Violência

Protestos em Hong Kong têm dia violento e segunda morte é confirmada

Homem de 70 anos foi atingido na cabeça por tijolo na quarta-feira; estudantes entrincheram-se em universidades e improvisam armas

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Manifestantes constroem barricada improvisada na Universidade Chinesa de Hong Kong
Manifestantes constroem barricada improvisada na Universidade Chinesa de Hong Kong (Reuters)

HONG KONG — Os protestos antigoverno que tomam as ruas de Hong Kong há quase 24 semanas tiveram um de seus dias mais violentos ontem, 14, com a confirmação de uma morte e ao menos 49 feridos. Estudantes com arcos e flechas e coquetéis molotov entricheiraram-se em universidades , enquanto rodovias foram fechadas por manifestantes que entraram em confronto com a polícia.

Segundo o serviço hospitalar da cidade, um faxineiro de 70 anos morreu nesta quinta-feira, um dia após ser supostamente atingido na cabeça por um tijolo durante confrontos entre manifestantes e forças de segurança — a polícia não confirma a causa da morte. Apenas ontem, 10 mulheres e 39 homens ficaram feridos — incluindo um bebê de 48 dias. Dezesseis deles continuam internados, mas não correm risco de vida.

Em Brasília para a cúpula do Brics , o presidente chinês, Xi Jinping, disse que as “atividades violentas ilegais” em Hong Kong “pisotearam severamente o Estado de Direito e a ordem social” e “desafiam seriamente o princípio básico do modelo ‘um país, dois sistemas’”.

Xi disse ainda que confia em Carrie Lam, a chefe do Executivo local, e que o mais urgente é "pôr um ponto final na violência" em Hong Kong.

Mesmo fazendo parte da China, a ex-colônia britânica tem autonomia política, judicial e administrativa — liberdades que os manifestantes julgam estar ameaçadas pela política linha-dura que Pequim tenta impor ao território.

Trincheiras e arsenais

Nesta quinta, milhares de estudantes se entricheiraram em diversas universidades, com pilhas de mantimentos, tijolos, coquetéis molotov, arcos e flechas, dardos e outras armas caseiras. Diversas universidades e escolas da cidade anunciaram o cancelamento das atividades em seus campi até o final do ano e pediram para que seus alunos se mantivessem longe de suas instalações.

Segundo a polícia, que na terça,12, disse que a cidade está " à beira do colapso total ", universidades locais se transformaram em “fábricas de armas e arsenais” de arcos, flechas e catapultas medievais. Objetos como colchões, cadeiras e bambus também ganharam novas utilizações na construção de barricadas. Há ainda armadilhas improvisadas nas ruas, para impedir o avanço de veículos policiais.

Na Universidade Politécnica, de onde flechas foram lançadas nesta manhã, estudantes com máscaras de gás praticavam arco e flecha e o lançamento de coquetéis molotov em uma piscina com água pela metade. Caixas de explosivos artesanais e catapultas foram colocadas estrategicamente em pontos de onde é possível ver a rua. A situação é similar na Universidade Chinesa, que foi palco de confrontos na quarta-feira .

Enquanto isso, milhares de manifestantes voltaram a ocupar os distritos financeiros e comerciais, onde o metro quadrado é um dos mais caros do mundo. Homens e mulheres com máscaras e vestidos de preto construíram barricadas e bloquearam as principais ruas da região, além de rodovias, pontes e viadutos de acesso a áreas centrais.

A polícia utilizou gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar protestos em diversos pontos da cidade, incluindo a entrada do túnel Cross-Harbour, que liga a ilha de Hong Kong a Kowloon. Lançando coquetéis molotov, os manifestantes mantinham o túnel fechado até o final da noite (início da tarde, horário de Brasília). Ataques a estações de metrô e negócios relacionados à China continental também foram registrados.

O jornal estatal chinês Global Times chegou a tuitar na manhã de ontem,13, que o governo pretendia declarar um toque de recolher durante a semana, mas deletou a postagem minutos depois. Segundo o governo da cidade, os rumores são "completamente infundados".

Escalada na violência

Os protestos que tomam a cidade começaram em junho, em oposição a um já cancelado projeto de lei que permitiria a extradição de cidadãos da cidade para a China continental. Desde então, os manifestantes passaram a defender novas demandas que desafiam ainda mais a soberania chinesa, como um inquérito independente sobre a violência policial e a libertação de todos os presos, que já ultrapassam três mil.

Os episódios de violência, no entanto, vêm se agravando progressivamente desde a morte do estudante Chow Tsz-lok, no último dia 8. As circunstâncias da morte do jovem de 22 anos ainda não estão claras, mas acredita-se que ele tenha caído do terceiro andar de um edifício-garagem enquanto fugia da polícia. Desde então, um manifestante foi baleado à queima-roupa pela polícia e outro, queimado vivo .

O governo chinês não dá quaisquer sinais de que pretende ceder aos manifestantes. Apesar das declarações de apoio a Lam e ao governo local, representantes de Pequim chegaram a ameaçar utilizar o Exército Popular da Libertação e não poupar forças para conter os manifestantes. Desde 1997, data da devolução para a China, há cerca de 12 mil soldados chineses em quartéis da cidade.

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