MANIFESTAÇÕES

Fim de semana marcado por mobilizações na Av. Litorânea

Ações, promovidas por diferentes grupos, buscaram promover a conscientização da população e chamar atenção do poder público para o feminicídio e os acidentes de trânsito ocorridos no estado

MONALISA BENAVENUTO / O ESTADO

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

[e-s001]Um fim de semana de conscientização e alerta foi registrado na orla de São Luís. Na tarde de sábado (16), mobilizações de combate ao feminicídio marcaram o encerramento da III Semana Estadual de Combate ao Feminicídio. Já na manhã de domingo (17), uma passeata foi promovida pela campanha SOS Vida Pela Paz no Trânsito, em alusão ao Dia Mundial em Memória às Vítimas de Acidentes de Trânsito - lembrado a cada terceiro domingo de novembro -, com o intuito de chamar atenção da população e do poder público para as estatísticas alarmantes sobre acidentes ocorridos em ruas, avenidas e rodovias do Maranhão.

Combate ao Feminicídio
Mais de 200 casos de feminicídio ocorreram no Maranhão desde março de 2015, quando a lei que qualifica assassinatos de mulheres cometidos em razão do gênero foi sancionada no Brasil, conforme dados do Departamento de Feminicídio da Secretaria de Segurança Pública do Maranhão (SSP-MA). Em 2019 já foram registrados 47 feminicídio, nove deles na Região Metropolitana de São Luís. Os números superaram os de todo o ano passado, que se encerrou com 45 ocorrências.

Os números alarmantes e a necessidade de conscientização da população, motivaram a criação da Semana Estadual de Combate ao Feminicídio que, neste ano, chegou à sua 3ª edição com promoção de seminários, palestras e orientação sobre o crime e o que é preciso ser feito para reduzir as ocorrências. Como parte da programação, o projeto levou à orla de São Luís, neste sábado, centenas de pessoas, órgãos estatais e projetos vinculados à sociedade civil com o objetivo de alertar a população, conforme destacou a diretora da Casa da Mulher Brasileira, Suzan Lucena.

“Esse é um crime que acontece dentro das nossas casas. As vítimas de feminicídio são assassinadas, na maioria das vezes, por pessoas que são do seu convívio, maridos, ex-companheiros, pais dos seus filhos. Trazer esse debate às ruas é fundamental para fazer com que a sociedade visibilize cada vez mais esse crime e, por meio da mudança de pensamento da sociedade, a gente possa evitar tanta violência contra a mulher, tantos feminicídios”, apontou Lucena.

De acordo com a delegada Vivian Fontenelle o feminicídio pode ser resultado da falta de informação, pois, muitas vezes é antecedido por outros tipos de agressões, não havendo, de fato, violência física, o que dificulta a identificação e o reconhecimento de vítimas e agressores. Por isso, segundo ela, é essencial a reeducação e conscientização de meninas e meninos, homens e mulheres para que possam buscar ajuda caso passem por situações de violência ou presencie tais crimes.

“O feminicídio não é um problema de segurança pública. Só se vai diminuir esses números quando houver uma mudança cultural. O único fator capaz de mudar essa realidade é a educação e é por isso que, além do trabalho repressivo que fazemos, como policiais, civis, de investigar, indiciar e prender os autores desses crimes, fazemos o trabalho preventivo, que é justamente dar informação e divulgação desse tema, dizendo para as mulheres que elas não devem aceitar nenhum tipo de violência, seja ela física, moral, psicológica, patrimonial. Além disso, a sociedade, de forma geral, precisa compreender que em briga de marido e mulher se mete a colher sim e também se mete as algemas”, alertou.

Vítimas de feminicídio
A dor sentida pela família de Mariana Menezes de Araújo Costa Pinto que, em 2016, foi abusada sexualmente e assassinada pelo cunhado, Lucas Porto, é transformada em força para lutar por tantas outras vítimas, exigindo justiça e orientar a população sobre o crime, como contou a irmã Carolina Costa, hoje membro do grupo Somos Todos Mariana, que atua em combate aos crimes de feminicídio.

“Vir às ruas e expor essas estatísticas é uma forma de pedir que todo mundo esteja presente, para unir as forças, para que esses números sejam reduzidos, porque a gente não aguenta mais chorar pela dor e pela saudade da minha irmã, no meu caso, e de tantas outras famílias que passam, diariamente, por esta mesma situação, por essas tragédias. É uma forma, também, de pedir ao Poder Judiciário para que esses casos de crimes contra as mulheres tenham celeridade, porque, no caso da Mariana Costa, que já faz três anos, o autor nunca foi julgado e nós aguardamos que, não só ele, mas todos os agressores e assassinos de mulheres do nosso estado sejam condenados”, declarou.

Para Jaqueane Lima Diniz que, há seis meses perdeu a prima Elaine Ingrid Diniz, assassinada por seu vizinho, que nutria sentimentos não correspondidos pela vítima, ir às ruas é uma maneira de lembrar a sociedade que, enquanto alguns costumes forem mantidos, todas as mulheres permanecerão vulneráveis a este tipo de crime.

