Contra a mulher

Violência: 47 casos de feminicídio registrados no Maranhão este ano

De todas as ocorrências deste ano, nove foram aconteceram na região metropolitana de São Luís. Na Grande Ilha, sete agressores foram presos e dois cometeram suicídio após praticarem o crime

Nelson Melo

Atualizada em 11/10/2022 às 12h22
Jaqueline Rodrigues foi morta a golpes de faca pelo ex-namorado em Trizidela do Vale
Jaqueline Rodrigues foi morta a golpes de faca pelo ex-namorado em Trizidela do Vale (Trizidela feminicídio)

No Maranhão, já foram registrados 47 feminicídios em 2019. Destes, nove aconteceram na região metropolitana de São Luís, segundo dados divulgados pelo Departamento de Feminicídios da Superintendência de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP). Os números superaram o saldo de todo o ano passado, que fechou com 45 casos. As estatísticas apontam que a quase totalidade das vítimas não procurou ajuda do Estado ou de qualquer outra instituição.

Os números foram divulgados pela delegada Viviane Fontenelle, titular do Departamento de Feminicídios, durante a abertura da “III Semana Estadual de Combate ao Feminicídio”, que acontece até o dia 16 de novembro, com programação variada. De acordo com ela, dos 47 casos registrados no Maranhão em 2019, 32 agressores foram presos no interior. No entanto, seis autores permanecem foragidos. Já na Grande Ilha, dos nove crimes contabilizados até agora, sete suspeitos foram capturados e dois cometeram suicídio logo após matarem as mulheres.

Para a delegada, é importante denunciar o agressor logo no primeiro ato que indique uma alteração de comportamento. “Tem que ficar de olho nos sinais que simbolizam a violência, que não é apenas física. Ela ocorre em várias instâncias, como a patrimonial, moral, sexual e psicológica. A mulher não pode esperar a violência física acontecer, pois os demais tipos de conduta podem desencadear algo mais grave”, enfatizou Viviane Fontenelle.

A delegada frisou que a vítima das agressões deve procurar ajuda o mais rápido possível, para que a mulher possa sair com segurança da situação abusiva. “É importante que nos procure, na Casa da Mulher Brasileira, onde há uma rede de proteção às mulheres”, disse a titular do Departamento de Feminicídios.

Ausência de denúncias

A coordenadora das Delegacias de Atendimento e Enfrentamento à Violência contra a Mulher (Codevim), delegada Kazumi Tanaka, esclareceu que a maioria das mulheres que passaram por uma situação de violência no Maranhão não buscou ajuda estatal, ou não procurou auxílio de alguma organização que atue nesse enfrentamento. “Temos que levar essa informação, fazer com que ela acredite, antes que uma situação pior aconteça”, destacou a delegada.

No início deste ano, inclusive, a fim de combater e prevenir as agressões, a Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça do Maranhão (CEMULHER/TJMA) se reuniu com a Codevim, a 2ª Promotoria de Justiça da Defesa da Mulher de São Luís e a 2ª Vara Especial de Combate à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. No encontro, foi debatido o aperfeiçoamento de estratégicas para o aprimoramento do uso de Formulários de Riscos no Maranhão.

O formulário é uma ferramenta recomendada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que tem o objetivo de identificar com mais eficiência e agilidade os riscos aos quais as mulheres em situação de violência doméstica e familiar estão expostas.

Alguns casos

Dezenas de municípios maranhenses registraram casos de feminicídio este ano. Um dos casos ocorreu em Itapecuru-Mirim, onde Taynara Cristina, de 23 anos, foi morta pelo companheiro, Francisco Linhares. De acordo com a Polícia Militar, o casal estava em um bar quando iniciou uma discussão motivada por ciúmes. Após o crime, o autor fugiu do local. Ele foi preso poucos dias depois, na zona rural de Cantanhede.

Taynara Cristina e Francisco Linhares estavam juntos por cerca de três anos. Segundo familiares da vítima, ambos sempre brigavam por conta dos ciúmes do companheiro. Outro caso aconteceu na cidade de Estreito, na zona rural do município, onde Dayara Maia Ferreira, 25, foi espancada com um pedaço de pau na cabeça e depois levou um tiro que atravessou o crânio. O autor foi o próprio marido, Vilson Marinho, que praticou o crime na frente do filho de sete anos do casal.

Em São Luís, no mês de outubro, houve a morte de Dayane Christina Oliveira Nunes, 33, em um condomínio localizado na Avenida dos Franceses, no bairro Outeiro da Cruz. Ela foi morta por Evaldo Lima Sampaio, então namorado da vítima, que, após anunciar que iria se apresentar na SHPP, cometeu suicídio ao atirar na própria cabeça. Evaldo não resistiu no Hospital Municipal Djalma Marques (Socorrão I).

Em Trizidela do Vale, na região do Médio Mearim, Jaqueline Rodrigues da Silva foi morta a golpes de faca pelo ex-namorado, Ivan da Silva Sousa, o “Vandinho de Mossoró”. Ela foi surpreendida pelo autor quando estava em um bar, acompanhada de amigos, para comprar cigarros. A vítima foi atingida por golpes de faca no abdômen e nas costas e ainda foi levada com vida ao hospital, mas não resistiu na unidade de saúde de Peritoró.

O ex-marido da vítima tentou fugir, mas foi cercado por uma multidão, que o agrediu com diversas pauladas, socos e pontapés.

Semana de prevenção

A “III Semana Estadual de Combate ao Feminicídio” começou nesse domingo, na Praça Benedito Leite, Centro Histórico de São Luís. A abertura aconteceu durante a realização da tradicional “Feirinha São Luís”. Com o tema “Por uma Vida Digna”, o evento, que será encerrado no próximo dia 16, ofereceu várias atividades para as mulheres, como maquiagem, massagens, tratamento nos cabelos e orientações sobre saúde.

Também foi montado um grande estande, onde foram entregues panfletos alertando sobre a violência contra as mulheres. “É importante que repliquemos experiência dos anos anteriores, para levarmos informações à população, a fim de prevenir o feminicídio acima de tudo”, salientou a delegada Kazumi Tanaka.

Segundo a delegada, no decorrer desta semana, ocorrerão palestras e visitas à Casa da Mulher Brasileira. Na quarta-feira, 13, quando será comemorado o Dia Estadual de Combate ao Feminicídio, ocorrerá uma programação especial na Praça Nauro Machado, Centro Histórico de São Luís, a partir das 17h30. O encerramento será às 16h30 do dia 16, com uma caminhada na Avenida Litorânea.

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