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Antônio Vieira: o injustiçado

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22

A história dos jesuítas comumente contada, dificilmente fala de Antônio Vieira, destacado religioso e a maior personalidade do século XVII não só na Companhia da Jesus mas em toda a Igreja Católica. Como sabemos, a Ordem dos jesuítas sempre foi envolvida com as turbulências políticas e as fofocas das diversas cortes da época.

A Companhia de Jesus foi fundada pelo espanhol Santo Inácio de Loyola, em 1540, em Paris, cujos membros eram conhecidos como jesuítas. Instalou-se no mundo inteiro dedicando-se à ação evangelizadora da igreja católica e educação de qualidade transmitindo uma concepção cristã do ser humano.

Pouco dizem os historiadores que os jesuítas foram os maiores educadores religiosos daquele tempo e fizeram, também, um fantástico trabalho missionário pelo mundo afora. Eles eram comprometidos com a defesa e propaganda da fé católica. Em todos os lugares onde missionavam, como na Ásia, na África e nas Américas, pretendiam salvar o mundo.

Antônio Vieira destacou-se com seu brilhantismo no Colégio dos Jesuítas em Salvador, como professor de Teologia e no colégio de Olinda. Foi um dos jesuítas da Companhia de Jesus que mais trabalhou como professor nos colégios jesuítas no Brasil e em Portugal, mesmo durante o período em que servira diretamente ao rei Dom João IV.

Quem estuda Antonio Vieira não pode deixar de ressaltar suas qualidades e seu talento, inclusive quanto à propagação da fé cristã e sua vocação missionária. Ele foi ímpar na defesa dos índios, escravos e dos judeus. Foi um baluarte dos direitos humanos e um dos primeiros a falar da convivência dos judeus e dos cristãos. Pioneiro também foi o defensor da Amazônia, quando sugeriu que a catequese dos índios seria a única maneira de conquistar a região.

Embora sua personalidade fosse contraditória, Vieira foi um catequista de indígenas, orador das cortes europeias, professor de Humanidades, Filosofia e Teologia, diplomata nato, pensador e homem de larga visão do mundo e do Estado em seus diversos papéis.

Quanto à religião católica, foi edificante seu zelo pela fé, deixando-nos um legado religioso inigualável. Sua criatividade foi sempre exuberante, calcada na Teologia de Santo Tomás de Aquino e nos textos evangélicos de onde surgiram suas metáforas e alegorias. Para Vieira milagres quando são feitos devagar são obras da natureza. Obras da natureza feitas às pressas são milagres.

Não basta dizer o que expressou Fernando Pessoa que o chamou de “Imperador da Língua Portuguesa”. Vieira foi portador de um discurso religioso bastante engenhoso em nome da fé cristã e da salvação dos homens. Seus sermões são obras de educação, talvez as primeiras que tivemos. A obra de Vieira é de formação humanitária. Seus sermões foram feitos para educar, pois ele foi o nosso primeiro educador, e transformaram a Igreja Católica. Vieira foi um homem engajado a seu tempo, com o um bom professor, e inconformado com a justiça social, como os santos.

Dele devem se orgulhar a Companhia de Jesus e a Igreja Católica. O padre Antônio Vieira não é canonizado como santo da Igreja Católica, mas consta no calendário de santos da Igreja Anglicana.

Aldy Mello

Ex-reitor da UFMA e do CEUMA, fundador da ALL e membro efetivo do IHGM

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