“Nós estamos aqui para lutar por todas as mulheres, para que outras pessoas não passem pelo que nós passamos, pois é uma dor horrível que não desejamos a ninguém. Esse é um crime que nunca esperamos que aconteça conosco. A gente vê na casa do vizinho, mas acha que não chegará na nossa. Esse ano mais de 40 mulheres foram vítimas de feminicídio. Nossa prima é mais uma, mas esperamos que tenha um basta nisso”, ressaltou.

[e-s001]Passeata da Campanha SOS Vidas
No Dia Mundial em Memória às Vítimas de Acidentes de Trânsito, lembrado ontem, uma passeata foi realizada na Avenida Litorânea, pela Campanha SOS Vidas Pela Paz no Trânsito, em parceria com entidades públicas e privadas, com o intuito de chamar atenção da sociedade civil e órgãos estatais para as estatísticas de mortes no trânsito. Centenas de familiares e vítimas de acidentes fizeram parte da manifestação.

Em sua 9ª edição, a mobilização, iniciada por volta das 8h, contou com carreata, passeata com panfletagem, exibição de faixas e ‘motocicletada’ dos clubes de motos organizados. Além disso, também foi feita uma homenagem às 79 vítimas de acidentes de trânsito ocorridos em São Luís no ano passado, representadas por cruzes e voluntários deitados em um tapete preto estendido no calçadão da avenida e, também, exposição de um veículo envolvido em abalroamento. De acordo com Lourival Cunha, presidente da campanha, a ideia era, além da conscientização, cobrar por investimentos em educação de condutores de veículos e pedestres.

“A gente vem aqui clamar às autoridades, à sociedade civil, para que invista mais na solução da violência no trânsito, que é um investimento em educação, fiscalização mais rigorosa e ampliada e, também, na infraestrutura. Trouxemos um carro avariado após um acidente, faixas com frases chamando atenção da população para as estatísticas de acidentes de trânsito, mostrando que a educação para o trânsito é algo fundamental da pré-escola ao ensino superior, enfim. É o momento para chamar atenção das pessoas e das autoridades. As autoridades, entendemos que podem fazer mais do que estamos fazendo e a sociedade pode, também, atuar para modificar esta realidade ainda cruel”, apontou Cunha.

Nas estradas maranhenses os números já foram de, aproximadamente, 300 mortes por ano, e, após a intensificação de ações punitivas e orientação à população, reduziram consideravelmente, chegando à metade disso. Mas, de acordo com Antônio Noberto, inspetor da Polícia Rodoviária Federal do Maranhão (PRF-MA), os dados relacionados a acidentes com feridas nas rodovias ainda é preocupante.

“O Maranhão é um estado que, apesar de ter muitos acidentes graves em suas rodovias, têm apresentado quedas, a cada ano, no número de óbitos. Por outro lado, a quantidade de feridos tem sido muito grande, infelizmente, e isso se dá porque os veículos costumam viajar com mais passageiros do que está apto. Nós acreditamos que a redução de vítimas fatais deve-se à conscientização da população, que houve a imprensa, que nos ajuda a divulgar e o trabalho da PRF em políticas públicas e, por isso, chamamos atenção para que colaborem no desafio de reduzir, de fato, o número de acidentes e feridos”, frisou Noberto.

Vítimas do trânsito
Segundo dados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), vinculado à Secretaria de Estado da Saúde (SES), mais de 2.190 pessoas perderam as vidas em acidentes de trânsito entre janeiro de 2018 e setembro deste ano no Maranhão, dados que geram preocupação, principalmente entre aqueles que já sentiram na pele a dor física e emocional dessas ocorrências, como contou a funcionária pública Audilene Monteiro que perdeu o esposo e tornou-se cadeirante após um grave acidente ocorrido na Serra dos Carajás, no Pará, em 1992.

“Em um mesmo acidente me tornei cadeirante e perdi meu esposo em circunstância da imprudência do motorista que estava alcoolizado. Eu estou aqui, hoje, no luto. Luto pelo meu esposo, luto por eu ter me tornado uma pessoa com deficiência e muitas outras consequências graves e sérias que esse acidente trouxe a minha vida e, se eu pudesse voltar atrás para mudar alguma coisa, seria que as leis fossem mais severas e mais conscientização da sociedade, porque, infelizmente, as pessoas brincam muito na direção e atingem quem não tem nada a ver com isso”, declarou.

Números

47 feminicídios ocorreram no Maranhão, este ano
9 feminicídios ocorreram na Região metropolitana de São Luís, este ano
45 feminicídios ocorreram no Maranhão, em 2018
200 feminicídios ou mais, aconteceram no Maranhão, desde 2015

44 acidentes de trânsito culminaram em morte este ano em São Luís (janeiro a junho)
830 pessoas morreram em acidentes de trânsito no Maranhão de janeiro a setembro deste ano
398 pessoas morreram em acidentes de motocicleta no Maranhão, do total de 830, até setembro
1.360 pessoas morreram em acidentes de trânsito no Maranhão em 2018

Manifestações na Av. Litorânea

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