Os animais agonizam

Mais de 40 espécies estão ameaçadas de extinção no litoral maranhense

Recente caso de derramamento de óleo no mar chama a atenção da sociedade, porém animais aquáticos estão ameaçados de sumir há mais de uma década

Thiago Bastos / O Estado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

[e-s001]A crise ambiental instaurada no país, mais especificamente no litoral nordestino, desde agosto abriu novamente a agenda de discussões acerca das políticas públicas de preservação e conservação das espécies vegetais e, principalmente, animais. O Maranhão também foi atingido, ainda que em menor teor em relação a outros estados, com o acidente e, até o fechamento desta edição, dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) apontavam que duas amostras de tartarugas marinhas encontradas na Ilha dos Poldros e em Alcântara foram enquadradas no subtipo “fauna oleada”, ou seja, atingida pela substância considerada tóxica.

Apesar de aparentemente o impacto do óleo ter menos elementos de nocividade na orla maranhense, em comparação a outros estados, diversos fatores externos e ligados ao instinto predatório humano contribuem para um dado alarmante. Levantamento feito por O Estado, com a colaboração do Departamento de Oceanografia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), aponta que mais de 40 espécies aquáticas no estado (entre tartarugas, tubarões e raias) estão ameaçadas de extinção.

Várias razões são apontadas para o cenário negativo, dentre elas, a pesca involuntária realizada em alguns trechos do litoral sudeste e oeste do estado, além do hábito de retirar esses animais dos mares para consumo alimentício ou para venda de partes do corpo do animal. O país é considerado, no mercado internacional, um dos principais consumidores da carne de tubarão, o que contribui para o declínio destes animais, especialmente no mar aberto. Dados apontam que o Brasil é o 11º colocado mundial na captura de tubarões.

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Na média, o quilo de carne do tubarão também é um atrativo, já que o valor do alimento é comercializado, em média, por R$ 25 a R$ 30 no mercado. Considerando somente os tubarões, de acordo com dados do Departamento de Oceanografia da UFMA, pelo menos 20 espécies estão ameaçadas na orla maranhense. Além do Urumaru, do tubarão Boca Redonda (ou Cabeça Chata) e do Tintureira (ou Tigre) em maior proporção, outras espécies como Tubarão-canejo, Tubarão-sebastião, Cação-flamengo, Tubarão Lombo Preto, Cação-tabogi, Cação-frango, Cação-figurinho, Tubarão martelo também integram a lista.
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Segundo a estudante Héllida Negrão, do curso de Oceanografia da UFMA, a captura involuntária desta e de outras espécies de tubarão no litoral do estado é feita com a colaboração de um instrumento comum na pesca de arrasto chamado espinhel (formado por uma linha comprida, com vários anzóis). De acordo com a aluna – que também apronta um projeto de pesquisa acerca destas e de outras espécies – o elemento atrativo aos tubarões é uma isca. “Como eles têm um instinto predatório, pelo cheiro em especial estes animais são atraídos e são capturados”, disse.

Além do objetivo alimentar, algumas espécies, como o quati, também são mutilados com a retirada em especial das barbatanas. Após a retirada da parte do corpo dos tubarões, estes são novamente lançados na água. “Trata-se de um processo oriundo da década de 1980 e que vem se agravando ao longo dos anos. Estes materiais são usados como peças de artesanato, daí o valor dado de sua pesca”, afirmou a estudante.

Estes e outros dados foram divulgados em estande montado no Multicenter Sebrae, no Cohafuma, durante a promoção do XIX Senabom (Seminário Nacional de Bombeiros) e que ocorreu de 12 a 14 de novembro deste ano. Além dos tubarões, também foi expresso o cenário negativo de preservação das chamadas raias. Além da raia-gaveta ou jamanta, também está ameaçada no litoral do estado a chamada raia-viola e a raia-borboleta.

Dados apontam que espécies de raias marinhas estão ameaçadas. No Maranhão, com base em levantamento da UFMA, cerca de 18 tipos de equipamentos de pesca são usados para a captura destes e de outros animais. “Nos anos 1990, cerca de 60% da captura do pescado no Maranhão era basicamente em busca dos tubarões e raias”, disse o professor do departamento de Oceanografia e Limnologia da UFMA, Jorge Luiz Nunes.
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Segundo o docente, a frota pesqueira do Maranhão seguiu o padrão nacional, cresceu e permanece sendo uma das maiores e mais produtivas do país. “As estimativas de produtividade máxima sustentável excediam a captura anual, caracterizando o estado como um dos maiores produtores de pescado nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, embora sua frota pesqueira fosse majoritariamente artesanal”, afirmou Nunes.

SAIBA MAIS

O curso de Bacharelado em Oceanografia é presencial e oferecido pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e é resultante de uma alteração no curso de Ciências Aquáticas, criado pela Resolução nº 33/00 do Conselho Universitário da UFMA e reconhecido pela Portaria SESU/MEC nº 169, de 23 de fevereiro de 2001.

RISCOS NO CONSUMO DO TUBARÃO

Apesar de valorizado na gastronomia, o que interfere nos índices de captura, os tubarões são apontados pelos especialistas (nutricionistas em geral) como responsáveis pela contaminação do organismo. Por sua posição no topo da cadeia alimentar (ou seja, um predador de outras espécies), o tubarão sofre um processo que os pesquisadores apontam como “bioacumulação”, ou seja, quando o animal agrega metais pesados, como mercúrio e arsênio, presentes em organismos que, preliminarmente e em outras fases da cadeia alimentar, serviram de combustível.
Estes exemplos de metais podem causar, se penetrados no corpo do tubarão e se este for consumido em seguida pelo homem, danos permanentes e cerebrais. Um dos importantes parâmetros de consumo de mercúrio é dado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). De acordo com a entidade, é possível absorver até 0,5 miligrama deste metal por quilo, sem que haja qualquer risco para o organismo. Esta concentração, na maioria dos casos, é inferior ao que é encontrado comumente em uma peça de tubarão própria para consumo.

TUBARÕES AMEAÇADOS

Espécies
Urumaru
Tubarão-canejo
Tubarão-sebastião
Cação-flamengo
Tubarão Lombo Preto
Tubarão Boca Redonda/Cabeça Chata
Sacuri da galha preta
Cação-Azul
Cação-junteiro
Cação-abudo
Fidalgo
Tintureira/Tigre
Cação-tabogi
Cação-frango
Cação-figurinho
Tubarão martelo (Sirizeira, Rudela, Boneta, Panã Branco, Panã Preto)

Fonte: Grupo de Estudo de Elasmobrânquios da Universidade Federal do Maranhão

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