exercício por recorte de rendas com base em dados da Pnad e da Receita Federal. Na simulação, a consultoria Tendências usa dados da Pnad para medir a renda da população que ganha até cinco salários mínimos. Mas, para rendas acima desse patamar, utiliza dados declarados no Imposto de Renda e que são anualmente recebidos pela Receita Federal. Com esses critérios, a diferença de renda entre a classe A e a D/E sobe para 38,8 vezes.

A diferença nos resultados acontece porque a Pnad tem como base entrevistas pessoais e, portanto, nem sempre consegue mensurar a renda dos mais ricos se uma parte dos entrevistados não declarar todos os ganhos obtidos - como bônus, renda de aluguel e dividendos, por exemplo.

Com os dados do Imposto de Renda, esse tipo de problema é superado. O cálculo da consultoria considera os dados da Pnad para as faixas mais baixas porque essa fatia da população é, em grande parte, isenta da declaração do IR.

Ainda de acordo com o IBGE, as mulheres pretas ou pardas continuam na base da desigualdade de renda no Brasil. No ano passado, elas receberam, em média, menos da metade dos salários dos homens brancos (44,4%), que ocupam o topo da escala de remuneração. Atrás deles, estão as mulheres brancas, que possuem rendimentos superiores não apenas aos das mulheres pretas ou pardas, como também aos dos homens pretos ou pardos.

Estudo aponta ainda como a desigualdade está presente na distribuição de cargos gerenciais: somente 29,9% deles são exercidos por pessoas pretas e pardas. Quanto mais alto o salário, menor é o número de pessoas pretas e pardas que ocupam esses postos.

Pretos e pardos, independentemente do nível de escolaridade, continuam recebendo bem menos que os brancos no Brasil. No ano passado, o rendimento médio mensal das pessoas ocupadas brancas (2.796 reais) foi 73,9% superior ao das pretas ou pardas (1.608 reais). Os brancos com nível superior completo ganhavam por hora 45% a mais do que os pretos ou pardos com o mesmo nível de instrução.

O recorte em categorias de rendimento, segundo o tipo de ocupação, revelou também que, tanto na ocupação formal, como na informal, as pessoas pretas ou pardas receberam menos do que as de cor ou raça branca. A diferença salarial entre os dois grupos é, de acordo com o IBGE, um padrão que se repete, ano a ano, na série histórica disponível.

A desigualdade de rendimento em favor da população branca ocorreu, segundo a pesquisa, com intensidades distintas nas Grandes Regiões brasileiras em 2018, mas se manteve tanto nos Estados que apresentaram os menores rendimentos - Maranhão, Piauí e Ceará -, quanto nos que registraram os rendimentos mais elevados - Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro.

Além de ganharem menos, pretos ou pardos representam cerca de dois terços da população desocupada - que passa de 12milhões de pessoas - e 66,1% do grupo dos subutilizados, que inclui, além dos desocupados, os subocupados e a força de trabalho potencial. Os postos informais também são mais ocupados por esse grupo. Enquanto 34,6% dos trabalhadores brancos estavam em empregos informais, entre os pretos ou pardos o percentual é maior, de 47,3%.

Em relação à distribuição de renda, o levantamento mostra que os pretos ou pardos representavam 75,2% da camada mais pobre do país (formada pelos 10% com menos rendimentos). Dentre os 10% mais ricos, eram apenas 27,7%.

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